Barcelona 01



*** BARCELONA ***
25°, 26°, 27° e 28° dia da viagem

Barcelona é a capital da comunidade autônoma da Catalunha, bem como o segundo município mais populoso do país, com uma população de 1,6 milhões de habitantes. É a maior metrópole localizada na costa do Mar Mediterrâneo, e está limitada entre as foz do rio Llobregat à oeste, do rio Besòs à leste, e a Serra de Collserola ao norte, cujo pico mais alto tem 512 metros de altura.

É uma cidade camaleônica e vibrante, se reinventado a cada esquina, a cada rua, a cada nova atração turística descoberta. Tem grandes avenidas, centros comerciais, indústrias e universidades, mas ao mesmo tempo é repleta de natureza, com fácil acesso a montanhas, parques e praias. E é também um centro cultural com vários museus e galerias, onde obras de arte e design surgem por toda a parte. E pra quem quer curtir a vida noturna, tem inúmeras opções de boates e bares pra esticar até de madrugada. 

Barcelona é um dos principais centros turísticos, econômicos, comerciais e culturais do mundo, sendo que sua influência no comércio, educação, entretenimento, mídia, moda, ciência e artes contribuem para o seu estatuto como uma das principais cidades mundiais. Em 2008, tinha o quarto maior PIB urbano na União Europeia e o 35º no mundo.

Visão Panorâmica de Barcelona

Em 2009, a cidade foi classificada como a quarta melhor cidade da Europa para os negócios. Desde 2011, Barcelona tem sido considerada uma cidade inteligente líder no continente europeu. A capital catalã é um centro de transporte, sendo que seu porto é um dos mais movimentados da Europa e o aeroporto internacional, Aeroporto de Barcelona-El Prat, atende mais de 40 milhões de passageiros por ano. A cidade dispõe de uma rede de autoestradas e uma linha ferroviária de alta velocidade com ligação para a França e o resto da Europa.

Barcelona possui uma rica herança cultural e é hoje um importante polo cultural e um destino turístico popular. Particularmente conhecidas são as obras arquitetônicas de Antoni Gaudí e Lluís Domènech i Montaner, que foram designadas Patrimônio Mundial da UNESCO. A sede da União para o Mediterrâneo está localizada em Barcelona. A cidade é conhecida por hospedar eventos, conferências e exposições a nível mundial e também muitos torneios de esporte internacional, como os Jogos Olímpicos de Verão de 1992.

Plaça de Espanya

Barcelona é um prato cheio para quem gosta de história. Sua história milenar foi construída com a influência de muitos povos, como íberos, cartagineses, romanos, judeus, visigodos, muçulmanos e cristãos, responsáveis pela herança cultural deixada por todos os que passaram pela região.
 
Os primeiros vestígios de povoamento surgiram na Antiguidade e remontam ao final do período Neolítico, entre 2000 e 1500 a.C. com a existência de um primeiro povoado habitado por um povo íbero chamados de laietanos, e que deu origem aos primórdios da cidade de Barcelona. Estava situado perto do Rio Rubricato que atualmente é conhecido como Rio Llobregat. Uma lenda atribui sua fundação a Hércules, quatrocentos anos antes da fundação de Roma. Outra lenda conta outra história, que Amílcar Barca, pai do cartaginense Aníbal, teria fundado a cidade e dado seu nome a ela, Barceno ou Barcelino ou Nova Barci.

De concreto mesmo sabe-se que em 218 a.C. chegaram os romanos e se estabeleceram no Monte Montjuïc, onde construíram uma fortaleza militar. Na época de Augusto, era uma colônia próspera embora pequena, mas aos poucos a população foi abandonando a fortaleza e ocupando o Monte Taber, onde hoje está situada a Catedral da cidade e a Plaça Sant Jaume, sendo essa zona considerada a verdadeira origem de Barcelona. Os romanos chamaram a cidade de “Colonia Iulia Augusta Faventia Paterna Barcino”.

No século III, a colônia romana de Barcino foi destruída por hordas franco-alemãs.  Depois de reconstruída, os romanos fortificaram a muralha de forma que ela ficou com 18 metros de altura, 81 torres de controle e mais de 100.000 metros quadrados, uma dimensão que dá uma ideia da importância que a cidade já tinha naquela época. A partir do século III foi introduzido o cristianismo e foi nessa época que surgiram as primeiras venerações aos cristãos martirizados, como Santa Eulália, canonizada em 633 e que se tornou a padroeira de Barcelona.

As muralhas de Barcino

No final do século IV, as cidades sob o poder de Roma começaram a perder poder, devido à exigência do Império por mais recursos econômicos, o que levou finalmente à ruralização de parte da população e ao autogoverno moderado da cidade. Finalmente, após a morte de Teodósio I em 395, o Império Romano foi definitivamente separado em dois: o Império Romano do Oriente e o Império Romano do Ocidente e seu domínio na região foi enfraquecendo.

Em 415 d.C., Ataulfo, rei dos visigodos, fugindo das forças do imperador Honório, se apoderou de Barcino e a transformou na sede da sua corte. Nesta época, a cidade se tornava palco de combates entre reis e usurpadores, até que Ataulfo ​​foi assassinado, um hábito comum nos governos visigóticos. Quando no século V temos a queda definitiva do Império Romano Ocidental, o reino visigodo estendia-se do sul da Gália até parte da Hispânia, e travava-se uma luta interminável pelo controle de determinados territórios, entre visigodos e francos. Após várias derrotas, os visigodos ficaram restritos em Barcelona, tornando a cidade o centro do poder visigodo até finais do século VI, quando a capital foi finalmente transferida para Toledo.

Nesta fase, a consolidação da religião cristã desempenhou um papel muito importante na transformação da cidade, o governo civil foi respeitado e a cidade preservou as autoridades tradicionais do conde e do bispo. A economia foi reativada graças ao comércio com o Oriente, de onde chegavam perfumes, joias e escravos, enquanto se exportavam linho, mel e azeite. Os visigodos ocupavam principalmente a elite dominante da cidade, tornando-se uma minoria em comparação com a maior parte da população que era basicamente católica de origem hispano-romana. 

Uma possível explicação para a queda tão rápida do reinado visigótico é a confusa sucessão dos reis visigodos que não se dava pela linhagem mas sim por um sistema de escolha feita pelos nobres. E era comum que certos reis ou aspirantes ao trono “morressem” em condições muito suspeitas. Diz-se que doze dos mais de 30 reis visigodos foram assassinados ou envenenados, fato esse que até ganhou uma expressão: "Morbus Gothorum". O domínio visigodo na região foi relativamente curto, durando somente 3 séculos e foi justamente durante uma disputa sucessória pelo poder entre os reis visigodos que surge na península, entre 717 e 718 d.C. um novo povo: os muçulmanos.

Restos visigóticos de Sant Pau del Camp

Os muçulmanos entraram na península ibérica em 711 d.C. com os califas encarregados de expandir a religião em novas terras e de conquistar novos territórios. Durante todo o início do século VIII viveram uma luta interna e interminável contra os reis visigodos pelo poder. Como disse no parágrafo anterior, durante uma disputa sucessória pelo poder, com direito a traições e perfídia, o destino do Reino Visigodo na Espanha foi selado e condenado, e com o avanço das tropas árabes, finalmente cai sob o domínio muçulmano no ano de 718 d.C.

Durante este período a liberdade religiosa foi permitida e a vida quotidiana não foi muito modificada. Um detalhe interessante é que o nome da cidade passou a ter uma nomenclatura meio árabe, passando a ser chamada de Barshilunan. A população dividia-se em uma minoria de líderes árabes e berberes, que detinham o poder e a maior parte das terras; os moçárabes que eram os cristãos nativos; os muladís que eram os cristãos convertidos ao Islã; e os judeus também. É claro que aqueles que não eram muçulmanos tinham que pagar um imposto ao novo governo, questão que causou conversões em massa considerando que as pessoas não gostam de pagar impostos.

Se em termos históricos o período visigodo foi curto, vale ressaltar que o período muçulmano foi mais curto ainda, durando cerca de 80 anos, quase um piscar de olhos. Não há muito material histórico deste período, não existem edifícios ou monumentos específicos, talvez o centro urbano da cidade tenha sido transformado num souk, típicos mercados árabes ao ar livre, já que com o novo governo a cidade se abriu ao comércio com o Norte de África e o mar Mediterrâneo. Existe uma teoria que diz que a catedral da cidade foi convertida numa mesquita, mas ainda não foram encontradas provas arqueológicas que apoiem este argumento. 

Praça do Rei, onde supõem-se que existia um mercado árabe

No ano de 755, devido às lutas pelo poder na Arábia entre diferentes famílias, teve início o emirado independente de Córdoba, o que levou a uma série de confrontos entre os próprios árabes, dividindo o reino árabe em pequenos reinos independentes chamados “taifas”. A falta de unidade e as lutas internas fizeram com que as taifas perdessem o poder. A cidade esteve em mãos muçulmanas até o ano 801, quando Barcelona entrou na órbita do Império Carolíngio, de Carlos Magno. 

Vale relembrar que o Império Carolíngio, que durou de 800 a 888 d.C. foi um império dos francos na Europa Ocidental e Central, durante o início da Idade Média, e foi governado pela dinastia Carolíngia, com reis da tribo germânica dos francos desde 751 e, posteriormente reis dos lombardos da Itália a partir de 774. 

Enquanto a Península Ibérica era disputada entre visigodos e muçulmanos, do outro lado dos Pirenéus, no reino franco, já se consolidava a figura muito importante de Carlos Magno, que conseguiu unificar grande parte da Europa Ocidental sob um único poder político. Esse projeto de poder contudo sofria uma certa ameaça das tropas árabes e berberes que surgiram do nada e estavam muito perto dos seus territórios. É por esta razão que Carlos Magno iniciou uma campanha militar na península, tentando repelir a influência muçulmana para além dos Pirenéus, recuperar esta área, que iriam servir como uma espécie de proteção para garantir que os árabes permanecessem do lado do território. Esta é, aliás, a origem da famosa Marca Hispânica.

Mapa do Império Carolíngio e a Marca de Hispânia

Mais tarde, nestas áreas recuperadas, foram criados condados, que eram governados por condes que prestavam conta aos monarcas francos, como por exemplo os Condados de Besalú, Osona, Girona e Barcelona. Entre todas eles, o mais importante, era o Condado de Barcelona, embora a cidade, tecnicamente, não tenha sido libertada por Carlos Magno, mas sim pelo seu filho e sucessor Ludovico Pio que, após um longo cerco, conseguiu expulsar os muçulmanos valis da cidade.

Os séculos IX e X foram um verdadeiro pesadelo. Por ser uma potência econômica e estrategicamente bem localizada, os muçulmanos fizessem várias tentativas de retomar Barcelona e embora nunca tenham reocupado permanentemente a cidade, atacaram e saquearam a população em diversas ocasiões. Culminando com o pior e mais famoso ataque que aconteceu em 985 quando as tropas de Almanzor, militar e governante da península ibérica islâmica, conseguem penetrar nas muralhas da cidade, saqueando-a e destruindo até às fundações as igrejas e as muralhas, incendiando os edifícios, além de matarem milhares de pessoas e de escravizarem e transportarem para sul outra parte da população. Alguns autores referem-se a este acontecimento como o momento em que o Barcelona morreu apesar de que, um fato curioso, os arqueólogos nunca encontraram provas dos incêndios e de toda a destruição sofrida pela cidade.

O Ataque de Almanzor

Por não ter recebido nenhuma ajuda dos francos, o Conde de Barcelona acaba por tornar a cidade independente e após o ataque, deu-se início à construção de várias fortificações para melhorar as defesas da cidade, e destes edifícios também não se tem mais vestígios nos dias de hoje. Mas para não dizer que não sobrou nada dessa época, existe sim um pequeno vestígio, uma janela do que seria o Castell Nou que foi aproveitada durante a construção de um edifício da Calle del Call. Após o ataque de Almanzor encerra-se a hegemonia carolíngia em Barcelona no que foi uma fase bem curta. 

Depois, a partir do século XI, sob a liderança dos sucessivos condes da Casa de Barcelona, ​​inicia-se uma fase de “anexação de territórios”, onde vários condados da região começam a se unificar, dos quais a cidade de Barcelona detém uma certa hegemonia sobre os restantes, até que posteriormente foi criado o Principado da Catalunha

Ao mesmo tempo, o vizinho Reino de Aragão vinha crescendo de forma muito semelhante, porém com um agravante de ter ficado sem sucessão masculina. Até que no século XII, um dos descendentes do Conde de Barcelona, Ramón Berenguer IV se casou com a rainha de Aragão, Petronila I, uma união meramente dinástica porque ambos mantiveram as suas instituições, privilégios, etc. Mas foi Afonso II, filho deste casamento e que herdou ambos os territórios, que finalmente conseguiu a união entre o reino de Aragão e o condado de Barcelona, ​​tornando-se assim o primeiro rei da Coroa de Aragão. 

Mapa do Período Condal

Do final do século XII a meados do século XIV, a Coroa de Aragão empreendeu uma ambiciosa política expansionista, visando abrir novas rotas comerciais, mas, sobretudo, trazer novos rendimentos à nobreza aragonesa. É neste ponto que a Coroa de Aragão consegue consolidar um verdadeiro império marítimo no Mediterrâneo, agregando colônias nas Ilhas Balneares, Sardenha, Sicília, Napolis, entre outros. 


A expansão da Coroa de Aragão

Barcelona, ​​mais uma vez, estava em uma posição central no meio deste avanço econômico e político, sendo que além de funcionar como um entreposto do vai-e-vem de mercadorias, também começou a consolidar uma pequena indústria local, produzindo uma série de bens manufaturados, que foram introduzidos nas rotas comerciais internacionais. A cidade crescia e a sua população também, e por isso infelizmente os poucos edifícios antigos que restaram dos períodos anteriores foram destruídos para dar lugar à construção de novos no mesmo local. Desta época existem locais emblemáticos como a Catedral de Barcelona, ​​parte do complexo monumental do Palácio Real do Prefeito, que inclui o Salón del Tinell e a Capela de Santa Ágata, os Estaleiros Reais de Barcelona, ​​a Basílica de Sant Just, entre outros. 

Toda esta prosperidade levou Barcelona a iniciar os primeiros assentamentos fora das antigas muralhas da cidade. É então a partir do século XIII, que se inicia a construção de uma nova muralha que abrangesse esses novos assentamentos e no século seguinte já foi necessário fazer obras de ampliação desta muralha medieval para acompanhar o crescimento da cidade. Grande parte das construções predominantemente no estilo gótico da época são encontradas nos atuais bairros Gótico e Borne, que se mantiveram ao longo do tempo ao contrário das construções dos períodos anteriores do qual pouco restou. 

Em verde, as muralhas romanas
Em vermelho, as muralhas medievais no século XIII
Em amarelo, as muralhas medievais ampliadas no século XIV

No ano de 1283, realizaram-se em Barcelona os primeiros Tribunais Catalães, com o objetivo de elaborar uma constituição ou estatuto da Catalunha, que posteriormente deu origem à Generalitat de Catalunya, o sistema institucional em que se organiza politicamente o autogoverno da Catalunha e que desde o início do século XV tem a sua sede no palácio da Plaza de Sant Jaume da cidade.

Os Usatges, que traduziríamos como "usos e costumes" de Barcelona, foram as regras que formaram a base da Constituição Catalã. Eles constituem as leis  fundamentais e direitos básicos da Catalunha codificadas no século XIII. Os Usatges combinaram fragmentos da lei Romana e Visigótica com as resoluções da Corte de Barcelona e dos Canônes religiosos dos sínodos eclesiásticos.

Os primeiros Usatges foram compilados por Ramon Berenguer I, Conde de Barcelona, no início do século XI, para reparar as deficiências da lei Gótica. Entretanto, foi o Rei Jaime I que vendo que alguns juízes seguiam a lei gótica e outros a lei romana, abordou as Cortes em 1251 para estabelecer a primazia dos Usatges. Embora a sua aplicação legalmente devesse ser apenas no Condado de Barcelona, na prática elas foram aplicadas em toda região da Catalunha.

Os Tribunais Catalães

A prosperidade continuou até 1333, quando a fome e as pestes mataram milhares de moradores de Barcelona, ​​e durante os séculos XV e XVI a cidade seria novamente devastada e dizimada pela Peste Negra. A partir do século XIV, a cidade iniciou uma era de decadência que se estendeu durante os séculos seguintes. Os aumentos excessivos de preços e salários culminaram numa grande crise econômica. A moeda foi desvalorizada, o comércio exterior fugiu para Valência e a indústria têxtil local foi paralisada.

Em 1469, Fernando I de Aragão se casou com a rainha Isabel de Castela, que viriam a ser conhecidos como os “Reis Católicos”, e com este casamento unificou-se os dois reinos. Na nova união, tanto a Coroa de Aragão como Barcelona, sendo a cidade mais importante do reino, começaram a perder protagonismo em favor da mais poderosa Coroa de Castela. 

