Historia de Sevilha Completa

*** Sevilha ***
História Completa

A cidade recebeu influência de vários povos ao longo dos séculos, por isso, tem um rico legado histórico e arquitetônico, com um centro histórico riquíssimo do qual faz parte a terceira maior catedral no mundo. 

História de Sevilha

A origem de Sevilha ainda hoje é um pouco desconhecida. No entanto, como tantas outras cidades, tem as suas próprias lendas: há quem a associe com a mítica Tharsis, ainda que a teoria mais amplamente aceita é a de que foi fundada pelo próprio Hércules que, mais tarde, a cedeu ao seu filho, Hispano. Deste fato terá surgido o termo "hispalis". Segundo a versão mais popular, a cidade foi fundada pela tribo ibérica dos turdetanos que habitavam no vale do Guadalquivir, e que chamaram "Spal" ou "Ispal" ao povoado que criaram numa ilha do rio.

Posteriormente, foi povoada pelos fenícios, pelos gregos e pelos cartagineses. Em 205 a.C., Sevilha foi usurpada dos cartagineses pelos romanos durante a Segunda Guerra Púnica. Durante dois séculos, participou na intrincada história que a região viveu até que no ano 43 a.C., foi tomada por Júlio César, que mudaria o seu nome para Iulia Romuela, ou Romula, chegando a ser a cidade mais importante da Hispania Bética, uma das três províncias romanas na península espanhola. Uma prova da sua importância é a o fato de que, com a chegada do cristianismo, o Imperador Constantino, o Grande, lhe concedeu sede episcopal, uma das cinco em que estava dividida toda a Hispânia.

 Ruínas romanas em Itálica, Sevilha

Após a queda de Roma, a cidade foi ocupada por vândalos silingos, até que foram expulsos pelos visigodos, que a converteram numa das capitais do seu reino. Durante o reinado dos visigodos, Sevilha sofreu assaltos, rebeliões, foi usurpada e até foi palco de assassinatos como o "jantar das velas", um dos fatos mais memoráveis e que passaria a fazer parte da história da cidade. Durante um banquete, os nobres sevilhanos insatisfeitos com o governo, arquitetaram um plano que culminou com o apagar das velas e aproveitaram a escuridão para assassinar o rei godo Teudiselo.

Apesar de a capital goda ter se trasladado a Toledo, a importância cultural de Sevilha se manteve com dois importantes personagens, São Leandro e São Isidoro. Santo Isidoro sucedeu a Leandro no Arcebispado da Sé de Sevilha, numa época de grandes transformações e desagregação política e ambos contribuíram para que houvesse uma integração harmoniosa entre os vários povos da Península, utilizando todos os recursos religiosos e culturais que possuíam. A importância destes personagens foi tanta que hoje o escudo da cidade de Sevilha tem como figuras centrais ambos os bispos junto do rei Fernando III.

Emblema de Sevilha com o Rei Fernando III de Castela
e os bispos São Leandro e São Isidoro

No ano 712, o muçulmano Abd al-Aziz ibn Mussa tomou Sevilha, mudando o seu nome de Hispalis pelo nome árabe Isbiliyya, de onde deriva Sevilha. E em 715, a cidade passou a depender do poder de Córdoba. 

Em 1091, a cidade foi invadida pelos Almorávidas e algumas décadas depois, pelos Almóadas. Durante o domínio Almóada, Sevilha alcançou o seu máximo esplendor e converteu-se na cidade mais importante de Espanha. Nesta época, foram construídas a Torre del Oro e a Mesquita Maior, da qual ainda se conserva um minarete, a Giralda.

Gravura de Sevilha antiga

Em 23 de novembro de 1248, após um longo cerco de 15 meses, Sevilha foi conquistada pelo Rei castelhano-leonês Fernando III, o Santo, que obteve a rendição dos muçulmanos da cidade de Sevilha e em pouco tempo expulsou a população muçulmana, distribuindo partes do território entre os conquistadores. É dada uma nova demarcação urbana em diferentes distritos. E foi quando também se decidiu pela demolição da mesquita principal para construir a catedral. 