Independentemente deste fato, a Catalunha se manteve politicamente independente, e por não ter participado junto com Castela das conquistas do continente americano, aos pouco foi perdendo a sua importância no Mediterrâneo. Entre os séculos XVI e XVII, a região de Catalunha passou por sua maior crise, atravessando um pesado período decadente. Iniciou com a Guerra dos Segadores, ou Revolta da Catalunha, motivada como consequência dos impostos que a Coroa espanhola impunha em seus territórios para manter o império e recuperar os gastos da Guerra dos 30 anos com a França. Esse conflito armado fez com que a Catalunha lutasse pela sua independência contra a restante da Espanha e em especial contra a dinastia de Castela, que a dominava, recebendo apoio militar do reino da França. 

O conflito durou de 7 de junho de 1640 a 13 de outubro de 1652 quando resultou na assinatura do Tratado dos Pirinéus, que decidiu que fossem entregues para a França o condado de Rossilhão, e mais metade do condado da Sardenha, que faziam parte do Principado da Catalunha. E o governo francês renunciaria ao domínio sobre a Catalunha, dividindo definitivamente a Catalunha mas pelo menos mantendo as suas instituições e seus direitos independentes. 

Guerra dos Segadores 

Cinquenta anos depois, Barcelona se vê novamente em outro cenário conturbado com a Guerra da Sucessão Espanhola que ocorreu entre 1701 e 1714, envolvendo diversas monarquias europeias em torno dos direitos de sucessão da coroa espanhola. É bem confuso, eu até tentei fazer um resumão, mas não tem como, se eu for descrever tudo preciso fazer um novo blog...😄

A Guerra da Sucessão Espanhola envolvia diversas monarquias europeias em torno dos direitos de sucessão da coroa espanhola. Após a morte do Rei Carlos II, que não deixara herdeiros, terminava a dinastia dos Áustria, ramo espanhol da Casa de Habsburgo. Com o falecimento precoce de seu sobrinho, José Fernando, príncipe da Baviera, subiu ao trono espanhol Filipe, o Duque de Anjou, neto de Luís XIV da França, dando início à dinastia Bourbon na Espanha.

Uma vez que os Bourbon teriam poder sobre a Espanha e suas conquistas, além do poder que já detinham sobre a França, as demais potências europeias recearam os efeitos da união de dois reinos tão poderosos sob a mesma dinastia. A preocupação vinha sobretudo por parte da Inglaterra, rival da França na disputa pela hegemonia europeia e nos espaços ultramarinos. Ao mesmo tempo, o Imperador Leopoldo I da Áustria, da dinastia Habsburgo também reivindicava o trono da Espanha para seu filho Carlos, Arquiduque de Habsburgo, por uma linha bem longínqua de casamentos e nascimentos entre famílias.

Os Reis Católicos, Isabel de Castela e Fernando de Aragão

Assim, em 1701, o conflito motivado pela crise sucessória da Espanha culminou em uma guerra entre monarquias europeias, sendo que de um lado havia sido formalizada a Grande Aliança, composta pela Inglaterra, Holanda, Império Austríaco e Portugal, que se uniram em oposição à aliança franco-espanhola, do outro lado. A escolha de um herdeiro direto dividiu a Europa entre os Bourbons e Habsburgos, e o que deveria ser uma crise sucessória comum do Antigo Regime veio a transformar-se numa guerra de âmbito continental. Na Espanha, estalou uma guerra civil entre aqueles que apoiavam Filipe de Anjou e os que apoiavam o arquiduque Carlos da Áustria.

Com o acirramento dessas intrigas, a guerra alastrou pela Europa, não se limitando a afetar o território da Espanha. Depois de vários anos de guerras, incontáveis números de mortos, terras e cidades devastadas, começaram as primeiras tratativas de paz. De 1706 a 1709, foram feitas várias tentativas de negociação, mas sempre alguma condição não era aceita por um dos lados e a guerra continuava. Até que depois de 15 meses de negociações, foi assinado em 1713 o Tratado de Utrecht, entre as monarquias europeias envolvidas no conflito que fez com que para alcançar a paz o mapa europeu sofresse diversas alterações, com a redistribuição entre os reinos de vários territórios e domínios. Filipe V foi reconhecido como Rei da Espanha, e em troca, tanto o rei da França quanto o da Espanha aceitaram a imposição de que os Bourbons da Espanha não teriam direito sobre o trono francês.

Além disso, a Europa pós-guerra testemunhou a ascensão de uma nova potência continental: enquanto França, Espanha e Áustria, consideradas até então as maiores potências europeias, saíram da guerra bastante enfraquecidas, a Inglaterra se erguia como nova força hegemônica, sendo considerada como a verdadeira vencedora da guerra, com um poder comercial e militar que se manteve pelas próximas gerações.

Guerra de Sucessão Espanhola

Ao final da Guerra de Sucessão Espanhola, a cidade de Barcelona teve seu poderio enfraquecido por ter se aliado às tropas franco-espanholas, e em retaliação, todos os seus territórios acabaram sendo conquistados, todas as leis institucionais próprias da Catalunha foram abolidas e a língua catalã foi proibida, levando com isto a uma queda nacional e cultural, e a perda de suas autonomias políticas, culminando com a criação da Ciutadella, uma fortaleza em forma de estrela e que foi designada como local de espionagem da Coroa contra Barcelona. Este mesmo local hoje é o Parc de la Ciutadella, um maravilhoso parque bem no coração da cidade. Mas sobre isso vou falar mais adiante quando visitarmos especificamente o parque.

A partir do fim do século XVIII e durante todo o século XIX, a Catalunha começou a se diferenciar economicamente do restante do território espanhol, assim como aconteceu com os Bascos, tornando-se um dos primeiros locais da Europa a seguir o processo inglês de industrialização. Foi então, a região pioneira na Primeira e na Segunda Revoluções Industriais, urbanizando-se de forma intensa e constituindo cidades verdadeiramente desenvolvidas, com destaque para a capital Barcelona. 

A importância da cidade era tão visível que hospedou inclusive a Exposição Universal de 1888, realizada entre 20 de maio e 9 de dezembro de 1888, com o objetivo de fazer conhecer os novos progressos tecnológicos e projetar a imagem da indústria catalã no exterior. A relevância desse evento foi imensa, uma vez que era a primeira feira do gênero a ser realizada na Espanha, e Barcelona não economizou nos preparativos promovendo várias melhorias tanto em finalizações de obras começadas, como melhoria na infraestrutura para os moradores, além de dar um aspecto mais moderno à cidade. 

A feira foi idealizada para acontecer no novo Parc de la Ciutadella, que foi projetado para substituir a antiga e demolida Fortaleza de Ciutadella, e com o Arco do Triunfo servindo de entrada principal. E além destes, o legado da Expo 1888 foram o Castel de Tres Dracs, que hoje hospeda o Museu de Zoologia, o Hivernacle, que se tornou o Museu de Geologia, o Palau de Belles Artes, em português Palácio de Belas Artes, o Grande Hotel Internacional, o Pavilhão das Colônias Espanholas, o Palácio das Ciências e o pavilhão da Companhia TransatlânticaMais de 2 milhões de espanhóis, europeus e outros estrangeiros visitaram a exposição, que contou com a participação de 27 países, incluindo China, Japão e Estados Unidos.

Cartaz da Exposição Universal de 1888 com as principais construções

A Catalunha passou mais de cem anos trabalhando na recuperação de suas características próprias que a tornavam distinta na região, e acompanhando o desenvolvimento econômico, cresceu um sentimento de orgulho de sua origem catalã, impulsionada por intelectuais, artistas e políticos. Porém, uma nova instabilidade política iria de encontro à reencontrada personalidade catalã, quando um novo cenário de guerra civil trouxe consigo mais de 40 anos de ditadura.

A Guerra Civil Espanhola foi um conflito armado que aconteceu entre 1936 e 1939 e foi travada entre os republicanos, leais à Segunda República Espanhola, urbana e progressista com fortes tendências de esquerda, numa aliança de conveniência com anarquistas e comunistas, e do outro lado os nacionalistas, em uma aliança de falangistas, monarquistas, carlistas e católicos liderada pelo general Francisco Franco. Devido ao clima político internacional na época, a guerra teve muitas facetas, e diferentes pontos de vista a viram como uma luta de classes, uma guerra religiosa, uma luta entre ditadura e democracia republicana, entre revolução e contrarrevolução, entre fascismo e comunismo. 

Durante o desenrolar da guerra, os nacionalistas avançaram a partir de suas posições no sul e oeste, capturando a maior parte da costa norte da Espanha ao longo de 1937 e também cercaram Madrid. Depois de grande parte da Catalunha ter sido capturada entre 1938 e 1939, e com as cidades de Barcelona e Madrid isoladas, a posição militar republicana tornou-se desesperada. Madrid e Barcelona foram ocupadas sem resistência. Franco declarou a vitória e o seu regime foi reconhecido pelo Reino Unido e pela França. Milhares de espanhóis de esquerda fugiram para campos de refugiados no sul da França. Aqueles associados com os republicanos derrotados foram perseguidos pelos nacionalistas vitoriosos. Assim, os nacionalistas venceram a guerra no início de 1939 e governaram a Espanha até à morte de Franco em novembro de 1975.

A vitória de Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola

Ao assumir o poder, Franco decretou medidas repressivas em todo o país, a fim de unificá-lo e fortalecê-lo e novamente a Catalunha voltou a ser aniquilada e sacrificada pelo poder ditatorial, com sua língua sofrendo novamente a proibição e a perseguição de sua identidade cultural catalã e em todo o seu território iniciou-se um brutal processo de repressão, que culminou com o fuzilamento do então presidente da Generalitat Catalana.

Depois de um governo de quase quarenta anos e um pouco antes da sua morte, em novembro de 1975, Franco restaurou a monarquia e deixou o Rei Juan Carlos I como seu sucessor. Juan Carlos liderou a transição para a democracia, deixando a Espanha com seu atual sistema político. 

Ao longo dos anos, a Catalunha recuperou um considerável grau de autonomia política, educacional e cultural e começou um rápido crescimento econômico, principalmente a partir da década de 1950. Barcelona começava a se transformar em uma das maiores áreas metropolitanas industriais da Europa, atraindo trabalhadores de toda a Espanha e também transformando a região em um importante destino turístico, polo cultural e esportivo.

Pela fato da Catalunha ter sido despojada de sua independência social-político-cultural várias e várias vezes ao longo de tantas rebeliões e guerras, acabou-se por alimentar ao longo dos anos um feroz movimento separatista catalão, que se tornou mais acentuado a partir do século XIX. A partir de 2017, por ainda ser uma das comunidades economicamente mais dinâmicas do país, a Catalunha começa a lutar com mais vigor para se tornar independente da Espanha, inclusive com um plebiscito, amplamente favorável ao separatismo, que provocou graves atritos com o governo de Madri, em meio a manifestações nas ruas do país contra e a favor da independência, reunindo centenas de milhares de pessoas.

Manifestações do Movimento Separatista da Catalunha



Vigésimo Quinto Dia - Parque Güell, Casa Vicens, Passeig de Gracia e Casa Milà, Casa Batlló, Casa Amatller, Casa Lléo Morera

O primeiro dia em Barcelona vai começar bem cedinho, e prepare-se porque vai ser o dia das caminhadas. Abaixo vou deixar um mapa com o percurso deste dia, que pode ser feito parcialmente à pé, ou também de ônibus, metro, taxi ou alugando uma bici/moto. Enquanto fazia minhas pesquisas, descobri o site do Transporte Público de Barcelona, e fiquei encantada... No final da página vou deixar todos os links, mas achei ótimo pois inclusive ele tem um "planejador de percurso" o que ajuda bastante para ir de um ponto à outro.

Mapa do roteiro do Parque Güell, Casas Gaudí até Catedral Santa Eulália

Nosso primeiro compromisso é com uma das maiores atrações de Barcelona, o famoso Parque Güell, considerado um dos cartões postais da cidade. O Parque Güell é um grande parque urbano com elementos arquitetônicos situado no barrio de Gràcia e foi concebido pelo arquiteto Antoni Gaudí, expoente máximo do modernismo catalão, por encomenda do empresário Eusebi Güell.

Construído entre 1900 e 1914, originalmente destinado a ser uma urbanização, revelou-se um fracasso comercial e foi vendido à Câmara Municipal de Barcelona em 1922, tendo sido inaugurado como parque público em 1926. Não se sabe ao certo os motivos do fracasso, mas existem numerosas teorias. Uma delas aponta que os barceloneses teriam considerado que a área pouco urbanizada, sem transportes públicos, e muito longe do centro de Barcelona. Outra teoria diz que o conde Güell era maçom e, apesar de não existirem provas disso, isso teria reduzido o número de potenciais compradores, porém é intrigante que nenhum maçom tenha aproveitado a oportunidade. Uma terceira teoria defende que o Parque Güell era abertamente catalanista e que isso afastara potenciais compradores numa época de muitas conturbações políticas com o governo espanhol. Dizia-se também que a perspectiva de viver diariamente com o conde Güell  poderia não ter agradado a muitos dos seus amigos e conhecidos, e ainda é possível que alguns potenciais compradores tenham decidido que não queriam viver numa comunidade cuja entrada era algo demasiadamente extravagante.

Foto Panorâmica do Parque Güell

O parque foi concebido por Güell e Gaudí onde, dentro de um incomparável quadro de beleza natural, se situariam habitações de luxo, com todos os progressos tecnológicos da época e acabamentos de grande qualidade artística. Não se sabe ao certo o que Güell e Gaudí pretendiam alcançar, visto que não restam registos a esse respeito, mas parece óbvio que o parque se destinava a um grupo seleto e não ao público em geral, e que está recheado de referências a ideias, fantasias e ideais comuns a ambos, como a política pró-catalunha e a religião católica, sempre com um certo caráter misterioso devido ao gosto da época por enigmas e adivinhas.

Em 1969 foi nomeado Monumento Histórico Artístico de Espanha, e em 1984 foi classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, incluído no sítio Obras de Antoni Gaudí. No recinto do parque, numa casa onde Gaudí morou durante quase vinte anos, funciona desde 1963 a Casa-Museu Gaudí, cujo acervo inclui objetos pessoais e obras de Gaudí e de alguns dos seus colaboradores.

O Parque Güell é um reflexo da plenitude artística de Gaudí, em sua etapa naturalista na década de 1900, e apresenta uma mistura de elementos de diferentes estilos como românico, barroco, dórico, pré-romano, etc., que remete para as suas primeiras obras. Uma das características mais marcantes do Parque Güell é o contraste entre as texturas e cores dos diferentes materiais de construção, por exemplo, cerâmica brilhante e multicolorida versus pedra rústica castanha.

A Entrada do Parque Güell com os Pabellons e a Escadaria

Com uma extensão de mais de 17 hectares, o Parque Güell está coberto por formas onduladas, colunas com aspectos de árvores, figuras de animais e formas geométricas. A maior parte das superfícies estão decoradas com mosaicos feitos com pedaços de cerâmica coloridos.

O arquiteto, inspirado nas formas da natureza, fez do parque uma impressionante criação ornamental na qual não existem nem a rigidez nem o classicismo. Todas as sinuosas e coloridas formas dos elementos do parque possuem um importante simbolismo, tanto político quanto religioso.

O artista aproveitou o desnível de 60 metros da montanha para criar um caminho de elevação espiritual e, no alto, planejava construir uma capela, que acabou sendo substituída pelo Monumento ao Calvário, um promontório situado na parte mais alta do parque, que oferece a melhor vista da cidade.

Coroamento da Coroa sobre a Casa del Guarda,
construído no início do século XX

Gaudí situou a entrada principal na parte mais baixa da montanha com acesso pelo Carrer d'Olot e mais próxima do núcleo urbano. Inicialmente concebeu uma entrada monumental com um par de gazelas mecânicas em tamanho real, que nunca chegou a ser construída. No seu lugar foi colocado um simples portão em madeira, que foi substituído em 1965 por um portão em ferro forjado transladado da Casa Vicens, uma das primeiras obras de Gaudí.

Originalmente estava previsto existir apenas uma entrada secundária para o parque, mas atualmente existem várias outras entradas secundárias. Abaixo, um mapa do Parque Güell, com o roteiro mais indicado para a visitação.


Mapa do roteiro de visitação do Parque Güell

O Parque é dividido em duas partes: a área monumental, que abrange todas as obras de Gaudí e é a mais visitada pelos turistas, mas que possui cobrança de ingressos para se acessar, e a área de acesso livre usada pela maioria dos moradores de Barcelona, como um parque público. O acesso à área monumental é feito pela porta dos pavilhões e os acessos ao público pelas outras entradas secundárias.

De ambos os lados do portão de entrada situam-se dois pavilhões destinados aos serviços do parque. Estes estão integrados na muralha exterior do parque, que deveria envolver todo o recinto mas que apenas foi parcialmente construída, constituída por um muro de tijolo revestido com pedra rústica extraída do local e rematado no topo com peças de cerâmica branca e vermelha onde se destacam vários medalhões espalhados pelo muro com as inscrições "Park" e "Güell". Tanto a muralha quanto os pavilhões foram construídos entre 1900 e 1903.

O Muro de pedras rústicas e os Medalhões

Os pavilhões da entrada são do mais puro estilo gaudíniano e evocam na mente dos visitantes a casa de Hansel e Gretel, do conto de fadas dos irmãos Grimm. Realizados com alvenaria de pedra rústica extraída do local, destacam-se pelas suas abóbadas cobertas com cerâmica de cores vivas e rematadas com chaminés de ventilação em forma de cogumelo.

O pavilhão maior, atualmente parte do Museu de História de Barcelona, tem um aspecto mais convencional e destinava-se ao porteiro, que morava neste edifício com a sua família e era conhecida como a Casa del Guarda. Possui um vestíbulo, uma sala de jantar, uma sala de estar e uma cozinha ao nível do rés-do-chão, quatro quartos ao nível do primeiro piso e um sótão com dois terraços, e uma escada em espiral que dá acesso a uma varanda localizada em torno da chaminé de ventilação.

O aspecto do pavilhão menor é marcado por uma grande janela com portadas de ferro forjado e uma torre helicoidal com 30 m de altura revestida com cerâmica branca e azul formando um padrão em xadrez. Possui uma grande sala de recepção no térreo, onde os residentes recebiam as visitas, e mais salas ao nível do primeiro piso, com acesso a dois terraços e uma escada exterior que dá acesso a um mirante localizado na base da torre. 

A torre é coroada por uma estrutura aberta em ferro forjado e uma cruz de quatro braços alinhada com os quatro pontos cardeais. A cruz original foi destruída em 1936 durante a Guerra Civil Espanhola e posteriormente substituída por uma cópia não muito fiel à original. A torre teve de ser reforçada com barras metálicas em 1952 para evitar o agravamento da fissuração que vinha ocorrendo. Não consegui descobrir seu uso nos dias atuais, na internet dizem que funciona como lojinha e livraria, mas vou checar essa informação quando estiver lá. Aparentemente a loja oferece vários produtos relacionados com a obra de Gaudí e de Barcelona, ​​como postais e cartazes, t-shirts e acessórios têxteis, bijuterias, decoração, reproduções e uma seção infantil.

Pabellones do Parque Güell, vistos da escadaria

Casa del Guarda
Pabellón de Recepción

É importante uma observação para você não confundir com os Pabellones Güell localizados em outro bairro. Durante minhas pesquisas na internet, vi muitas fotos de um pavilhão diferente e com a mesma nomenclatura. Fui checar direitinho e percebi que os nomes são quase idênticos. 

Os famosos Pabellons do Parque Güell são esses da foto acima, porém existem outros Pabellones Güell, também chamados de Pabellones da Finca Güell, que não ficam no parque, pelo contrário, estão localizados bem distante, no bairro de Pedralbes. Também pertenceu ao empresário Eusebi Güell, que encomendou os edifícios a Gaudí, com a mesma função de portaria e recepção para sua fazenda localizada naquele bairro e que foram construídos entre 1883 e 1887. Esta obra pertence ao período orientalista de Gaudí em que o arquiteto realizou uma série de obras de marcado gosto oriental, inspiradas na arte do Extremo Oriente, bem como a arte islâmica principalmente mudéjar e nasrid.


Pabellones da Finca Güell

Voltando para o nosso passeio no Parque Güell, passando o portão de entrada encontra-se uma área aberta conhecida como Vestíbulo, com 400 m² e destinada a organizar o acesso ao parque, em cujos lados se localizam duas áreas de serviço parecidas com grutas, que foram construídas por Gaudí aumentando e reforçando grutas pré-existentes no local.

A área da esquerda era usada como garagem e armazém, embora atualmente abrigue um bar e banheiros, enquanto a área da direita servia de abrigo para carruagens. Esta última consiste numa sala semiesférica sustentada por uma coluna central em forma de cálice e colunas externas menores, que juntas lembram as patas de um elefante. Esta sala tem ainda a particularidade de propagar o som ao longo das suas paredes, pelo que é possível que duas pessoas posicionadas de costas uma contra a outra consigam conversar, mesmo estando em extremidades distantes.

Área aberta ou vestíbulo e a gruta em forma de pata de elefante

Do vestíbulo da entrada principal parte uma escadaria monumental com três lances de escadas, que foi construída entre 1900 e 1903, e que conduz à Sala Hipostila. A escadaria está implantada entre muros ameados (*), com paredes revestidas com pedaços de cerâmica multicolorida formando um espécie de padrão em xadrez brancos e coloridos, em cujas superfícies alternadamente convexas e côncavas a luz do sol cria um efeito visual notável. 

(*) Muros ameados possuem aquelas aberturas que vemos nos topos dos castelos e torres, normalmente de formato retangular para que arqueiros e guerreiros defendam o local de ataques inimigos.

A Escadaria Monumental

Na sua parte central, possui três fontes com conjuntos escultóricos igualmente revestidos com trencadís, nome dado ao mosaico feito com pedaços irregulares de cerâmica, e neles vemos a complexa iconografia aplicada por Gaudí em suas obras.

Na primeira fonte visualiza-se um círculo, um esquadro e um compasso que muitos interpretam como símbolos maçónicos enquanto outros veem neles uma alusão a Pitágoras. Preciso dizer que pelas fotos, a impressão que eu tenho é outra, parece uma figura retorcida e exposta à maresia... não consegui visualizar nada parecido com o símbolo maçônico. A segunda fonte contém a cabeça triangular de um réptil sobre o escudo da Catalunha inscrito num hexágono, rodeados de flores de eucalipto. Alguns dizem que a cabeça pertence a uma serpente, em alusão à medicina, outros que se refere à serpente que Moisés levava no seu cajado, ou ainda que retrata o sardão, um réptil comum na Catalunha, cujos machos possuem a cabeça triangular.

A terceira fonte tem a forma de um réptil multicolorido conhecido como El Drac, que se converteu no emblema do parque e num dos símbolos da cidade de Barcelona. El Drac pode representar a cidade de Nîmes que tem um réptil em seu brasão de armas e foi onde Güell viveu na sua juventude, ou a salamandra alquímica que simboliza o elemento fogo, ou ainda é interpretado como um dragão, possivelmente o mitológico Píton do Templo de Apolo em Delfos. Em 6 de fevereiro de 2007, El Drac foi vandalizado com uma barra de ferro por três jovens, tendo sofrido danos na cabeça e nas costas. No entanto, foi facilmente restaurado pois os danos sofridos eram menores e foi possível recuperar a maioria dos pedaços de cerâmica arrancados.

El Drac 

A fonte do Círculo, Esquadro & Compasso
A segunda fonte da Serpente

Logo atrás de El Drac encontra-se uma escultura que fica no topo da escadaria, e que remete ao conhecido simbolismo de Gaudí. É chamada de Fogão do Alquimista e é uma estrutura com três pernas, que contém em seu interior uma pedra bruta. Existem duas teorias a respeito, a primeira que diz que pode ser uma alusão ao tripé utilizado pela pítia do Templo de Apolo em Delfos e a segunda que diz que a escultura é uma cópia do modelo que aparece no pórtico principal da Notre-Dame em Paris sendo que o fogão conteria “o ovo filosófico” dentro, que simboliza a matéria-prima a partir da qual tudo é gerado.

E atrás dessa escultura, no último patamar da escadaria, por debaixo da coluna central da sala hipostila, existe um local de repouso na forma de um pequeno recesso, chamado de Odeon, cuja borda está decorada com um padrão reminiscente dos mosaicos usados por Gaudí no exterior da Casa Vicens: flores cor de laranja num fundo verde.

Do lado esquerdo da escadaria para quem sobe, encontra-se a Casa Larrard, antiga residência do conde Güell, onde funciona atualmente o colégio CEIP Baldiri Reixac, enquanto que do lado oposto se situa o Jardim de Áustria, projetado na década de 1960 por Lluís Riudor i Carol.

Escultura Fogão do Alquimista

Odeon
Casa Larrard
Jardim de Áustria

No topo da Escadaria Monumental fica a Sala Hipostila, que poderia servir como um mercado no projeto original da urbanização, e foi construída entre 1906 e 1913. É composta por 86 colunas caneladas em estilo dórico, cada uma com cerca de 6 metros de altura. As colunas exteriores são ligeiramente inclinadas para o interior, atuando como contrafortes e fazendo um movimento ondulante e abertamente contrário às regras da composição clássica.

O teto é composto por abóbadas semiesféricas revestidas com trencadís branco, pré-fabricadas com cerâmica reforçada, tijolos e aros metálicos unidos com argamassa de cimento. Apesar destes reforços metálicos aumentarem a resistência da estrutura, a sua corrosão foi a principal causa de deterioração de muitas das estruturas do parque, pois foram feitos com metal corrente sem resistência à corrosão. Os arquitetos daquela época cometiam este tipo de erro pois estavam a experimentar materiais e técnicas construtivas que ainda não eram totalmente compreendidas na época.

Sala Hipostila

Entre a floresta de colunas igualmente espaçadas, Gaudí criou três espaços maiores suprimindo algumas colunas, possivelmente com o objetivo de organizar as bancas dos vendedores que viriam vender ali os seus produtos. Nos espaços vagos deixados no teto pelas colunas suprimidas encontram-se quatro grandes rosetas coloridas com quase 3 metros de diâmetro representando o Sol durante as quatro estações do ano, rodeadas por catorze rosetas menores com desenhos de remoinhos e espirais, representando estrelas ou luas. 

Estas rosetas são da autoria de Josep Maria Jujol, que usou fragmentos de cerâmica e vidro e também vários outros materiais reciclados. No centro das rosetas maiores existem ganchos metálicos que provavelmente serviam para pendurar candeeiros caso fosse necessário iluminar o espaço durante a noite.

Roseta

As colunatas exteriores são coroadas por uma cornija com gárgulas em forma de cabeça de leão, bem como pequenos relevos em forma de gota de água sobre o ábaco, e sobre essa cornija podemos observar a parte exterior do banco ondulado que fica no andar de cima na praça oval.

A grande praça oval sobre a Sala Hipostila não foi pavimentada e o projeto de Gaudí previa que a água das chuvas fosse recolhida, drenada e canalizada por tubos existentes no interior das colunas para uma cisterna com 1.200 m³, existente por debaixo da grande salão e que seria usada na rega do parque, sugerindo um conceito sustentável já naquela época. Se o volume de água acumulado na cisterna ultrapassar um determinado limite, o excesso de água é escoado pelas fontes da escadaria.

A Sala Hipostila é provavelmente uma das mais controversas criações de Gaudí, pois vai totalmente contra a convicção adquirida ao longo dos anos pelo arquiteto catalão de que a natureza é o melhor modelo e de que retas e ângulos retos são antinaturais e desnecessários.

A cornija exterior sobre a Sala Hipostila

Sobre a Sala Hipostila situa-se uma imensa praça aberta não pavimentada de forma oval, conhecida como Plaza de la Naturaleza ou também Teatro Grego, construída entre 1906 e 1913. A metade sul da praça é suportada pelas colunas da Sala Hipostila e delimitada por um banco ondulante que tem cerca de 150 metros de comprimento, revestido com trencadís, enquanto a outra metade está assente na encosta da montanha.

A praça destinava-se supostamente a acolher um teatro grego, com as bancadas situadas do lado norte de forma a que os espetadores pudessem desfrutar da vista da cidade e do mar por detrás do palco. É possível que o conde Güell tivesse dúvidas sobre o que pretendia fazer com este espaço ou que tenha mudado de ideia quando percebeu que o projeto seria um fracasso. Isso explicaria não só a ausência de um teatro permanente, mas também o tamanho da praça e o porquê de possuir um banco tão longo. É muito provável que várias peças de teatro tenham sido apresentadas neste espaço, embora não restem registros que o comprovem, mas é certo que Güell permitiu o uso desta praça para grandes eventos sociais e angariações de fundos.

Vista aérea da Plaza Oval ou de la Naturaleza

O banco ondulante é formado por uma sequência de módulos côncavos e convexos com 1,5 metros, com um desenho ergonômico adaptado ao corpo humano concebido por Gaudí com base no estudo do corpo de um trabalhador sentado e construído usando apenas três tipos de peças pré-fabricadas. O banco possui uma fantástica vista panorâmica da cidade e as suas curvas formam vários recessos, permitindo às pessoas neles sentadas conversar em relativa privacidade apesar da dimensão da praça. 

O assento está revestido com trencadís branco e é inclinado de forma a conduzir a água da chuva para a parte de trás do assento, onde se situam aberturas que escoam a água para o exterior, mas as costas do assento e a parte exterior do banco são revestidas com trencadís colorido da autoria de Josep Maria Jujol, que usou sobretudo motivos abstratos como ondas, círculos e arabescos, mas também alguns elementos figurativos como trepadeiras, folhas, flores, conchas, estrelas e os signos do zodíaco. 

Detalhe do banco arredondado

O trencadís foi construído essencialmente com pedaços de mosaico, louça e garrafas, e uma curiosidade diz que Jujol usou o seu próprio serviço de jantar decorado com anjos pintados e algumas peças cedidas por Martí Trias. Já as peças arredondadas do topo do banco e da saliência nas costas do assento foram feitas especificamente para esse propósito. Nestas, antes da cozedura, Jujol inscreveu ramos, folhas, desenhos abstratos e uma série de palavras ou frases que demoraram mais de 50 anos a serem descobertas e permanecem um mistério até hoje.

A substituição de algumas destas peças ao longo dos anos tornou a sua compreensão ainda mais difícil, mas as frases são na sua maioria referências alegóricas à Virgem Maria. Partes do banco foram restauradas há alguns anos, tendo-se perdido um pouco da qualidade original. No lado norte da praça existiam ainda algumas grutas que Gaudí ampliou de forma a servirem de local de repouso, entretanto a maioria foi selada.


O banco arredondado da Praça Oval

Para efeitos de visitação, o roteiro mais indicado é depois de passar pela Sala Hipostila, ir conhecer o Jardines de Austria e a Casa Museu de Gaudí, que veremos a seguir, e aí subir para a Praça Oval ou de la Naturaleza, que acabei de descrever nos parágrafos acima. Falei antes sobre a Praça Oval por ela estar ligada à Sala Hipostila na estrutura e na localização, mas o ideal mesmo é visitá-la depois do Jardines de Austria.

Falando sobre o Jardines de Austria essa área foi um dos espaços designados para os lotes da urbanização. Quando o Parque Güell se tornou parque público, a área foi utilizada como viveiro municipal. O nome Jardins Austríacos deriva da doação de árvores por este país por ocasião da exposição "Viena em Barcelona", realizada em 1977. O jardim goza de vistas magníficas e do seu centro avistam-se duas das pouquíssimas casas que foram construídas durante os primeiros anos quando o Parque Güell deveria ser um empreendimento imobiliário. 

Jardínes de Áustria

A primeira delas, a Casa Trias, construída em 1906 para o advogado Martí Trias, em estilo eclético e com toques modernistas, foi obra do arquiteto Juli Batllevell, discípulo de Domènech i Montaner. Está localizada na parte alta do parque onde as vistas da cidade são esplêndidas. 

E a segunda casa, La Torre Rosa, foi a casa-modelo da urbanização, obra de Francesc Berenguer, foi concluída em 1904. Porém com o fracasso do projeto, foi adquirida por Gaudí em 1904, que mudou para a casa com seu pai e sua sobrinha, permanecendo ali até o final de 1925, quando se mudou para a oficina da Sagrada Família.

Casa Trias
La Torre Rosa, hoje Casa-Museo Gaudí

Após a sua morte a casa foi posta à venda, tendo sido adquirida pelo casal italiano Chiappo Arietti, e a receita desta venda foi revertida a favor da continuação das obras da Sagrada Família, de acordo com a vontade expressa de Gaudí em seu testamento. Em 1960, após a morte do casal, a casa foi comprada pela Associación Amigos de Gaudí com o objetivo de fundar um museu dedicado ao arquiteto, e viria a ser inaugurado a 28 de setembro de 1963. 

O museu é rodeado por um jardim com uma pérgula com arcos parabólicos desenhada por Gaudí e peças provenientes de outras obras do arquiteto. No interior, o museu conta com uma ampla coleção de objetos pessoais e obras de Gaudí e de alguns dos seus colaboradores, distribuída em três pisos: no térreo uma exposição com mobiliário desenhado por Gaudí para as casas Batlló e Calvet; no primeiro piso o que chama mais a atenção é o escritório e o quarto de Gaudí; e no segundo piso encontra-se a Biblioteca Enric Casanelles, que não está incluída na visita ao museu e cujo acervo só pode ser consultado com marcação prévia, em homenagem a Enric Casanelles i Farré que foi secretário da Associación Amigos de Gaudí e um dos principais divulgadores da obra da arquiteto.


Interior da Casa-Museo Gaudí

Existem 3 kms de estradas que foram projetadas na concepção do parque para servir as casas dentro do condomínio, sendo que os caminhos principais tem 3 metros de largura com vários atalhos, escadas e declives que permitem o acesso direto às diferentes partes do parque.