O Rei Fernando III, o Santo, se instalou na cidade até sua morte e foi sucedido pelo seu filho Afonso X, o Sábio, que inspirou uma das mais populares e difundidas lendas, passada de geração em geração entre os sevilhanos, a respeito do surgimento do pictograma NO8DO como lema da cidade.

O Rei Afonso X era um homem mais próximo da cultura do que da economia, o que fez com que sua gestão não satisfizesse o Estado. Seu próprio filho, Sancho, liderou uma rebelião que o destituiria do poder de todas as suas terras em Castela, levando Afonso a se refugiar em Sevilha. Pouco antes de sua morte em 1284 e como agradecimento à cidade de Sevilha, Afonso X concedeu à cidade este emblema, uma expressão fonética para "Ele não me deixou", em que o desenho de uma espécie de novelo de lã completa o hieróglifo, que em espanhol seria "No-Hadeja-Do".

O NO8DO está presente em todas as impressões institucionais de Sevilha. Tudo relacionado com a Câmara Municipal e a cidade, obras públicas, desenvolvimento e mobiliário urbano também inclui NO8DO. 

Emblema No&Do de Sevilha

Foi do porto de Sevilha que Cristóvão Colombo partiu para descobrir a América, no célebre ano de 1492, e este acontecimento foi muito significativo para a cidade, que se converteria no primeiro porto de saída europeu para a América.

Após a descoberta da América, Colombo chega às docas de Sevilha, onde anuncia sua grande façanha. Nestes cais serão organizadas as diferentes frotas que continuarão com a exploração das novas terras. Em finais do século XVI, Sevilha era um dos principais portos castelhanos no comércio com a Inglaterra, Flandres e Genova.


Porto de Sevilha

Os reis fundaram a "Casa de Contratación", em português Casa da Contratação, atualmente o Arquivo das Índias. Era em Sevilha que se dirigiam e contratavam as viagens, se controlavam as riquezas que chegavam da América e este era o principal porto de ligação. Nesta época Sevilha teve uma grande expansão urbana, superando os 100.000 habitantes e tornando-se a maior cidade da Espanha. A cidade converteu-se numa metrópole com consulados de todos os países da Europa e comerciantes vindos de todo o continente, que se estabeleciam em Sevilha para criar as suas empresas. 

Isto tornou a cidade num centro multicultural, tendo ocorrido um forte florescimento das artes - em especial da arquitetura, escultura, pintura e literatura - e desempenhado um papel importante no Século de Ouro espanhol. Nesse século terminaram as obras de construção da Sé e de outros edifícios novos, como a Casa Pilatos, o Palácio de las Dueñas e a Colegiata do Salvador. Além disso, como Sevilha era porto de partida para a América, foi residência de geógrafos e cartógrafos, como Américo Vespucio, que faleceu nesta cidade a 22 de fevereiro de 1512.


Casa de Contratación

No século XVI, construíram-se os edifícios mais importantes do centro de Sevilha, a Catedral, o Arquivo das Índias, a Prefeitura, a Audiência e a Casa da Moeda, assim como a Universidade, e se instalou em Sevilha a primeira imprensa do reino de Castela. Neste momento, a população alcançou os 150.000 habitantes. Contudo, o seu esplendor não chegou ao seu máximo potencial, já que não conseguiu resistir à competição económica de certas localidades como Florença, Génova, Lisboa ou os Países Baixos.

O ano de 1649 foi trágico com a catástrofe ocasionada pela epidemia de peste bubônica, também chamada de Grande Peste de Sevilha, e que significou um grande colapso de sua população, na qual morreram pelo menos 60.000 pessoas, 46% da população do cidade. O contágio atingiu sua virulência máxima nos bairros mais pobres e populosos, como Triana. A epidemia foi um duro golpe para a cidade e Sevilha apenas se recuperaria desse fato no século XIX.