O caminho principal do parque, conhecido como Caminho do Rosário por ser ladeado por uma fileira de esferas de pedra a jeito de contas de um rosário, parte da praça oval e atravessa o parque transversalmente. Tem dez metros de largura e foi construído sobre uma antiga estrada romana que conduzia a Sant Cugat del Vallès.


Camino del Rosario

Gaudí projetou uma série de três viadutos para o parque perfeitamente integrados no terreno e que foram projetados para não alterar a estética natural do parque. São suficientemente largos para permitir a passagem de carruagens, com caminhos pedonais independentes sob as arcadas, de forma a separar o trânsito pedestre do trânsito de veículos.  No entanto, apesar das semelhanças conceituais, os viadutos têm soluções estruturais diferenciadas, inspiradas em diferentes estilos arquitetônicos: por exemplo o Viaduto do Museu, que fica próximo à Casa-Museu Gaudí foi concebido em estilo gótico, o intermédio Viaduto da Alfarrobeira, vizinho ao colégio, em estilo barroco e o superior Viaduto das Jardineiras ou do Plantador, próximo da Casa Trias, em estilo românico.

Estes três viadutos de cinco metros de largura levam à colina das Três Cruzes, também conhecido como Monumento do Calvário. Uma estrada transversal de dez metros de largura liga a estrada do Carmel à saída para Sant Josep de la Muntanya. Abaixo, algumas fotos dos viadutos, mas vou ser sincera... não tenho muita certeza porque na internet existe uma confusão danada quanto à nomenclatura dos viadutos... Quando eu for pra lá, vou tirar fotos certas e dar os nomes certos aos bois... ops... aos viadutos!!!

Viaduto do Museo visto de cima
Viaduto do Museo

Viaduto das Jardineiras
Viaduto das Jardineiras visto de cima

Viaduto da Alfarrobeira
Viaduto da Alfarrobeira visto de cima

O fato de Gaudí rejeitar o uso de retas e ângulos retos por os considerar antinaturais levou a que todas as abóbadas dos pórticos sejam curvas e que predominem as colunas inclinadas. Gaudí também desenhou várias estruturas salientes na encosta com muros de suporte e pórticos

Os pórticos e os muros de contenção também têm formas diferenciadas, alguns deles com colunas e arcos em forma de troncos e ramos de palmeira, como o muro de contenção que limita a praça oval do lado norte. Dentre o conjunto destaca-se ainda o pórtico que rodeia a Casa Larrard, o Pórtico da Lavadeira, cujas paredes e teto têm o formato do interior de uma interminável onda em rebentação suportada por uma fileira de colunas interiores inclinadas, cujos ângulos foram cuidadosamente calculados de forma a corresponder à forma teórica de maior estabilidade. 

À frente das colunas interiores existe uma segunda fileira de colunas com formatos todos diferentes, sendo que uma delas tem a forma de uma lavadeira, que deu o nome do pórtico, que suporta as plantações que ladeiam a estrada em cima. Um segundo trecho do pórtico, que suporta uma curva apertada da estrada em cima, possui colunas helicoidais inclinadas com capitéis em forma de funil que se fundem perfeitamente no teto. Esta preocupação de Gaudí em fundir as colunas, abóbadas e paredes em uma superfície contínua, característica dos últimos anos da sua carreira, foi igualmente usada com grande efeito na concepção do interior da Sagrada Família.

Pórtico das Lavadeiras

Mirador do Pórtico das Lavadeiras
Estátua da Lavadeira

Gaudí empenhou-se em conseguir que as estradas se integrassem perfeitamente na paisagem, pelo que os viadutos, pórticos e muros de suporte, assim como as muretas e as colunas em forma de árvores, estalactites e formas geométricas que ladeiam as estradas, foram concebidos usando pedra rústica extraída do local, de tamanhos e formas muito variáveis, minimizando a intrusão das estradas e integrando-as perfeitamente na paisagem.

Quando Güell comprou o terreno, este estava praticamente desflorestado como indicava o seu nome na época, Montanha Pelada. Gaudí mandou plantar uma nova vegetação, escolhendo sobretudo espécies mediterrâneas autóctones, as que melhor se adaptavam ao terreno: pinheiro, alfarrobeira, azinheira, eucalipto, palmeira, cipreste, figueira, amendoeira, ameixoeira, mimosa, magnólia, agave, hera, cisto, lavanda, salva, entre outras. Toda essa vegetação foi distribuída ao longo das estradas, do topo dos pórticos, das encostas, muros de suporte e viadutos de forma a que as estruturas se misturassem com a vegetação.

Vegetação

Numa colina na parte alta do parque, a 182 metros de altura, fica o monumento Turó de les Tres Crues, ou em português Colina das Três Cruzes ou também como é conhecido por Monumento do Calvário. Antigamente este local era denominado Turó de les Menes, ou em português "Colina das Minas", em homenagem a algumas minas de ferro que existiam no local,

Gaudí planejou construir uma capela, mas devido ao fracasso da urbanização o projeto acabou por não ser concretizado. No projeto original, a capela teria um diâmetro de 30 metros, com formato lobulado, como uma flor de seis pétalas. Por fim, no local onde estaria a capela, Gaudí construiu um monumento em forma de calvário com três cruzes. Inspirado pela descoberta de algumas cavernas pré-históricas onde foram encontrados restos fósseis, Gaudí concebeu o Calvário como um monumento megalítico, ao estilo dos talayots da pré-história balear.

 O monumento tem planta circular e duas rampas de escadas, no topo das quais estão as três cruzes e de onde se tem uma magnífica vista panorâmica de Barcelona. Existem duas cruzes inferiores com 1,5 metro e uma superior com 1,7 metro de altura, uma das quais termina em forma de flecha. A orientação das cruzes indica os quatro pontos cardeais e aquela que termina em seta aponta para o céu, o que dá origem a especulações sobre o seu significado. As cruzes foram destruídas em 1936, no início da Guerra Civil, e reconstruídas em 1939. Novamente em 1995 o monumento passou por uma completa restauração. Os jardins ao redor do Calvário apresentam uma estrutura de terraços com elementos ornamentais e foram desenhados pelo paisagista Lluís Riudor i Carol. 


Turó de las Tres Crues

A entrada à zona monumental é paga e há longas filas sendo que entram 400 pessoas a cada meia hora, por isso não é má ideia comprar o ingresso pela internet sem filas e com desconto.

Abaixo, os dados de localização e horários de funcionamento:
  • Endereço: Carrer d’Olot, 7
  • Horários: todos os dias das 9:30 horas às 20:00 horas
  • Ingresso para a zona regulada do parque:
    • Adultos: €10 
    • Crianças entre 7 e 12 anos, maiores de 65 anos e acompanhantes de pessoas com mobilidade reduzida: €7
    • Menores de 7 anos e pessoas com mobilidade reduzida: gratuito
    • Visita guiada pelo Parque Güell: €26
  • Site: https://parkguell.barcelona/en
  • Entradas: é recomendável comprar com antecedência

Parque Güell à noite

Depois da visita ao Parque Güell, vamos seguir nosso roteiro conhecendo a primeira das famosas casas Gaudí, e que fica razoavelmente perto do parque. O ideal é usar algum meio rápido de locomoção (taxi, carro, ônibus) para chegar rapidinho na Casa Vicens, que fica próximo da Calle Gran de Gràcia, uma tradicional rua comercial do bairro e que liga o parque ao Passeig de Gràcia.

A Casa Vicens é uma casa de verão desenhada por Antoní Gaudí, construída entre os anos de 1883 a 1888, e foi encomendada pelo dono de uma fábrica de tijolos e fabricante de azulejos, Manuel Vicens. A profissão de seu proprietário contribuiu e muito como inspiração do arquiteto no uso ilimitado de tantos azulejos coloridos e decorados.

O jovem Gaudí ainda não tinha muita experiência prática quando começou a construção do edifício em 1883, antes executara apenas trabalhos de obras públicas, não tendo nenhuma experiência na construção de casas de habitação. Além disso, não se tratava de uma tarefa fácil, pois o terreno não era grande e a casa ia integrar-se em um ambiente de construções relativamente convencionais.


Fachada da Casa Vicens

Foi a primeira grande obra de Gaudí e ergue-se, como um palácio dos contos das "Mil e Uma Noites", inspirada no exotismo do Oriente Médio que estava em vigor na Europa no século XIX. Nesta obra, a preocupação de Gaudí era a união entre a tradição burguesa espanhola e a tradição árabe secular. Gaudí criou algo original ao construir esta casa: começou em estilo espanhol, tornando-se cada vez mais árabe ou talvez até persa, à medida que ia crescendo em altura, sendo difícil definir com exatidão o seu estilo.

Em termos de estrutura arquitetônica, não se pode dizer que esta obra de Gaudí seja algo de espantoso. Pode ser classificada como simples, quando comparada com as estruturas espaciais complexas dos trabalhos efetuados mais tarde por Gaudí. A planta é quase retangular e a única exceção fica na entrada, onde Gaudí projetou um pequeno átrio, onde a sala de jantar avança um pouco para lá da fachada. Mas mesmo assim, a Casa Vicens já deixa antever que Gaudí era um arquiteto que aliava a imaginação a um estilo próprio.

Foto Detalhe dos Azulejos

A estrutura do edifício é dominada por linhas retas e foi construído usando pedra local extremamente barata, apesar da impressão luxuosa da obra. Os ladrilhos decorativos e torreões fantásticos mostram ideias que Gaudí não pararia de cultivar. O edifício tem diferentes volumes separados por ângulos sendo que os dois pisos dividem-se, devido às paredes principais contínuas, em duas partes iguais. Esse conceito de retas e ângulos acabou sendo deixado de lado por Gaudí ao longo de suas próximas obras arquitetônicas.

No piso térreo ficam as salas mais bonitas de toda a casa, começando pela entrada em um pequeno hall de paredes revestidas com azulejos floridos. Há também uma sala de fumadores considerado um espaço de relaxamento e lazer masculino, um verdadeiro oásis oriental onde o teto formado por uma estrutura de muqarnas de gesso e os revestimentos das paredes são feitos de azulejos de papel machê em verdes, azuis e dourados. Finalizando, um lambril de azulejos que alternam ocre e azul celeste, sobre os quais aparecem rosas amarelas e vermelhas pintadas a óleo.


Sala dos Fumadores

Mas a sala que mais se destaca é a belíssima sala de jantar, onde se destacam a arquitetura e a decoração que compõem uma verdadeira obra de arte: os móveis originais em madeira desenhados por Gaudí, a coleção de 32 pinturas de Francesco Torrescassana entranhada entre os móveis, a ornamentação com motivos vegetalistas nas paredes e no teto ou ainda a lareira toda revestida com azulejos cerâmicos. Da sala de jantar dá-se acesso à galeria coberta com uma fonte em mármore que garante a frescura do espaço.

Sala de Jantar
Galeria com fonte

Na época da construção, a casa tinha um magnífico jardim, com dimensões bem maiores que nos dias de hoje e era dominado por uma grande cascata e uma fonte circular que ajudava a refrescar esta casa de veraneio. Mas devido à expansão da cidade, veio a reduzir-se cada vez mais, até se transformar no pequeno espaço atual que ocupa uma pequena área de 300 m².

O jardim está sob a proteção de Santa Rita, cuja missa continua sendo celebrada lá todos os anos no dia 22 de maio. Apesar de ser sua primeira obra, o jardim mostra toda a criatividade do jovem Gaudí e sua constante preocupação no que se refere à natureza e à fauna do Mediterrâneo, e já se delineava sua visão naturalística da arquitetura. Palmeiras, magnólias, tamareiras, rosas e várias plantas trepadeiras originalmente cercam esta residência para torná-lo um paraíso de frescor orientalista. Há um café que você pode aproveitar para relaxar e curtir um pouco a tranquilidade do local.

Jardim da Casa Vicens

O primeiro andar era o andar íntimo e privado da Família Vicens. Existem três quartos, uma sala de estar, uma casa de banho e um magnífico terraço. A decoração dos tetos é com cerâmicas e papier-mâché onde domina o verde. Nas paredes, estuques simbolizam samambaias e juncos. A pequena sala tem uma cúpula dourada e magníficos pássaros em voando, em trompe-l'oeil. No banheiro, azulejos cerâmicos colorem o quarto em ocre, azul e branco. Há também um enorme aposento que se chega através de um longo corredor, ambos minimalistas e todo em branco, sem nenhuma decoração ao estilo de Gaudí. Este espaço é dedicado às exposições temporárias que acontecem no local.

O segundo andar é agora um espaço permanente dedicado à história da Casa Vicens, também seguindo o mesmo estilo minimalista e todo em branco do espaço das exposições temporárias do primeiro andar. O visitante descobre modelos, planos, vídeos, infográficos explicando a evolução da casa, da sua construção à sua renovação. Esta exposição é intitulada “A Casa do Manifesto” porque, como você entendeu, este primeiro trabalho de Gaudí já revela o início de um gênio em formação e sua linguagem arquitetônica.

O terraço é ladeado por uma passarela e é um dos grandes destaques da casa. Apesar de ser mais simples que os terraços das outras casas Gaudí, suas torres e chaminés lembram à arquitetura do Alhambra, em Granada. Um engenhoso sistema é usado para coletar a água da chuva. Uma pequena cúpula, telhas e cerâmicas coloridas reforçam ainda mais o espírito oriental do edifício. 

Há também no piso subterrâneo, há a loja de presentes / livraria especializada, os banheiros, um espaço de restauração e multimídia com projeções de trabalhos de Gaudí e todo o processo de reforma e recuperação.


Hall de Entrada
Dormitório no 1. Andar
Banheiro
Escada
Lojinha
Exposição Permanente
no 2. Andar
Exposições Temporárias
no 1. Andar
Maquetes
Sala Multimídia

Concluída em 1885, a Casa Vicens foi uma residência privada por 130 anos e foi vendida e restaurada várias vezes ao longo deste período. Em 1925, a família Jover eram os novos proprietários da casa, e compraram o prédio de trás, que era um convento, ao mesmo tempo que contrataram o arquiteto Joan Bautista Serra de Martínez para aumentar a casa respeitando todos os detalhes, azulejos e estilo original de Gaudí. Nesse momento a casa foi praticamente duplicada.

Mas em 2014 foi comprada pelo banco andorrano MoraBanc, que realizou um enorme trabalho de restauração para transformar o local em um museu e centro cultural. Foi aberta ao público em novembro de 2017 exibindo muitos dos projetos originais de Gaudí, enquanto hospeda ainda exposições permanentes e rotativas dentro de suas instalações. 

A reabilitação da Casa Vicens permitiu ressuscitar os elementos arquitetônicos existentes e restaurar os que faltavam, os quais foram reproduzidos através de fotografias antigas. O grande desafio foi desenhar uma nova escada que se adaptasse às normas vigentes e ao mesmo tempo substituísse a escadaria original de Gaudí. Este elemento vertical único, acompanhado por um elevador, ocupa o coração central do edifício e conecta a casa de verão de três andares, que Gaudí construiu em 1885 para a família Vicens, com o volume acrescentado em 1925 pelo arquiteto Serra de Martínez para acomodar três famílias em três andares diferentes. Os patamares da escada conduzem aos quartos da casa original, e o novo volume amplia-se no estilo clean e despojado da extensão do século XX.

As reformas na Casa Vicens: o projeto original em 1885;
a primeira reforma em 1925 com a incorporação do prédio de trás;
e a última reforma em 2017 já sem grande parte do jardim.

A Casa Vicens é uma colagem e porque não dizer uma ruptura de estilos bem diferentes e é um bom exemplo de como, através de um mero trabalho da superfície e de uma decoração suntuosa, foi possível transformar uma construção normalíssima num pequeno castelo.

Em 1993, a Casa Vicens foi nomeada Patrimônio Histórico e em 2005, foi tombada pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade.

Abaixo, os horários de funcionamento e valor do ingresso:
  • Endereço: Carrer de les Carolines, 20-26
  • Horário de funcionamento:
    • De novembro a março: todos os dias das 9h30 às 18h00.
    • De abril a outubro: todos os dias das 9h30 às 20h00.
    • Fechado: 25 de dezembro e 1 e 6 de janeiro. De 8 a 17 de janeiro, a Casa Vicens fica fechada para trabalhos de manutenção e restauro.
    • Observação: o último acesso é 1h20 antes do fechamento da bilheteria.
  • Ingressos (na bilheteria há um acréscimo de 2,50€): 
    • Geral 18€
    • Reduzida 16€ (estudantes dos 12 aos 25 anos e maiores de 65 anos)
    • Gratuito para crianças até 11 anos e acompanhante de pessoa com diversidade funcional
  • Website e venda de ingressos: https://casavicens.org/
 Cúpula da sala do primeiro andar

Saindo da Casa Vicens o próximo destino vai ser a Casa Milà, também de Gaudí. Mas antes vamos conhecer um pouco sobre uma das avenidas mais famosas de Barcelona, e onde vamos ver vários pontos turísticos e também as famosas Casas Gaudí.

Só para explicar, existe a Carrer Gran de Gràcia que é uma rua bem estreita, muito graciosa com algum comércio, praças e edifícios muito charmosos. Ela começa nos Jardins de Salvador Espriu e vai em direção ao Parque Güell, é de uma única mão e o sentido é portanto na contramão do nosso roteiro, já que vamos em direção ao Passeig de Gràcia. Aqui o ideal é tentar pegar o metro para chegar mais rápido na Casa Milà, ou ir à pé em uma agradável caminhada de uns 20 minutos.

Carrer Gran de Gràcia

Separando a Carrer Gran de Gràcia e o Passeig de Gràcia ficam os Jardins de Salvador Espriu, também conhecido em catalão como Jardinets de Gràcia, em português "pequenos jardins de Gràcia".

Foram realizadas no contexto da Exposição Internacional de 1929 por Nicolau Maria Rubió i Tudurí, então diretor de Parques e Jardins de Barcelona, ​​para servir de elo de ligação entre o Paseo de Gracia e o bairro de Gracia. Recebeu seu nome em homenagem a Salvador Espriu, poeta de língua catalã, que vivia em frente aos jardins. Têm formato retangular e sua parte central é ocupada por longos canteiros de grama, margeados por vinte plátanos dispostos em fileira. No seu topo existe uma fonte com jatos de água.

Jardins de Salvador Espriu

E a partir dos Jardins de Salvador Espriu começa o Passeig de Gràcia, uma das mais belas avenidas de Barcelona e onde ficam localizadas várias outras atrações que veremos no decorrer da tarde, como vários edifícios dos arquitetos Antoni Gaudí, Josep Puig i Cadafalch e Lluís Domènech i Montaner, declarados Patrimônio da Humanidade.

A avenida está localizada na parte central da cidade, a Ensanche de Barcelona, ​​e liga a Plaza de Catalunya a leste com a Carrer Gran de Gràcia a oeste. Configurada no estilo de um grande boulevard, com um trecho de 61 metros, é apenas nove metros menor que a avenida dos Champs-Elysées, em Paris. Afirma ser, com os seus 1,6 quilómetros de extensão, a terceira rua comercial mais cara de Espanha em termos de aluguel, sendo precedida pela Rua Preciados, em Madrid, e a vizinha Avenida Puerta del Ángel, em Barcelona.


Passeig de Gràcia

Conta a história que o Passeig de Gràcia vem desde os tempos do antigo Caminho de Jesus, uma estrada rural e com pomares em ambos os lados, e devia seu antigo nome ao convento franciscano de Santa María de Jesús que já existia no local desde 1427. Esse era o único edifício da planície de Barcelona fora das muralhas da cidade, e era composto por convento, claustro, igreja, cemitério e pomar, até ser destruído na Guerra da Independência.

Em 1821, a Câmara Municipal de Barcelona apresentou o primeiro projeto de urbanização, obra de Ramón Plana mas a avenida só foi realmente inaugurada em 1827. Na época tinha 42 metros de largura, um estilo paisagístico remetendo às avenidas francesas e era o local preferido da aristocracia para exibir suas habilidades na arte de andar a cavalo ou então passear com seus carros luxuosos ao longo do  século XIX. Nesta época, o Paseo era um dos locais de lazer mais conhecidos da cidade, com cafés, restaurantes, salões de dança, atrações e teatros. 


Os primeiros anos do Passeig de Gràcia

Na última década do século XIX, aos poucos toda esta parte da cidade adquiriu um papel comercial, atraindo a burguesia, o que fez com que casas isoladas com jardins fossem substituídas por prédios de apartamentos. Finalmente, entre 1900 e 1914, o Passeig de Gràcia consolidou-se como o principal centro residencial burguês com a contribuição criativa dos arquitetos modernistas. Em 1906, o arquiteto Pere Falqués desenhou os famosos trencadís bancs-fanals, em português poderia ser traduzido como "bancos com lanternas", distribuídos ao longo do passeio.

* Trencadís são uma espécie de mosaico composto por peças irregulares de cerâmica, mármore ou vidro, geralmente de desenho abstrato.

Os Bancos com Lanterna

O Passeig de Gràcia é também um destino de compras de luxo, abrigando lojas de marcas internacionais e designers famosos. E além das lojas, a avenida oferece uma variedade de restaurantes, cafés e bares, proporcionando opções para todos os gostos.

Uma das características mais marcantes do Passeig de Gràcia é a sua arquitetura modernista. Muitos edifícios ao longo da avenida foram projetados por renomados arquitetos catalães, e é nela que se encontram alguns dos edifícios mais famosos e notáveis de Barcelona, que veremos a seguir, como as Casas Milà e Batlló de Antoni Gaudí e a Casa Amatller de Josep Puig i Cadafalch.

Explorar o Passeig de Gràcia é uma experiência única que oferece um vislumbre da rica herança arquitetônica e cultural de Barcelona. A melhor pedida é caminhar ao longo da avenida para apreciar a beleza dos edifícios e desfrutar das opções de compras e gastronomia.


Os edifícios modernistas do Passeig de Gràcia

Nossa primeira parada vai ser para conhecer a Casa Milà que é uma das obras arquitetônicas mais emblemáticas da cidade e que foi projetada pelo renomado arquiteto catalão Antoni Gaudí e foi seu último trabalho de cunho residencial. Essa construção única é um exemplo impressionante do modernismo catalão, uma corrente artística que floresceu no final do século XIX e início do século XX.

A Casa Milà foi encomendada por Pere Milà i Camps e sua esposa Roser Segimon i Artells, um casal abastado da sociedade catalã e a sua construção começou em 1906 e foi concluída em 1912. Na época gerou muita controvérsia, pois sua fachada de pedras ondulantes e sacadas de ferro forjado retorcido não foram bem aceitas pela sociedade conservadora que a apelidou de La Pedrera, em português "A Pedreira". A casa foi concebida para ser uma residência multifamiliar, incluindo espaços residenciais e comerciais.

O design inovador da Casa Milà destaca-se por uma ausência total de linhas retas, uma característica marcante do estilo de Gaudí. A fachada ondulante e as varandas de ferro forjado dão à Casa Milà uma aparência surreal, quase orgânica, como se fosse uma escultura feita pela natureza. A influência da natureza nas obras de Gaudí é evidente em toda a estrutura e os detalhes orgânicos e as formas curvilíneas refletem justamente a inspiração que ele encontrou na observação da natureza.

Fachada da Casa Milà

A fachada da Casa Milà é uma das características mais inovadoras do edifício. Gaudí evitou o uso de linhas retas, optando por formas onduladas que conferem à estrutura uma sensação fluida e orgânica. A fachada, feita de pedra calcária, parece esculpida pela natureza, com formas que evocam ondas ou dunas de areia. Gaudí era meticuloso em relação aos detalhes, e isso é evidente na textura da fachada que adicionou uma certa profundidade visual. 

Uma das características mais distintivas da Casa Milà é o seu telhado, uma obra de arte por si só. Gaudí projetou uma paisagem surreal de esculturas de pedra que se assemelham a guerreiros ou sentinelas de armadura, proporcionando uma visão surreal quando vistas de longe. Essas esculturas não só servem a propósitos decorativos, mas também têm uma função prática, agindo como chaminés e respiradouros, além da existência também de claraboias e saídas de escadas. Todos estes elementos foram construídos com calcário, mármore quebrado ou vidro têm uma função específica de arquitetura. No entanto, elas se tornaram esculturas reais e integradas ao edifício.

Telhado da Casa Milà

Outro elemento arquitetônico que também se destaca são as janelas e aberturas na fachada distribuídas de maneira irregular, rompendo com a simetria tradicional. Gaudí projetou essas aberturas de diferentes formas e tamanhos, incorporando elementos geométricos curvos e assimétricos, o que adiciona complexidade visual à fachada.

Mas o que chama mesmo a atenção são as varandas de ferro forjado. Elas se estendem ao longo da fachada, adicionando um toque artístico e funcional ao edifício. Gaudí projetou as grades das varandas de forma a se assemelharem a formas naturais, como folhas ou flores, contribuindo para a estética geral orgânica da casa. Além das varandas, a fachada da Casa Milà apresenta esculturas decorativas que retratam figuras abstratas e formas que lembram elementos da natureza. Essas esculturas contribuem para a aparência única do edifício.

Detalhes das janelas e varandas

O prédio tem 1.323 m² por andar em um terreno de 1.620 m² e é como se fossem dois edifícios juntos, estruturados ao redor de dois pátios que fornecem luz para os nove níveis: porão, piso térreo, mezanino, andar principal, quatro andares superiores e um sótão. 

O porão é onde ficava a garagem, o andar principal era o apartamento da família Milà e o restante distribuído em outros 20 apartamentos para alugar. No sótão foram alojadas as áreas de lavandaria e de secagem, formando um espaço de isolamento do restante do prédio e determinando os níveis do telhado. 

A construção é uma entidade única em que a forma do exterior continua para o interior. Gaudí queria que as pessoas que morassem nos apartamentos conhecessem uns aos outros e, portanto, havia apenas um elevador forçando as pessoas a se comunicar uns com os outros em diferentes andares. Cada um dos andares tem quatro apartamentos construídos em torno dos dois pátios interiores, o Pátio das Borboletas e o Pátio das Flores, e cada apartamento tem um corredor para aceder e articular as várias divisões.

A Casa Milà na verdade é um complexo de apartamentos e espaços diversificados, que se espalham ao redor de seus pátios internos. Pra tentar entender como é a estrutura por dentro, encontrei na internet duas plantas-baixas que dá pra ter uma noção de como tudo é disposto. Em cada andar existem vários apartamentos, de tamanhos e formatos diferentes entre si, mas todos com acesso aos pátios internos e às fachadas externas.

Planta-baixa do Térreo
e o acesso as Pátios Internos
Planta-baixa dos andares

Como vemos pelas plantas acima, a Casa Milà tem três fachadas, uma no Paseo de Gracia, outra que é a mais longa e fica na calle Provenza e outra fachada chanfrada entre as duas ruas. Junto a estas fachadas devemos mencionar a fachada posterior, que dá para o pátio interno do quarteirão formado pelas ruas Paseo de Gracia e Provenza, Rosellón e Pau Claris, não visível ao público em geral, pois apenas os vizinhos têm acesso.

As portas principais ficam nas fachadas da calle Provenza e na fachada chanfrada, e dão acesso ao interior da Casa Milà através de vestíbulos que se ligam aos dois pátios luminosos, favorecendo também o trânsito interior entre as duas zonas do edifício. Os dois grandes portais permitiam a passagem de veículos para que se chegasse à garagem inferior através de rampas que conduziam ao porão. Para acesso às residências, Gaudí priorizou o uso de elevadores, reservando as escadas como acesso auxiliar e para serviços comuns. Porém, para acesso ao piso principal onde ficava o apartamento da família Milà, colocou duas grandes escadas, decoradas com pinturas murais.

As duas portas de entrada são em ferro forjado e vidro, pelo que funcionam tanto como porta como portão de segurança. Seu design é orgânico e a sua estrutura ampla e diáfana permite a passagem fácil da luz e ilumina abundantemente os átrios interiores. 


Um dos vestíbulos de entrada

Escada do Pátio de las Flores
Escada do Pátio de las Mariposas

Porém, é ao entrar na Casa Milà que os visitantes são recebidos por interiores excepcionalmente inovadores. Gaudí procurou integrar a arquitetura e a decoração de interiores de maneira harmoniosa, além de projetar uma solução completamente original para que o hall de entrada e os pátios internos fossem naturalmente iluminados e arejados, favorecendo a circulação de pessoas no prédio sem a necessidade de luz artificial durante o dia.

Ao entrar por qualquer umas das duas portas, vamos encontrar os dois pátios internos, o Patio de las Flores que tem formato cilíndrico, com área de 90 m², e o Pátio de las Mariposas tem formato elíptico, com 150 m². De realçar a decoração das paredes pintadas com tons de ocre e amarelo, e apresentam alguns murais com vários desenhos inspirados em motivos florais e tapeçarias flamencas, maioritariamente da autoria de Xavier Nogués.

Em tempo: na recepção, você pode pegar um guia ou áudio-guia para obter informações mais detalhadas durante a sua visita.


Os dois pátios vistos de cima e o terraço do telhado

O Patio de las Flores era por onde entravam as carruagens e, mais tarde, os automóveis, lembrando que La Pedrera foi a primeira casa no Passeig de Gràcia com estacionamento subterrâneo, ao qual se acedia por uma rampa a partir deste pátio.

Os murais coloridos do pátio com motivos florais e as centenas de flores no teto da escadaria dão-lhe o nome e a escadaria monumental levava ao primeiro andar onde ficava o apartamento principal do casal Milà-Seguimán, embora eles somente a utilizavam quando davam uma festa, pois normalmente subiam de elevador. E por falar no elevador, um detalhe bem interessante é que ele é todo revestido em madeira e possui um banco para os passageiros se acomodarem, visto que naquela época a subida era bem lenta.

Patio de las Flores
Detalhe
 
Já o Patio de las Mariposas, ou Pátio das Borboletas em português, é um espaço onde tudo ganha vida. Destaca-se uma enorme borboleta que ficou parada no limiar entre a rua e o interior, uma imensa borboleta real. Mais acima, contornando a escadaria que dá acesso ao piso principal, repousa outra borboleta, ou um inseto fantástico. 

Neste espaço podemos observar bem como a iluminação e a ventilação eram uma prioridade nas criações do arquiteto, e como os pátios foram concebidos de forma a que a luz penetrasse com intensidade e a ventilação fosse optimizada pela entrada de ar.

Patio de las Mariposas
Detalhe

A visita segue rumo ao quarto andar, onde você conhecerá por dentro um dos apartamentos, conhecido por El Piso de los Vecinos. O espaço simula o estilo de vida de uma família burguesa que morava em Barcelona nas primeiras décadas do século XX, com todo o ambiente recriado como na época. Você terá a oportunidade de ver de perto alguns elementos ornamentais criados por Gaudí para La Pedrera, como maçanetas, puxadores, molduras e portas.

O apartamento é mobiliado com peças da virada do século XX, proporcionando uma experiência imersiva na atmosfera da Barcelona modernista. Móveis de madeira esculpida, tapeçarias e objetos de arte da época contribuem para a autenticidade do ambiente. A paleta de cores é muitas vezes suave e neutra, destacando a beleza dos detalhes arquitetônicos.

Esse apartamento destaca algumas curiosidades usadas na época, como por exemplo, o quarto das crianças que ficava ao lado do quarto da senhora que cuidava delas. A cozinha do apartamento dividida com portas de correr onde de um lado, ficava a cozinha propriamente dita e, do outro, a zona onde os empregados faziam as refeições. O escritório que mostrava o grau de nobreza da família através de suas obras de arte, como o retrato do proprietário feito pelo pintor modernista catalão Ramon Casas. Até o detalhe da pequena janela na porta principal do hall de entrada, que permitia ver quem estava à porta sem a abrir e ao mesmo tempo permitia receber a correspondência.

Sala de Estar e Sala de Jantar
Escritório
Dormitório
Quarto das Crianças
Cozinha
Pequena Janela

Os tetos em muitos dos quartos apresentam abóbadas impressionantes, outra característica comum nas obras de Gaudí. Essas abóbadas não só proporcionam uma estética única, mas também ajudam na circulação do ar e na iluminação dos espaços. Cada espaço na Casa Milà foi projetado com uma função específica em mente, mas Gaudí foi além, integrando arte e funcionalidade. Os quartos foram organizados de maneira a permitir a máxima entrada de luz e ventilação, criando ambientes confortáveis e esteticamente agradáveis.

Os terraços da Casa Milà oferecem vistas panorâmicas espetaculares de Barcelona. Além de sua função prática, esses espaços ao ar livre foram projetados artisticamente, com esculturas e detalhes arquitetônicos que se integram perfeitamente ao design global do edifício. Em resumo, o interior da Casa Milà é um testemunho do gênio criativo de Antoni Gaudí. Cada quarto e aposento foi cuidadosamente planejado, combinando funcionalidade e estética de maneira única. Ao explorar o interior, os visitantes têm a oportunidade de mergulhar na visão inovadora do arquiteto e na riqueza da vida burguesa na virada do século XX em Barcelona.

Detalhes dos terraços

Seguindo nossa visita à Casa Milà, vamos conhecer o belíssimo Attic de la Balena, ou em português Sótão da Baleia, que deve seu nome porque lembra um grande esqueleto de baleia devido ao efeito de seus 270 arcos de tijolos. Atualmente, os sótãos e terraços de um edifício acabam se tornando os andares mais desejados e valorizados em um prédio, dando espaço para coberturas maravilhosas. Mas nem sempre foi assim e no século passado, estes últimos andares eram na maioria das vezes usados para tarefas domésticas e serviços. 

A Casa Milà não foi exceção e o sótão foi o local destinado para as pessoas que trabalhavam em La Pedrera lavassem a roupa dos moradores como em uma lavanderia comunitária, e também onde estendiam e deixavam a roupa secar. Havia também todo o maquinário dos dois elevadores e áreas para outros serviços.