A Grande Peste de Sevilha em 1649, obra anônima

Mas nem tudo foram desgraças para a cidade, já que algum tempo depois teve início uma boa época para as artes em todas as manifestações. Sevilha, empolgada pelo espírito contra reformista, transformou-se numa cidade convento. Em 1671 havia 45 mosteiros de frades e 28 de freiras. Franciscanos, dominicanos, agostinhos e jesuítas instalaram-se nela. Dessa época data a grande maioria das igrejas, retábulos e também das inúmeras gravuras, pinturas e imagens da famosa Semana Santa que, a cada ano, se celebra com tanto fervor e fé na capital. Nesta fase foram construídas muitas casas palacianas, entre elas o Hospital de las Cinco Llagas, atual sede do Parlamento da Andaluzia, e concluída a construção da Catedral. 

A partir do século XVII e durante todo o século XVIII a sorte de Sevilha começou a mudar, quando toda a opulência provocada pelo descobrimento da América terminou com a crise econômica e política que afetou toda a Europa, entre elas a causada pela Guerra de Sucessão Espanhola, que aconteceu entre os anos de 1701 e 1714, e que foi o maior conflito entre as casas aristocráticas europeias, tendo sido motivada pelo problema da herança do trono real da Espanha após a morte do Rei Carlos II em 1700, sem deixar herdeiros. Além disso, outro motivo que contribuiu para o declínio de Sevilha foi a transferência, em 1717, da Casa de Contratación para Cádiz, o que levou ao desvio do comércio para esta cidade.

Porém, para contrabalançar o momento crítico, em 1728, se instalou em Sevilha a Real Fábrica de Tabacos, atual sede da Universidade, que tanta importância teria para o futuro da cidade. Os espanhóis encontraram a planta do tabaco quase imediatamente após sua primeira chegada às Américas em 1492. A cidade detinha o monopólio do comércio com as Américas e durante o século XVIII, o governo real decidiu construir o atual grande edifício imediatamente fora das muralhas da cidade para concentrar toda a produção de tabaco.

Outro acontecimento importante nesta época em Sevilha foi a construção da Real Maestranza, em português Real Mestrança de Sevilha, uma praça de touros originalmente de madeira, cujas obras começaram em 1761. É considerada a praça de touros mais antiga e de maior tradição de Espanha, sendo apelidada popularmente como Catedral do Toureio.

O hospital em 1668
Aquarela de Pier Maria Baldi
Real Fabrica de Tabacos

Real Maestranza de Sevilha, ano 1895

Já no século XIX, o rumo histórico da Espanha passa por novos momentos de guerras e invasão, dessa vez por conta da Invasão Francesa. Com a assinatura do Tratado de Fontainebleu, a Espanha permitiu que Napoleão Bonaparte atravessasse a península para invadir Portugal. As tropas entraram na Espanha em outubro de 1807, mas os acontecimentos políticos posteriores deixaram claro que se tratava de uma invasão da península ibérica pelas tropas de Napoleão. Em 2 de maio de 1808, soldados espanhóis se levantaram em Madri contra os franceses, dando início à Guerra da Independência. Em 6 de junho de 1808, José Bonaparte, irmão de Napoleão, foi nomeado Rei de Espanha pela França sob o nome de José I. 

Sevilha foi afetada pela Invasão Francesa quando em 1 de Fevereiro de 1810 a cidade foi invadida pelo marechal Víctor com as suas tropas, acompanhado do Rei José I, que ocupou a cidade sem disparar um único tiro. A pilhagem artística sofrida pela cidade foi algo terrível, sendo que os franceses realizaram saques de obras de arte e de inúmeros tesouros locais e nacionais. A cidade sofreu com a invasão até 27 de agosto de 1812, quando os franceses foram vencidos pelos espanhóis com ajuda britânica na Batalha da Ponte de Triana. 

Sevilha desempenhou um papel importante na Guerra da Independência, pois se tornou centro da resistência espanhola no sul da Espanha até ser sede do Supremo Conselho Central, com representantes dos conselhos de todas as províncias, em dezembro de 1808.