Como já mencionado acima, Gaudí usou a técnica do arco da catenária como estrutura de apoio para o telhado, dando origem a essa enorme sala arejada apoiada sob um teto de 270 abóbadas parabólicas de diferentes alturas e espaçadas por cerca de 80 cm.

L´Attic de la Balena ou Sótão da Baleia
Os Arcos Catenários

Atualmente, o espaço mostra uma exposição sobre a vida e obra de Gaudí, com destaque para La Pedrera. Nesta exposição podemos ver várias maquetes, como por exemplo a Maquete da Cave dos Arcos que explica como Gaudí projetou os 273 arcos catenários de diferentes alturas e que estão ligados por uma nervura no topo, criando um grande esqueleto. Ou também a maquete que utilizou para a primeira garagem para carruagens e automóveis num edifício de habitação em que utilizou basicamente uma cuja estrutura metálica é semelhante à de uma roda de bicicleta apoiada em colunas de ferro.

Maquete da Garagem
A Garagem em tamanho real

E ainda uma outra maquete muito interessante para compreender como surgiu a ideia do arco catenário de Gaudí: o modelo estéreo-funcional. Neste modelo, Gaudí desenhou a planta do edifício numa tábua e depois fixou-a no teto e com o auxílio de cordas de diferentes comprimentos criou arcos de diversos tamanhos, criando assim o arco catenário. Desta forma, Gaudí sabia a forma que cada arco iria apresentar. Embora na sua época os seus métodos fossem controversos e contestados por alguns, todos os estudos e tratados sobre o assunto deram razão a Gaudí, porque embora a técnica pudesse parecer artesanal, as fórmulas correspondiam a cálculos matemáticos corretos.

Entre outros objetos existe também uma maquete completa da própria Casa Milà, e também de alguns elementos de outros edifícios de Gaudí, como a Sagrada Família, a cripta da Colônia Güell ou o terraço do Parque Güell.

Maquete da Cave dos Arcos
Modelo Estéreo-Funcional
Maquete do edifício

Neste mesmo piso passaremos por uma loja de lembrancinhas, que vale uma pausa pra comprar alguma recordação bem autêntica.

O último lance de escadas, dessa vez no formato de uma espiral, nos levará à etapa final do tour, o famoso Terraço ou o Telhado dos Guerreiros, o mais famoso e emblemático espaço do edifício e que já foi mencionado no começo do texto. A cobertura de La Pedrera é um ícone de Barcelona e lá do alto, você terá uma vista espetacular de 360º da cidade. 

No terraço você verá as chaminés, torres de ventilação e escadas que formam incríveis esculturas, dando ao lugar um status de galeria de arte moderna ao ar livre. As chaminés se erguem em fileiras de guerreiros, enquanto as escadas surgem como as forças da natureza: terra, água, fogo, ar.

O Terraço dos Guerreiros

A Casa Milà é uma atração turística popular em Barcelona, atraindo visitantes de todo o mundo. Sua presença imponente e seu design inovador são um testemunho duradouro do gênio criativo de Antoni Gaudí e da rica herança cultural da Catalunha. Ela oferece uma experiência única, combinando a riqueza histórica, a arquitetura fascinante e as vistas deslumbrantes da cidade, e é uma obra-prima que transcende as convenções, desafiando a percepção tradicional da arquitetura.

Em 24 de julho de 1969 a obra de Gaudí recebeu o reconhecimento oficial como um monumento histórico-artístico. Após várias mudanças no projeto de Gaudí e um grande desgaste por falta de manutenção adequada, em 1987 o trabalho de restauração e limpeza da fachada começou após a compra do edifício pela Caixa de Catalunha. Posteriormente em 1984, a UNESCO incluiu-a no Património Mundial “Obras de Antoni Gaudí”, juntamente com o Palácio Güell, o Parque Güell e a cripta da Colónia Güell.

Depois de muitos anos de abandono, foi restaurada e aberta ao público como Centro Cultural em 1996. E desde janeiro de 2013, o edifício passou a abrigar a sede da Fundação Catalunya La Pedrera.

Fundación Catalunya La Pedrera

É importante registrar que existem várias exposições temporárias, eventos educativos ou atividades interativas que acontecem na Casa Milà. Para saber mais sobre a programação é só acessar o site: https://www.lapedrera.com/es/agenda-actividades-barcelona

Recomendo comprar online os ingressos com antecedência para evitar filas, lembrando que será necessário escolher data e hora quando efetuar a compra e é muito importante estar lá pontualmente para não perder seu ingresso. Existe uma tolerância de apensar 15 minutos, fique ligado!!! Você vai receber os ingressos no seu email cadastrado e poderá apresentá-los com o seu celular. A visita completa dura cerca de 1h30m.

Abaixo, os dados de localização e horários de funcionamento:
  • Endereço: Passeig de Gracia, 92
  • Horários:
    • Segunda a sexta: das 9h às 18h
    • Sábados, domingos e feriados: 10h às 14h
  • Ingressos (na bilheteria há um acréscimo de 3€): 
    • Essencial: é a entrada padrão com a qual você visita os espaços mais importantes do edifício. Custa 25€.
    • Completo: inclui também uma visita virtual utilizando as mais recentes tecnologias. Custa 35€.
    • Sunrise: permite a entrada antes da abertura ao público em geral e inclui uma visita guiada em inglês. Custa 39€.
    • Experiência Noturna: poderá visitar La Pedrera à noite com espetáculo visual único com múltiplas projeções nas claraboias, iluminação especial e trilha sonora para acompanhar tudo. Custa 35€.
    • Todos estes bilhetes, caso não tenham visita guiada, têm áudio guia em diferentes idiomas incluído no preço.
    • Descontos para crianças, estudantes e para residentes na Catalunha.
  • Site: https://www.lapedrera.com/
  • Entradas: https://www.lapedrera.com/es/visitas


Casa Milà à noite

Algumas curiosidades:
  • A Casa Milà é um edifício que pode ser visitado tanto de dia como de noite. No total você pode ver 4.500 m², distribuídos pelos vários andares entre o Terraço, o Sotão também conhecido como Espai Gaudí, o Apartamento de Época, os Pátios Internos e o Andar Principal, antiga residência da família Milà e, atualmente, Salão de Exposição.
  • Todos os anos, mais de um milhão de pessoas de todo o mundo visitam a Casa Milà.
  • Ainda existem imóveis residenciais para alugar, com algumas famílias morando lá há mais de setenta anos. Atualmente, a Casa Milà tem três inquilinos que ali residem.
  • La Pedrera já hospedou várias pessoas importantes, até um príncipe e toda a sua comitiva. Já foi ocupado por um hotel, um consulado e até um bingo.
  • Também aluga espaços, como lojas e escritórios comerciais, alguns deles desde a década de 1950. Há registro de que a primeira loja instalada na Casa Milà foi uma alfaiataria, em 1929!!

O Terraço dos Guerreiros à noite

Terminada a visitação à Casa Milà, vamos seguir nosso roteiro pelo Passeig de Gràcia em direção à mais uma das famosas Casas Gaudi... dessa vez vamos conhecer a esplêndida Casa Battló.

Localizada no número 43 do Passeig de Gràcia, a Casa Batlló é uma das obras mais aclamadas de Antoni Gaudí. Construída entre 1904 e 1906, a casa é um exemplo extraordinário do modernismo catalão, caracterizado por formas orgânicas, cores vibrantes e detalhes intricados. Gaudí recebeu um pedido do industrial José Batlló i Casanovas para reformar um edifício construído em 1875 por Emili Sala Cortés, um dos professores de arquitetura de Gaudí.

O edifício estava localizado na chamada Ilha da Discórdia. E aqui vou fazer uma pausa para explicações adicionais: antes do Passeig de Gràcia se tornar um centro residencial da alta burguesia, vários edifícios convencionais foram construídos, entre 1864 e 1875, no quarteirão que ia do número 35 ao 45. Entretanto em 1900, o arquiteto Josep Puig i Cadafalch concebeu a Casa Amatller no número 41, e também em 1902 o arquiteto Lluís Domènech i Montaner transformou a Casa Lleó Morera. Sendo assim, neste bloco formou-se uma "ilha de casas" que passou a ser composta por uma mistura de casas convencionais com outros imóveis modernistas fortemente destacados das outras edificações. Essa heterogeneidade valeu à vizinhança o apelido de Ilha da Discórdia, que em espanhol é conhecida como Manzana de la Discordia, que significa Maçã da Discórdia.

A Ilha da Discórdia

Mas vamos voltar para as origens da casa... Em 1900, a futura Casa Batlló ainda era um edifício convencional da Ilha da Discórdia, quando foi então adquirida por Josep Batlló i Casanovas, um rico industrial do setor têxtil, casado com Amàlia Godó Belaunzarán, filha do conde de Godó, deputado do partido liberal espanhol e fundador do jornal La Vanguardia.

Todos os irmãos de Josep Batlló haviam encarregado o arquiteto Josep Vilaseca para a construção de seus diversos edifícios particulares: a Casa Pia Batlló, a Casa Àngel Batlló e a Casa Enric Batlló. Todos haviam sido realizados em estilo modernista, então na moda. Mas Josep queria se destacar do resto da família, e para tal contratou o arquiteto Antoni Gaudí, que acabara de ganhar o concurso anual de construções artísticas, com a Casa Calvet em 1907.

Batlló em um primeiro momento pediu à Gaudí para destruir o edifício e reconstruí-lo inteiramente. Mas Gaudí o convenceu de realizar apenas uma transformação na fachada do prédio. Entretanto a intervenção do arquiteto remodelou em profundidade o edifício. Ele reorganizou os espaços principalmente no piso principal e no pátio de luzes, desenvolveu a iluminação e a ventilação natural, adicionou dois andares e remodelou o terraço. Estas transformações mudaram as dimensões do edifício, passando a altura do prédio de 21 para 32 metros e a área construída de 3100 m² para 4300 m² com média de 450 m² por andar.

Quando o edifício estava prestes a ser terminado, Batlló recebeu a visita do patriarca Milà, de quem ele era sócio em uma fábrica de fios. Como ele planejava a construção de um edifício particular, foi após esta visita que confiou à Gaudí a construção da Casa Milà.

A Casa Batlló antes e depois da reforma de Gaudí

Quando o edifício foi concebido era um exemplo típico de imóvel de renda, construído para que os proprietários vivessem nos primeiros andares, e que locatários ocupassem outros andares superiores. Com a morte de Amàlia Godó, viúva de Josep Batlló, em 1940, as filhas Mercedes e Carmen herdaram o edifício mas acabaram por vender o prédio em 1954 à Sociedad Iberia de Seguros. A companhia serviu-se do prédio como sede social, quando realizou restaurações menores.

Em 1991, a Casa Batlló foi confiada à casa de leilões Sotheby's para ser leiloada  por um valor estimado em 13,700 milhões de pesetas. Anos mais tarde, por falta de comprador, a Família Bernat adquiriu o prédio por 3,6 bilhões de pesetas, sendo os proprietários até o presente. Em 1995, a família abriu a casa para o público e apresentou ao mundo esta joia arquitetônica, oferecendo o espaço para eventos. A partir de 2002, coincidindo com o Ano Internacional Gaudí, a Casa Batlló passou também a oferecer exposições culturais. 

O térreo da Casa Batlló desde os primeiros momentos foi ocupado por estabelecimentos comerciais e empresas. Um exemplo disso era a sociedade cinematográfica Pathé que se instalou em 1905 no Passeig de Gràcia, como também outras empresas de novas tecnologias naquela época, como empresas fotográficas. A partir de 1922 o térreo foi ocupado por um mercado de alimentos, propriedade de um casal franco-catalão, Émile et Margarita Martignole. Para aproveitar-se do esnobismo dos clientes da vizinhança eles adotaram um nome francês "Maison d'Alimentation Martignole". Eles forneciam licores, queijos e medicamentos ao bairro e ocuparam aquele espaço até o começo da Guerra Civil Espanhola em 1936.

Após a Guerra Civil, a propriedade ficou abandonada pois a família Batlló decidiu se mudar para a Itália e somente o térreo ficou ocupado por uma galeria de arte chamada Syra que fecharia as portas apenas após a morte de seu proprietário Montserrat Isern, em 1986. E em 1942, a sociedade Producciones y Distribuciones Chamartin instalou-se no andar principal, de onde produziu desenhos animados até se mudarem em 1958. Nos dias atuais, o térreo da Casa Batlló está ocupado pela loja Simbolíc, que vende vários itens de decoração e lembrancinhas da própria casa.


Casa Batlló hoje

As formas da fachada principal a fizeram conhecida como "A Casa dos Ossos", uma vez que os balcões possuem a forma aproximada de crânios, além de uma grande tribuna com pilastras que lembram ossos humanos, que parecem úmeros e fêmures, as bases dos capitólios possuem formas de vértebras, os balaústres das sacadas do primeiro andar se parecem com falanges, as grades convexas que protegem os vãos das sacadas protegem os "olhos" como se fossem cílios. O próprio formato da sacada se parece com o de costelas.

E também vemos muitos elementos orgânicos em todo o edifício, especialmente da flora e fauna marinha e/ou religiosos. Cada visitante observa os detalhes e assimila uma interpretação diferente, como por exemplo a escadaria principal que lembraria uma gruta submarina, ou as formas curvas das portas e janelas que evocam o interior de um barco ou então serpentes do mar, fósseis e outras formas da natureza. Há também quem vê no peitoril das sacadas a imagem de máscaras venezianas e decoração multicolorida da fachada como uma chuva de confetes.

A inspiração de Gaudí para o projeto nunca foi especificamente registrada por ele, por isso o senso das formas e das cores da fachada deixou espaço à numerosas interpretações. Há quem diga que Gaudí se inspirou no mar e nos oceanos, outros que a inspiração veio da lenda de São Jorge e o Dragão, ou quem veja várias formas da natureza, ou ainda das fantasias e do carnaval.


Detalhes e inspiração

Porém, a tese mais conhecida é a lenda de São Jorge e o Dragão: a cobertura do telhado em escamas representaria o Dragão, enquanto a torre com cruz de quatro pontas seria São Jorge, o padroeiro da Catalunha. Complementando, teríamos os crânios e os ossos simbolizando as vitimas do Dragão, antes de sucumbir frente a espada de São Jorge. 

O ambiente marítimo também é outra interpretação muito aceita tanto por visitantes como por especialistas da obra de Gaudí, e essa abordagem se apoia na conhecida visão do arquiteto, nas suas formas orgânicas inspiradas na natureza, variedade das suas cores com um predomínio do azul do mar e do ocre das rochas, na ausência de linhas retas e no mais puro estilo do modernismo catalão onde Gaudí buscou como sempre uma abordagem única, incorporando elementos locais, históricos e simbólicos em seus designs.

Mas ainda vou falar muito sobre as várias interpretações dos detalhes arquitetônicos e decoração nos próximos parágrafos.


Lenda de São Jorge e o Dragão

A fachada principal está voltada para o Passeig de Gràcia e é conhecida por sua aparência ondulante e cores vibrantes. Gaudí utilizou uma mistura de cerâmica, vidro colorido e ferro forjado para criar uma expressão artística única. Ela está dividida em três partes diferentes harmoniosamente integradas, com curvas suaves que evocam imagens naturais como ondas do mar e formações rochosas.

A parte superior, ligeiramente recuada em relação à rua foi feita de cerâmica colorida que lembra as formas arqueadas de um dragão, do qual as escamas seriam as telhas em cerâmica. O monstro mítico teria a cabeça à direita, e a pequena janela triangular faria as vezes do olho. A lenda conta que a orientação desta janela permitia à Gaudí observar a Sagrada Família que ele construía simultaneamente, coisa impossível atualmente em função das edificações mais recentes da cidade. 

As telhas que simulam as escamas do dragão apresentam uma graduação de cores: elas são verdes à direita onde ficaria a cabeça e passam ao azul intenso e ao violeta na parte central. Finalmente elas progridem para o rosa intenso do lado esquerdo onde seria a cauda. No topo do edifício, sugerindo a espinha do dragão, estão dois tipos singulares de cerâmicas: uma sinusoidal e outras em forma de casco de tartaruga, que se articulam com as anteriores. Elas possuem tons variados de alaranjado à direita, verde ao centro e azul à esquerda.

Um dos elementos mais notáveis da parte superior é a torre coroada de uma flecha, à moda das igrejas. Esta é em cerâmica, e culminada por uma "cruz de Gaudí", onde cada uma das quatro pontas aponta para um ponto cardeal, assim como as cruzes do Parc Güell, e assim como a cruz que futuramente culminaria a Sagrada Família. A torre é decorada com monogramas de Jesus, que seria JHS, Maria, um M com uma coroa ducal, e de José que seriam as iniciais JHP, feitas a partir de pedaços de cerâmica douradas que se destacam do fundo verde recobrindo a fachada.