Batalha da Ponte de Triana

Em 1833 é criada a Província Administrativa de Sevilha, sob o reinado de Isabel II. São construídas fábricas, desenvolvem-se indústrias, e a burguesia começa a construção de casas, de zonas residenciais, o que implica a destruição de parte das milenares muralhas. 

Foi nesse período em que a cidade se expandiu e que Sevilha recebeu também a sua primeira ferrovia. As iniciativas voltadas para a construção de um sistema ferroviário na região da Andaluzia emergiram em 1852, com a concessão provisória da linha que ligaria Sevilha a Jerez de la Frontera a Cádis. Em 1861 essa linha foi prolongada até à cidade de Cádis. Além deste primeiro trajeto sevilhano, em 1859 uma segunda linha ferroviária foi construída no lado oeste do centro histórico, conectando Sevilha a Córdoba.

Trem de mercadorias da linha Sevilha - Córdoba
Gravura publicada em 1861, de L. Mariani e litografia de C. Santigosa

O século XX em Sevilha foi marcado por vários acontecimentos importantes que moldaram a cidade como ela é hoje. Logo no começo do século, em 1904, um dos acontecimentos mais importantes foi a construção da fábrica da Cruzcampo, uma marca de cerveja local que se tornou uma das mais consumidas não só na região, como por toda a Espanha e em alguns países da Europa.

O projeto de criação da empresa surgiu em 1902, pelos irmãos Tomás e Roberto Osborne Guezala, ambos naturais da província de Cádiz e que se dedicavam ao setor vitivinícola. Decidiram criar a empresa na Andaluzia, e o local escolhido foi Sevilha, pois possui água com características ótimas para o processo de fabricação da cerveja. 

A fábrica estava localizada a leste da cidade, perto de um templo com uma cruz conhecida como Cruz del Campo, por ser muito distante. Este templo foi o que inspirou o nome da empresa. Gambrinus, personagem da mitologia alemã apaixonado por cerveja, foi escolhido para decorar a embalagem do produto e dar identidade à marca. A fábrica foi construída em 1903 como um edifício simples de três andares com águas-furtadas e uma planta retangular. E assim, em 22 de dezembro de 1904, foi lançada a primeira cerveja Cruzcampo. 


Fábrica da CruzCampo

Após o boom do turismo na Espanha e o aumento da demanda por cerveja, a empresa cresceu e mesmo com a morte de seus fundadores, a marca continuou. Mas ao longo do século XX, a Cruzcampo passou por várias reformas em sua fábrica como também reformas administrativas e corporativas. Não só constituiu-se como companhia limitada, como também ao longo de algumas décadas, comprou outras cervejarias locais, formando assim o poderoso Grupo CruzCampo, detentor de 19% do mercado espanhol. A empresa teve seu próprio pavilhão na Exposição Ibero-Americana de 1929 e na Exposição Universal de 1992.

No ano 2000, a empresa holandesa Heineken International comprou 88,2% do Grupo Cruzcampo por 145 bilhões de pesetas. Em 2008 a Heineken abriu sua nova fábrica nos arredores de Sevilha, com instalações renovadas e maior capacidade de produção. A parte mais antiga da fábrica original, hoje cercada por favelas, foi preservada como exemplo da arquitetura industrial do início do século XX. A antiga fábrica abriga a sede da Heineken España SA, a Gambrinus Catering School e a Fundação Cruzcampo.

Cervezas CruzCampo
Fábrica da CruzCampo nos dias de hoje

Outro grande acontecimento histórico que marcou o início do século XX em Sevilha aconteceu a partir de 1910, quando começou a ser organizada a Exposição Ibero-Americana, que ocorreu somente dezenove anos depois, em 1929, e que modificaria notavelmente o aspecto da cidade. A ideia nascida em 1909 além de uma reforma urbanística, visava fomentar o turismo, ressuscitar a fama da cidade, diminuir o desemprego da época e melhorar a economia. Talvez um dos mais nobres motivos da Exposição Ibero-Americana de Sevilla fosse de melhorar as relações com os países das Américas, dos quais muitos foram colônias da Espanha por séculos.

A exposição foi uma contraparte da Exposição Internacional de Barcelona de 1929, que aconteceu de 20 de maio de 1929 a 30 de janeiro de 1930, quase concomitantemente com a de Sevilha, sendo que a exposição de Sevilha abrigou os países latino-americanos além de Portugal e Estados Unidos enquanto que a exposição de Barcelona ficou com os países europeus. A exposição foi menor do que a de Barcelona, mas não com menos estilo, já que Sevilha se preparou para a feira durante 19 anos.

A Exposição Ibero-Americana de Sevilha iniciou-se em 9 de maio de 1929 e acabou em 21 de junho de 1930, promovendo exibições de países ibero-americanos em diversos espaços chamados de “Pabellón”, que em português seria traduzido como "pavilhão". Também haviam exibições das regiões espanholas e das províncias da Andaluzia. Entre os participantes estrangeiros que se destacaram estavam Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Marrocos, México, Peru, Portugal, Uruguai, Bolívia, Panamá, El Salvador, Costa Rica e Equador. Abaixo, alguns dos pavilhões e o que apresentaram.

Poster publicitário da Exposição Ibero-Americana de Sevilha

O Pabellón de Perú foi o maior dos pavilhões. Abrigava uma exposição arqueológica com artefatos pré-colombianos. Também havia uma mostra de agricultura com representações de animais nativos como vicunas, alpacas, lhamas e guanacos. Já no pátio do pavilhão haviam lhamas vivas que pastavam livremente. Hoje o prédio é utilizado pelo Conselho Superior de Investigações Científicas. 

O Pabellón de Brasil continha uma exposição de cultivo de café, com panoramas e modelos que ilustravam as diferentes fases do cultivo.  Também continha uma cafeteria. O prédio é agora ocupado pelo vicerreitorado da Universidad Hispalense. 

Cada país das Américas expunha em seu pavilhão exposições de suas mais fortes indústrias, ou de sua arqueologia e história, ou de produtos típicos e agricultura.

Pabellón de Perú
Pabellón de Colombia
Pabellón de Brasil

Pabellón de Chile

Pabellón de Mexico

Pabellón de Argentina

Tudo na Exposição Ibero-americana de Sevilla foi grandioso. Começando pela área ocupada pelo evento: 1.343.200 m² 😲  

Esta incrível área, equivalente à 124 campos de futebol, teve seu projeto elaborado em 19 anos, devido ao contexto econômico e histórico da época. As obras tiveram o custo de 80.218.599 pesetas. Porém o faturamento com os ingressos foi um “pouco” superior, ficando em 85.147.360 pesetas.

Antigo Mapa da Exposição Ibero-Americana em Sevilha

Das construções herdadas deste evento histórico, nenhuma é tão monumental quanto a Plaza de España e seu prédio em forma de arco. Somente na Plaza de España chegaram a trabalhar 1000 homens ao mesmo tempo.

Nas paredes da praça encontra-se uma série de bancos que delimitam o espaço das cinquenta províncias espanholas. Em cada alcova há o escudo e alguns feitos históricos da província. Hoje o prédio abriga os departamentos centrais do governo de Sevilla, mas vou falar mais sobre a Plaza de España durante o roteiro e a visitação, mais adiante.

Além da Plaza de España este evento propiciou a construção do Parque de María Luisa. A partir daqui a cidade inicia uma remodelação da sua infra-estrutura para modernizar e melhorar a comunicação: rede de eléctricos, canalização do rio e construção do aeroporto. 


Construção da Plaza de España

Outro acontecimento marcante do século XX foi a Guerra Civil Espanhola, um conflito armado ocorrido na Espanha entre 1936 e 1939. A guerra foi travada de um lado pelos republicanos, leais à Segunda República Espanhola, urbana e progressista, numa aliança de conveniência com os anarquistas e os comunistas, e de outro lado pelos nacionalistas, uma aliança de falangistas, monarquistas, carlistas e católicos liderada pelo general Francisco Franco. 