Parte Superior da Fachada e a alusão ao Dragão

A parte central, do segundo ao último andar, foi planejada como um tapete multicolorido, e é toda ornada de maneira poética sobre temas aquáticos que evocam a superfície de um lago, à moda das Nymphéas de Monet, com discretas ondulações e reflexos produzidos pelos vidros e as cerâmicas. 

Toda a fachada é revestida por um mosaico composto por pedaços de vidro e discos de cerâmica, dando uma impressão de uma superfície ondulada. O resultado final está aí para todos verem: uma obra-prima avassaladora, sugestiva e conhecida e admirada há mais de um século.


Parte Central da Fachada e as sacadas 


Revestimento da parte central da Fachada 

Existem dois tipos de sacadas e a disposição delas por toda a fachada é bastante assimétrica. Algumas destas sacadas se assemelham a máscaras de carnaval ou caveiras, de acordo com a interpretação de cada um. Foram feitas em ferro fundido e depois pintadas de marfim e ouro, para se fundirem melhor com a estética do edifício. Sete delas são idênticas, mas dispostas aleatoriamente nos 3 últimos andares. Mas existe mais uma neste modelo, um pouco maior que as outras e situada na sacada do último andar, logo abaixo do telhado. 

Existem quatro sacadas de outro tipo, no segundo e no terceiro andar, também em posições diferentes, que possuem um gradil de mármore de Carrara encaixados em uma estrutura curva de pedras de Montjuic ornadas com uma decoração floral sóbria. Também no segundo andar nota-se nos cantos duas janelas em formato de "bay-window", uma janela saliente projetat para fora do edifício e protegida por vidro. Estas janelas ajudam a fazer a transição entre a base e o corpo principal da fachada.


As sacadas diferentes:
a do fundo lembra uma máscara de carnaval ou uma caveira,
e a da frente decorada com gradil de mármore de Carrara.

A parte inferior da fachada é composta pelo térreo e o primeiro andar, incluindo as duas galerias laterais no segundo andar, e foram feitas em arenito de Montjuïc, apresentando formas onduladas. O desenho é completado por uma obra de carpintaria elegante das janelas, preenchidas por vitrais multicoloridos.

Nesta parte inferior da fachada, as formas dos espaços vazios são curvas e a pedra parece ter a forma de lábios, dando ao conjunto o aspecto de uma enorme boca aberta, que valeu à casa o apelido de Casa dels Badalls, em português "casa dos bocejos". Outros nomes que a casa ganhou como apelido foram, além da "Casa dos Ossos", foi também a "Casa dos Crânios" e a "Casa das Máscaras".

Diante das grandes janelas, seis finas colunas em forma de ossos parecem sustentar o edifício. Elas possuem a forma de um fêmur ou de um úmero, com uma decoração floral no centro que parece ser a articulação do osso.


A fachada com a janela do primeiro andar


A Entrada da Casa Batlló

Bom, agora vamos conhecer a famosa Casa Batlló por dentro... começando pela sóbria entrada principal do edifício, fechada por portas de ferro forjado pintadas de cor marfim e dourada, como os gradis das sacadas. 

Vale lembrar que no térreo existe a porta principal à esquerda, que dá acesso ao interior do prédio, uma vitrine ao centro e a porta de acesso à loja Simbòlic, que fica à direita do prédio. Achei duas imagens na internet muito interessantes para entender bem a Casa Batlló: a primeira mostra um corte lateral no prédio para melhor entender a disposição dos andares. Repare na entrada principal à esquerda da fachada, no térreo e a entrada do vestíbulo. Já a segunda é uma planta baixa de alguns andares, principalmente os do térreo e do primeiro andar são bem explicativos.


Ilustração para entender a distribuição interna da Casa Batlló


Planta baixa da Casa Batlló mostrando as divisões de alguns andares

Passando pela porta de entrada, encontraremos dois vestíbulos de acesso: o primeiro é o maior, dá acesso aos condôminos do prédio para os outros andares, e é todo decorado com cerâmicas de cores azul e branca. Ao fundo, encontra-se uma pequena abertura, dando sobre um dos pátios interiores, que clareia naturalmente o ambiente. Seguindo-se em direção ao interior, após um discreto enquadramento da porta, está o elevador modernista que serve a todos os andares. A numeração tradicional do elevador foi substituída por Gaudí por um sistema de letras de A à I, porém a letra G, inicial de seu nome, recebeu uma grafia especial.

No fundo da entrada existe um vestíbulo privativo de 20 m² de onde começa uma majestosa escadaria que conduz ao primeiro pavimento, todo ocupado pela residência da família Battló. Este espaço evoca uma atmosfera subaquática que o transporta para o fantástico mundo de Júlio Verne, com claraboias que parecem cascos de tartaruga e paredes onduladas que não formam ângulos ou quinas, o que lhe confere um aspecto de uma gruta natural. A majestosa escadaria é feita de madeira de castanheira e seu corrimão foi todo esculpido e incorporado com elementos que representam as vértebras e a espinha dorsal de um grande animal pré-histórico marítimo. 

O vestíbulo da entrada

O vestíbulo e a escada
de acesso à Residência Batlló

Ao subir ao primeiro andar chegamos ao Andar Nobre que é o coração da Casa Batlló, um espaço único que representa a expressão máxima do modernismo e explica como vivia a burguesia da época. O Andar Nobre difere dos demais e foi foco de transformações importantes de Gaudí. Trata-se do espaço residencial da família Batlló e o arquiteto dedicou uma atenção particular em sua concepção. Ele empreendeu ali uma decoração muito elaborada, permitindo jogar com sombras e luz nos diferentes cômodos. As janelas possuem formas onduladas diferentes umas das outras, e os pilares apresentam forma de ossos com suas articulações.

O acesso a este andar se faz diretamente a partir da escadaria particular situada no vestíbulo particular do térreo. Uma primeira porta leva a uma sala contendo o átrio projetado pelo atelier Ramon Reguan e que era o escritório do Sr. Batlló. Toda a estética da sala gira em torno da lareira em forma de cogumelo que fica enquadrada na parede. A lareira foi construída em arenito, com dois assentos ao redor e diante do fogo, simbolizando a união da família. Essa inspiração foi resgatada das antigas residências catalãs tradicionais, onde nas proximidades de uma grande lareira estavam o fogo, um caldeirão e alguns assentos. Trata-se de uma versão urbana, com estética rústica, que Gaudí aplica para a criação de um espaço intimo para o casal Battló.

O Átrio e a Lareira em forma de cogumelo

Em seguida chegamos ao salão central que é um grande aposento situado atrás da fachada principal e é um dos maiores destaques da Casa Batlló. A decoração da vidraça é à base de vitrais circulares comportando diferentes tonalidades de azul. No centro estão janelas com guilhotinas deslizantes que se abrem através um jogo de contrapesos escondido nas extremidades. Quando estas janelas se abrem, pode-se ver a rua sem nenhum obstáculo visual. Existem quatro colunas interiores bem discretas e que ficam recuadas cerca de um metro da vidraça, formando uma galeria. Outro elemento que se destaca são as grandes portas de carvalho com formas orgânicas nas quais Gaudí integrou vidros coloridos, bem como uma cobertura totalmente ondulada, que alude à força do mar.

O teto desta sala é em relevo, na forma de uma espiral gigante ornada ao centro por um espetacular lustre, que quando a casa foi aberta ao público foi substituído por uma cópia por questões de segurança. Várias interpretações já surgiram sobre o lustre, sendo que muitos o veem como um turbilhão de água, ou uma forma do ambiente marinho, ou a espiral de uma galáxia, ou até mesmo a representação do sol.

No grande salão do andar principal, existia um oratório situado na concavidade da parede posterior, cercado por grandes painéis de madeira que permitiam rapidamente transformar a sala em uma capela. O oratório continha um pequeno altar e um retábulo em carvalho esculpido com a sagrada família, realizado por Josep Llimona i Bruguera, onde um Jesus adolescente beija a mão de São José enquanto Maria observa a cena. Diversos elementos completavam o oratório: um crucifixo de metal esculpido por Carles Mani i Roig, candelabros de Josep Maria Jujol e coroamentos de Joan Matamala. O retábulo foi desmontado e a família Batlló o guardaria na sua propriedade de Madrid durante muitos anos, até que foram entregues em 2001 à Catedral da Sagrada Família, onde se situa atualmente na cripta.

As três salas do Andar Nobre

A vidraça da sala principal 
O esplêndido Lustre original

A partir da terceira sala tem-se acesso por um longo corredor ao restante dos aposentos do andar privativo da Família Batlló, inclusive à sala de jantar, que fica do lado oposto à sala principal, que dá vista para a fachada posterior do prédio. O falso teto da Sala de Jantar reproduz as ondulações formadas em uma superfície de água perturbada pela queda de uma gota. Sua decoração em madeira e vidro foi desmontada por razões funcionais quando o edifício foi ocupado para fins comerciais, mas em 1991, ela foi restaurada com uma reprodução que permite ver a sala exatamente como ela era em sua versão original.

Da sala de jantar acessa-se o pátio externo privativo, um pequeno oásis no meio da cidade projetado para ser desfrutado à tarde. Ainda na sala de jantar, próximo da saída para o pátio, fica um par de colunas gêmeas inspiradas pelo pátio dos leões da Alhambra de Granada e sua base simula a erosão do tempo.

No pátio destaca-se pelo pavimento e pelas floreiras revestidas a cerâmica e vidro como ótimo elemento decorativo. E também pelo muro que fica no fundo que isola toda a propriedade dos olhares externos. O muro é igualmente decorado com ilhotas de fragmentos de cerâmica, jardineiras de formas singulares, feitas com discos de cerâmica, dando a impressão de um jardim suspenso. Outras jardineiras, móveis, compostas de potes em ferro forjado recobertos de cerâmica azul e branca estão dispostas no terraço.

A fachada dos fundos da Casa Batlló é decorada com fragmentos de cerâmica multicoloridos, com desenhas de guirlandas e buquês de flores, possuindo a parte mais alta do edifício uma forma ondulada que remete à inspiração marítima de Gaudí.

A Sala de Jantar

O pátio privativo
O pátio privativo

Quase não existe informação na internet sobre os outros aposentos do Andar Nobre... Só consegui descobrir que os outros quartos tem paredes onduladas com belíssimos painéis de madeira cobrindo meia-parede, portas e janelas em madeira esculpidas com formas orgânicas, e também janelas com balcões que dão vista para o vão central do pátio interior. Estes "balcões" possuem um sistema de abertura suplementar, localizado na parte de baixo, para aproveitar a entrada do ar fresco e das brisas noturnas de verão, como uma espécie de ar condicionado primitivo. Esse dispositivo era típico dos prédios de Barcelona naquela época, para amenizar o forte calor do verão.

Ele iluminou os aposentos centrais por meio da luminosidade natural do pátio interno, por onde a luz era repartida por meio de grandes claraboias e de jogos de cores à base de cerâmicas, pelos quartos e pelo subsolo.

Gaudí foi igualmente um designer audaciosos de móveis, sacadas, maçanetas e de outros elementos decorativos. Mas para a mobília da Casa Batlló, a decoração cedeu espaço ao orgânico, e as formas evocavam seres vivos em quase todos os detalhes. Para o projeto da mobília, quase todos destinados à sala de jantar, o arquiteto opta por um desenho inédito até então, com um tipo de assento curvo imitando a morfologia humana. Ele elimina os excessos de decorações supérfluos comuns na época, deixando o nu da cor natural da madeira. Os moveis originais estão conservados no Museu Nacional de Arte da Catalunha e na Casa Museu Gaudi, do Parc Guell.

Janelas com balcões para o pátio

Banco duplo para a Sala de Jantar

Ao final da visitação ao Andar Nobre, vamos conhecer os outros espaços da Casa Batlló. A primeira parada vai ser para admirar os pátios internos, em espanhol chamado de Patios de Luces, que estão entre os elementos mais inovadores da transformação do edifício. 

Os pátios são uma parte fundamental da casa, pois distribuem o ar e a luz que entra pela claraboia principal. Gaudí ampliou o pátio pois na estrutura original havia somente um e ele reestruturou de forma a fazer dois pátios interligados, com o objetivo de permitir que a luz natural chegasse a todas as divisões do prédio.

Ele decidiu compensar as diferenças naturais de iluminação entre as partes alta e baixa do pátio interno com um engenhoso sistema de graduação de cores à base de cerâmicas que cobrem as suas paredes. Os tons de cerâmica partem do azul cobalto no alto, até ao branco na base. Com este sistema cromático, as paredes parecem possuir uma cor uniforme quando visto a partir da base, oferecendo uma melhor e mais uniforme distribuição da luz. Aplicando a mesma lógica Gaudí distribuiu o tamanho das janelas da mesma forma, sendo que as de baixo são maiores enquanto as de cima menores.

A grande claraboia central consiste de grandes elementos de ferro e vidro e abrange o grande pátio de luzes alargado por Gaudí. Esta grande claraboia é a que permite a entrada de luz em abundância em todo o pátio de luzes. Em uma época em que ninguém pensava na economia de energia, Gaudí já estava anos luz a frente de seu tempo com intenso uso de luz natural. Na parte central entre os dois pátios, Gaudí instalou as escadas e o elevador, cuja bela cabine original de madeira continua funcionando.


O Patio de Luces com a claraboia

Visto de baixo para cima
As janelas menores nos andares mais altos
As escadas de acesso aos outros andares
O degradê dos azulejos

Acesso às escadas dos moradores pelo vestíbulo comunitário

Elevador


Outro espaço da Casa Batlló que vale super à pena conhecer é o Sótão, que se destaca pela simplicidade de suas formas, os espaços abertos, a abundância da iluminação e pela influência mediterrânea através do uso do branco nas paredes. Em destaque uma série de 60 arcos catenários,  formando uma estrutura que representa a caixa torácica e a espinha do dragão. Essa estrutura foi usada para suportar o telhado, que do lado de fora foi coberto com cerâmica imitando escamas e que é interpretado como sendo o dragão de São Jorge, padroeiro de Barcelona.

Antigamente, era uma área de serviço para os inquilinos dos diferentes apartamentos do edifício pois continha as lavanderias, dependências de serviços, tanques, reservatórios de água e áreas de armazenamento. 

Uma destas salas, voltada para a fachada, ganhou o nome de "ventre do dragão" e era utilizada para a lavagem e a secagem das roupas. Para evitar a umidade neste andar já que uma de suas principais funções era o manuseio de roupas, uma boa ventilação era absolutamente indispensável e para esse fim Gaudí projetou duas escadas de acesso a este pavimento, uma de cada lado do prédio, criando uma ventilação cruzada.


Sótão em Casa Batlló

Existem duas escadas que ligam o sótão ao terraço. Pelo que pude perceber em alguns vídeos da Casa Batlló, o visitante quando chega ao andar do sótão, primeiro sobe uma das escadas e vai conhecer o telhado e o terraço, e depois desce por outra escada e vai conhecer os salões do sótão. Estas escadas que ligam o sótão com o terraço foram feitas em alvenaria e ferro forjado, projetadas por Gaudí para servir não só como um recurso estético e decorativo, mas também como um robusto reforço estrutural.

Ao final da visita ao terraço, telhado e sótão, o visitante vai encontrar uma escadaria totalmente diferente, chamada de Intervenção de Kengo Kuma, que desce por todos os oito andares da Casa Battló e nos leva ao porão ou subsolo, onde encontramos as salas de exposições multimídia e também de volta ao térreo dentro da loja Simbòlic. Para efeitos de roteiro, como já falei sobre o sótão vou continuar com explicações sobre o terraço e depois falarei sobre a escadaria de Kengo Kuma. 

As escadas do Sótão ao Terraço

Chegando ao terraço o mistério é revelado... rsrsrsr... é aqui que mora o grande Dragão de São Jorge, por isso muito cuidado para não acordar a fera adormecida!!!😂

Como já mencionei, o acesso ao terraço se dá pelas escadas do sótão, tanto para subir como para descer, e levam ao espaço de 300m² de onde você pode aproveitar para curtir as belíssimas vistas que se tem da cidade de Barcelona. E também aproveitar para dar uma relaxada nas mesinhas e cadeiras que estão espalhadas e pedir alguma coisa pra fazer um lanche no snack bar que fica por ali.

Destacam-se 36 chaminés de formas sinuosas, estilizadas e policromáticas, agrupadas em quatro conjuntos, todas elas cobertas com mosaicos de vidro e de cerâmica multicoloridos formando motivos florais. O desenho especial das chaminés foi concebido para evitar que o ar quente volte para dentro, mais uma idéia inovadora do mestre Gaudí.

O dorso do dragão que vemos no telhado da fachada pode ser tocado, está ao alcance dos seus dedos e óbvio, o local ideal para vários clicks e selfies de arrasar!!


O dorso do Dragão do telhado,
com o Passeig de Grácia à direita e o terraço à esquerda


As Chaminés

Como já disse antes, após a visita ao terraço e ao sótão, vamos fazer o percurso de saída e aqui a visita à Casa Batlló ganha ares mais modernistas, quase futuristas... vou explicar...