Desde o primeiro momento, Sevilha fez parte do lado nacionalista e viveu a guerra como cidade de retaguarda e obviamente, esse fato histórico novamente trouxe uma fase conturbada e difícil e que novamente travou o desenvolvimento da cidade.

A Guerra Civil Espanhola

Uma vez terminada a guerra, Sevilha sofreu dois acontecimentos fatídicos: a explosão do armazém de pólvora de Santa Bárbara, ocorrida a 13 de março de 1941, e também a grande cheia de 1º de novembro de 1961, quando quase três quartos da capital foram inundados com mais de quatro milhões de metros cúbicos de água, após um dia de chuva e o rompimento do muro de defesa do córrego Tamarguillo, que chegou ao coração da cidade, deixando em seu rastro uma imagem única de tragédia, desolação, destruição e ruína.

A partir da década de 1960 a cidade se expandiu para a periferia em diferentes bairros e continuou sua modernização. 

Mas foi em 1992 que aconteceu a Exposição Universal de Sevilha, conhecida como Expo de Sevilha, uma data que Sevilha jamais esquecerá pois foi um evento que colocou Sevilha na vanguarda e no topo dos destinos turísticos a nível mundial. Não confundir com a Exposição Ibero-Americana de Sevilha de 1929, coisa que percebi que aconteceu em vários blogs sobre a história da cidade. 

Teve uma duração de seis meses, começando no dia 20 de abril e finalizando em 12 de outubro de 1992, coincidindo com o encerramento do V Centenário do Descobrimento da América, devido a este fato o tema do evento foi "A Era dos Descobrimentos". A mascote oficial da Expo'92 chamou-se Curro, um simpático pássaro de bico e crista multicolor.

Logotipo da Exposição Universal

A celebração do acontecimento transformou a cidade urbanisticamente. Foi construída uma nova rede viária, novas vias rápidas e um anel de estradas. Também construiu-se uma nova estação central de ônibus e ampliou-se o aeroporto. Destaca-se a construção de uma infraestrutura que significaria um antes e um depois para os transportes de Espanha, o AVE (comboio de alta velocidade espanhol), cuja primeira linha na Espanha foi criada no âmbito da exposição, ligando Madrid a Sevilha. Todos estes investimentos constituíram um grande impulso para Sevilha.

A Exposição Universal de Sevilha

Para acolher a Exposição Universal foram aproveitados 250 hectares de terreno agrícola onde se localizava o histórico Mosteiro de la Cartuja, local onde Cristóvão Colombo preparara a viagem à América e onde o navegador esteve sepultado vários anos. O edifício estava em estado de ruína total e necessitou de uma grande obra de reabilitação para o devolver ao esplendor de outrora, passando a ser um símbolo da Expo'92. A transformação dos terrenos da Isla de la Cartuja foi considerada a maior obra pública da década na Europa.


Área do Projeto da Isla de la Cartuja
Mosteiro de la Cartuja

No término da Exposição Universal, as infraestruturas foram aproveitadas e a Isla de la Cartuja foi dividida em cinco áreas mais ou menos bem definidas: o local do mosteiro, um parque de diversões chamado de Isla Mágica, uma área ocupada por edifícios administrativos, um parque científico denominado Cartuja 93 criado supostamente para estender o ímpeto da exposição para uma definitiva urbanização do local e edifícios universitários. 

Estas três últimas zonas guardaram alguns pavilhões da Expo 92, como a Avenue de l'Europe, desenhada pelo arquiteto Jean-Marie Hennin. Mas apesar de todos os esforços, boa parte do local da Expo está mais ou menos abandonado.

Visão aérea da Isla de la Cartuja hoje
O abandono de algumas áreas,
como o Caminho de Descobrimento

A construção das infraestruturas, nos espaços públicos e nos pavilhões da Expo'92 foi realizada em tempo recorde. O maior revés aconteceu dois meses antes da abertura da exposição, no dia 18 de fevereiro de 1992, com um incêndio inesperado que reduziu a cinzas um dos principais pavilhões da exposição, o dos Descobrimentos, deixando-o praticamente irrecuperável.

O Pabellón del Descubrimiento ia ser um dos cinco edifícios emblemáticos da exposição e as chamas destruíram todo o seu conteúdo em aproximadamente três horas. O edifício estava concluído e estavam a ser finalizados os trabalhos de decoração interior e instalação do conteúdo, que também foram destruídos. Todos os trabalhadores que trabalhavam no local conseguiram chegar à rua sem que sofressem ferimentos graves. 

Além do Pabellón del Descubrimiento, existiam também alguns pavilhões temáticos que encantaram o público visitante, entre eles o Pabellón de la Navegacion, o pavilhão mais visitado da Expo'92, e o Pabellón de la Naturaleza, com a finalidade de sensibilizar para a importância do ambientalismo em 1992. 

Incendio no Pabellón de los Descubrimientos
Pabellón de la Navegacion e a Torre Schindler
Pabellón de la Naturaleza


Ao longo do chamado Camino del Descubrimiento, da Avenida das Acácias, da Avenida das Palmeiras ou da Avenida da Europa, aconteciam diferentes pavilhões e exposições temáticas, bem como uma exposição de invenções como um motor a vapor, um acelerador de partículas e o telescópio do Hubble.

A participação de países, empresas e organismos internacionais foi significativa: no total participaram 112 países, 23 organismos internacionais, 6 empresas e as 17 comunidades autônomas espanholas.

Caminho e Canal dos Descobrimentos
Avenida das Palmeiras e a Bioesfera

Lago de Espanha e o Monotrilho

Avenida da Europa

A exposição contava diariamente com concertos de grupos musicais nos seus vários palcos e cada dia celebrava um país ou entidade participante. Todos os dias ao fim da tarde acontecia a Cabalgata, um colorido desfile de veículos e personagens retratando de forma irreverente a história e a sociedade espanholas.

E todas as noites no Lago de Espanha, espaço aquático central da exposição, era apresentado o "Espetáculo do Lago", onde os visitantes podiam assistir a um espetáculo que misturava luz, som, laser e fogos de artifício, para além de imagens projetadas sobre cortinas de água, que davam a ilusão de que as figuras se materializavam sobre as águas. O espetáculo terminava sempre com a aparição da mascote Curro, dando as boas vindas aos visitantes e ao final da exposição contabilizou-se 214 apresentações no total.

Cabalgata
Espetáculo do Lago da Expo'92

A exposição realizou-se maioritariamente durante o verão, contando em muitos dias com temperaturas iguais ou superiores a 40º. O recinto da Expo'92 contava com vários pontos de água, vegetação abundante e pela primeira vez foi utilizado um moderno sistema de aspersão de água para mitigar os efeitos das altas temperaturas.

Durante os 176 dias que o recinto permaneceu aberto ao público, contabilizaram-se um total de 42 milhões de visitantes. Foram erguidos 98 pavilhões entre países, temas universais como natureza, futuro ou energia, comunidades autônomas, empresas e organizações internacionais. 

Além do parque tecnológico Cartuja 93, o mais importante da Andaluzia, e do parque temático Isla Mágica, a Expo'92 beneficiou a cidade de Sevilha com a construção da monumental Ponte do Alamillo sobre o rio Guadalquivir e outras 6 novas pontes espalhadas pela cidade. E também a ampliação e construção de avenidas e a ligação entre Madrid e Sevilha com o primeiro trem de alta velocidade na Espanha. 

Hoje, a Capital da Andaluzia é o centro cultural e financeiro do sul da Espanha. E, dessa forma, Sevilha se transformou em cidade marcada por um incrível legado arquitetônico e histórico admirável. 


Ponte de Alamillo


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