Com o final da onda do modernismo e o surgimento dos avant-gardistes, que preconizavam o funcionalismo, ocorreu uma diminuição no interesse pela obra de Gaudí, até a década de 1980, quando seu estilo volta a despertar interesse. Ao longo dos anos o prédio sofreu diversas restaurações como a realizada em 1981 por ocasião da celebração do 75 aniversário de inauguração da casa. Ou também a reforma realizada em 1995, que transformou 1839 m² do edifício que incluía o subsolo, térreo e primeiro andar em um espaço aberto ao público.

Mas foi a partir de 2000, que as maiores reformas aconteceram, principalmente em preparação às celebrações do ano internacional Gaudí 2002. Toda a fachada foi inteiramente refeita. O interior recebeu um tratamento fungicida. Os balcões, as peças de carpintaria, e os discos de cerâmica quebrados foram reparados. Os pátios internos foram revitalizados e as peças quebradas trocadas. As portas de entrada dos apartamentos foram igualmente reparadas.

A restauração da fachada

De lá pra cá, as restaurações foram se sucedendo em todos os ambientes externos e internos, vários novos espaços e estruturas foram acrescentados e novas áreas foram sendo incorporadas à visitação, permitindo ao público percorrer a quase totalidade do edifício, exceto pelos andares superiores que são ocupados pela sociedade gestora do imóvel. A proposta era trazer uma experiência multimídia e tecnológica que complementasse a obra de Gaudí, podemos inclusive chamar de Casa Batlló Experience 3D...

Vamos lá, voltando ao percurso de saída, a partir do sótão acessamos a primeira inovação de Casa Batlló, chamada de Intervenção de Kengo Kuma, uma escada de descida de oito andares que também serve para incêndios. O arquiteto japonês, famoso também pelo novo estádio Olímpico de Tóquio, entre outras obras, foi convidado a projetar a escada de descida vestida com 164.000 metros de corrente de alumínio que captam a luz como se fossem redes de pesca, conectando os oito andares e os antigos depósitos de carvão no porão, que passaram a ter outro uso como veremos mais adiante.

Segundo o arquiteto, as correntes brincam com a luz através do brilho, das silhuetas e das sombras criadas por seu formato ondulante, propondo uma gradação de tons, como na obra de Gaudí, iniciando mais claros na parte superior, no nível do telhado, e escurecendo até o nível inferior até atingir tons pretos. A escadaria parece suspensa no ar e cria um incrível efeito de passagem, pensado para enriquecer ainda mais a experiência dos visitantes do edifício icônico. 


A Intervenção de Kengo Kuma

As correntes
O jogo de luzes

Ao final do escadaria de Kengo Kuma, chegamos no subsolo onde novos espaços de exposições foram acrescentados à visitação nos quais a tecnologia se tornou a principal protagonista graças à realidade aumentada e à inteligência artificial. A primeira delas é o Cubo Gaudí, um espaço de 360 graus onde o artista de novas mídias digitais Refik Anadol apresenta seu trabalho pioneiro "Na Mente de Gaudí".

Nesta viagem ao pensamento de Gaudí, o visitante entra num cubo LED de seis faces que reproduz fotos, vídeos, músicas, cheiros, plantas e fragmentos do diário do arquiteto, entre outros documentos.

Além desta, outra instalação chamada Gaudí Dôme ou Cúpula de Gaudí, uma experiência imersiva para viajar até a origem da inspiração de Gaudí: a natureza. Este espaço possui uma cúpula com mais de mil telas, 21 canais de áudio que recriam os sons da natureza e 38 projetores volumétricos, onde o visitante poderá desfrutar do espetáculo “A Inspiração do Gênio”, criado pelo realizador Miguel Alonso. É uma experiência altamente sensorial, uma viagem ao nascimento do gênio e seu primeiro encontro com a Natureza.

Além destas exposições, entre o andar térreo e o subsolo ficam localizados também uma cafeteria, a loja Simbolíc e um espaço consagrado à exposição do mobiliário de Gaudi, principalmente com reproduções fiéis das peças da Casa Batlló e da Casa Calvet.
 
Cubo Gaudí

Cúpula de Gaudí
Loja Simbolíc

Se você estiver em Barcelona durante as festividades de Sant Jordi que acontece todo ano no dia 23 de abril, não deixe de dar uma boa curtida na fachada da Casa Batlló. Nessa data, as ruas da cidade se enchem de pessoas e tendas de venda de livros e rosas. Esse é um dos grandes feriados na Espanha e o objetivo da celebração é homenagear o padroeiro da Catalunha.

A tradição é trocar rosas e livros entre casais, pessoas queridas e familiares. O costume começou no século XV, onde o homem presenteava uma rosa à mulher e a mulher presenteava um livro ao homem. E até hoje essa tradição se mantém viva entre as pessoas. 

A Casa Batlló faz questão de comemorar a data junto com moradores e visitantes e acrescenta detalhes que lembram a festividade, fazendo uma decoração especial com rosas vermelhas em todas as varandas... imperdível!!!

Hoje ela se tornou um dos maiores ícones arquitetônicos de Barcelona, uma parada obrigatória para descobrir a obra de Gaudí e o modernismo no seu melhor significado. É também uma das atrações culturais e turísticas mais bem avaliadas, recebendo 1 milhão de visitantes por ano. Desde 2005, a Casa Batlló é Patrimônio Mundial da UNESCO e a síntese incondicional do fascinante estilo de Antoni Gaudí. 

Abaixo, os dados de localização e horários de funcionamento:
  • Endereço: Passeig de Gracia, 43
  • Horários:
    • Aberto todos os dias, das 9h às 22h
    • Última entrada: 21h
  • Ingressos (na bilheteria há um acréscimo de 4€): 
    • Adultos: €35
    • Estudantes e jovens entre 13 e 17 anos: €29 
    • Usuários do Barcelona Card: €28 
    • Menores de 12 anos: entrada gratuita.
    • Site: https://www.casabatllo.es/
      • Entradas: https://www.casabatllo.es/venta-entradas/


      Casa Batlló na festa de San Jordi

      Terminando a visita na Casa Batlló, e dependendo do tempo disponível, vale a pena conhecer as outras duas casas vizinhas e que também fazem parte da Ilha da Discórdia: a Casa Amatller do arquiteto Josep Puig i Cadafalch e a Casa Lleó Morera do arquiteto Lluís Domènech i Montaner.

      Meu roteiro para este primeiro dia está bem apertado e não tenho certeza que terei tempo para visitá-las em qualquer dos outros dias, mas vou fazer a resenha sobre elas caso dê tempo para conhecê-las.

      * Em tempo: enquanto pesquisava sobre a Casa Amatller fui ficando encantada com cada pequeno detalhe do edifício, das decorações, das coleções de vidros, do chocolate... e já decidi que vou incluí-la no roteiro definitivamente... 😄😍


      Casa Amatller

      A Casa Amatller foi projetada pelo arquiteto Josep Puig i Cadafalch entre 1898 e 1900, foi encomendada pelo empresário chocolateiro Antoni Amatller, e preservada no seu estado original com todo o mobiliário e decoração da época, uma verdadeira viagem no tempo.

      A história da família Amatller é muito interessante, pois foram 3 gerações que se dedicaram à indústria do chocolate, formando uma das empresas mais reconhecidas do século XIX: a Chocolates Amatller. Quando Antoni Amatller assumiu o negócio da família, logo tratou de aprender as particularidades do ofício com o pai e o tio, ao mesmo tempo que decidiu conhecer as inovações industriais europeias, realizando assim viagens contínuas pelo continente.

      Graças a este conhecimento e com o desejo de incorporar as últimas inovações, Antoni Amatller decidiu inaugurar uma nova unidade de produção em Sant Martí de Provençals em 1878, com a qual conseguiu aumentar a competitividade do negócio e vencer a concorrência, tornando-se um dos líderes da indústria industrial do chocolate em Espanha.

      Junto com os avanços tecnológicos em maquinários, Antoni Amatller também introduziu modernas técnicas de marketing e branding, como imagens publicitárias nas embalagens de chocolate, cartazes publicitários e cromos colecionáveis, com ilustrações dos melhores artistas locais e internacionais da época. Hoje esses cartazes fazem parte do acervo, e algumas dessas embalagens originais ainda podem ser encontradas nas mãos de instituições e particulares.

      A fábrica em 1878
      Os cartazes publicitários

      Antoni Amatller era um homem comprometido com sua época, o modernismo catalão e a cultura de modo geral e soube complementar a sua vida empresarial com diversos hobbies relacionados com o seu cosmopolitismo cultivado desde as suas viagens pelo mundo. Um destes hobbies foi a fotografia e pode-se até dizer que ele foi um fotógrafo-viajante que percorreu Marrocos, Istambul e Egito, entre os anos de 1903, 1905 e 1909 respectivamente, conhecendo essas terras exóticas e tirando fotografias de suas viagens. 

      Inclusive participou de concursos nacionais e internacionais para fotógrafos amadores, certificadas pelas medalhas da Society of Amateur Photographers of New York ou da Association Belge de Photographie. Juntamente com seu amigo Pau Audouard, fotógrafo oficial da Exposição de Barcelona de 1888, fundou a Sociedade Espanhola de Fotografia. 

      E outro hobby foi o colecionismo: Antoni Amatller conseguiu reunir durante suas viagens pelo mundo uma importante coleção especializada em vidro arqueológico, com mais de 400 peças que cobrem grande parte da antiguidade do mundo mediterrâneo: Egito, o antigo Oriente, as províncias romanas da Hispânia, Gália, Alemanha ou Itália...

      Após sua morte, sua filha Teresa conservou todos esses objetos e transformou o acervo de seu pai em exposições que hoje fazem parte do Museu Casa Amatller. Além dos vidros arqueológicos, a exposição mostra também inúmeras obras de arte da Idade Média até a contemporaneidade, que foram adquiridas por Antoni ao longo de sua vida. 

      As coleções
      As coleções

      Antoni casou-se com Cándida Cros Circuns e tiveram uma filha, Teresa Amatller Cros. O casamento terminou e houve uma separação e, conforme especificado nos capítulos da separação, Teresa iria viver com o pai aos 7 anos. Antoni Amatller nunca se casou novamente. Cândida foi viver na Itália e somente quando ficou viúva em 1910 casou novamente. Sua filha Teresa nunca perdeu contato com a mãe, e com a morte de seu pai, tornou-se a única herdeira e passou a liderar a Chocolates Amatller aos 37 anos. 

      Em 1936, no início da Guerra Civil Espanhola, exilou-se em Génova onde vivia a sua mãe e só alguns anos mais tarde voltou a Barcelona. Em 1943, Teresa criou o Instituto Amatller de Arte Hispânica com dois objetivos principais: a conservação da Casa Amatller e suas coleções, e a promoção da pesquisa em História da Arte. 

      Faleceu no final de março de 1960, o que marcou o fim do regime familiar da empresa, uma vez que não tinha descendentes. Seguindo o desejo do pai, em seu testamento, Teresa Amatller doou a Casa Amatller com suas coleções à Câmara Municipal de Barcelona. Em 2015 a propriedade foi inaugurada como casa-museu e hoje é possível percorrer todas as maravilhas da residência da família Amatller.

      Entrada do Museu da Casa Amatller

      A Casa Amatller é uma remodelação do arquiteto Josep Puig i Cadafalch feita entre 1898 e 1900. A casa já existia, era um edifício construído em 1875 pelo mestre construtor Antoni Robert e conhecida como Casa Martorell e originalmente era um edifício de três andares, em estilo neoclássico.

      Antoni Amatller comprou o prédio em 1898 e contratou Puig para remodelá-lo, cuja preocupação principal foi intervir especificamente na renovação da fachada, no piso principal, no hall de entrada, nos espaços comuns como a escadaria dos vizinhos e o pátio luminoso, também no estúdio fotográfico localizado na empena da casa.

      Puig i Cadafalch iniciou o seu projeto com vários esboços da fachada que hoje se conservam no Arquivo Nacional da Catalunha e que foram encontrados entre aqueles que Puig escondeu na sua casa durante a ditadura. A personalidade forte e os interesses próprios do proprietário refletem-se no trabalho do arquiteto que combinou vários estilos arquitetônicos na fachada da casa: românico, gótico catalão e flamengo. A ideia era um edifício com fachada plana, colorida e repleta de detalhes ornamentais e com um pátio central de onde parte uma grande escadaria que dá acesso às salas principais e demais aposentos.

      Planta baixa

      A partir da existência de uma fachada plana típica do bairro de Eixample, Puig i Cadafalch reinterpretou vários estilos arquitetônicos como o românico e o gótico catalão para criar uma fachada repleta de simbolismo e elementos decorativos.

      Destaca-se principalmente pelo seu acabamento escalonado, o que lembra muito a arquitetura medieval do norte da Europa. A parte mais alta, no último andar, foi pensada para localizar o estúdio fotográfico de Antoni Amatller, uma vez que a periculosidade dos componentes da fotografia obrigava a que estas salas fossem mantidas o mais separadas possível das casas vizinhas, criando assim uma planta independente para acomodar um dos grandes hobbies de Antoni Amatller.


      Parte superior da fachada onde se localizava o estúdio fotográfico

      O arquiteto coloca diferentes elementos construtivos e ornamentais em várias alturas e cria cuidadosos efeitos assimétricos na fachada. As portas de acesso do térreo, a galeria do piso principal e as janelas são rematadas por molduras escultóricas de inspiração gótica e de complexidade variada. Para identificar seus proprietários, Puig i Cadafalch criou esculturas evocando as atividades da família (indústria, artes e colecionismo) e também de ramos de amêndoa, símbolo do sobrenome Amatller.

      A combinação de materiais, cores e técnicas decorativas cria um cromatismo delicado que faz com que a fachada da casa continue a destacar-se artisticamente desde a sua construção até a atualidade. Um dos detalhes mais impressionantes são as duas portas assimétricas ligadas por uma escultura de São Jorge com o Dragão, de autoria do escultor Eusebi Arnau.

      Esculturas evocando atividades da família
      Detalhes e contrastes delicados 
      Efeitos assimétricos

      Molduras de inspiração gótica
      Portas e varandas

      Escultura de São Jorge e o Dragão

      A entrada nos leva ao vestíbulo que, como era normal na época em que foi construído, foi concebido para ser a entrada das carruagens. Passamos pela recepção, onde você pode pegar seu áudio-guia e capas de sapato que deverá usar durante toda a visita, de forma a preservar o pavimento da casa. E em seguida temos acesso a um salão com piso em mosaico no estilo romano de Mario Maragliano. O local se destaca pelos tons de terra e pelo ar medievalista, com várias referências ao comércio de chocolate da família Amatller.

      A partir do vestíbulo temos três acessos distintos, sendo o mais impressionante o Pátio Principal, com uma escadaria monumental que leva ao andar principal da família Amatller.

      Outro acesso aos fundos, onde encontramos uma belíssima porta de vidro com cristais coloridos, levava às cozinhas e salas de serviço. Hoje este espaço é ocupado pela cafetaria Faborit, onde se pode tomar chocolate quente segundo a receita original da Chocolates Amatller.

      Existe também um outro acesso que leva aos outros pavimentos, atualmente ocupados pelo Instituto Amatller de Arte Hispânica, com uma escada mais modesta e um elevador de época ainda em funcionamento.

      Entrada e Recepção

      Acesso ao Pátio Principal e 
      à cafeteria Faborit

      Antoni Amatller e sua filha Teresa moravam no primeiro andar do prédio, chamado de andar nobre. O restante do imóvel foi alugado, assim como o espaço comercial da fachada. À esplêndida ornamentação da arquitetura modernista catalã devemos acrescentar a do mobiliário, também desenhado por Josep Puig i Cadafalch, e a das obras de arte da coleção de Antoni Amatller. 

      A residência dos Amatller estava dividida em uma zona pública, com vista para o jardim nos fundos, e uma zona privada, situada na linha da fachada. No centro da casa ficava o escritório de Antoni Amatller, num ponto de onde ele podia controlar a entrada de serviço e a escada dos vizinhos.

      As melhores comodidades da época foram instaladas na Casa Amatller: elevador para os vizinhos, tecnologias para atendimento como o pequeno elevador que transportava os alimentos da cozinha até o primeiro andar, e a iluminação elétrica, uma inovação de 1900, complementada pela iluminação a gás que era utilizada em caso de falha no fornecimento de energia elétrica.

      O majestoso Patio Principal da Casa Amatller foi todo decorado com cerâmica sevilhana sobre as paredes, esculturas de pedra e lanternas decoradas, onde se destaca também a grande claraboia Espinagosa, que permite a entrada de luz natural.

      Pátio Principal

      Claraboia

      Subindo a Escadaria Principal temos acesso à Entrada Social com a belíssima porta de madeira entalhada e com um batente todo decorado com esculturas inspiradas na história da produção de chocolates, destacando-se um grupo escultórico que coroa a porta com a representação de um “hereu” e “pubilla” catalães. Nota: na Catalunha, "hereu" é o filho mais velho e herdeiro homem e caso não exista um herdeiro homem, a herança passa para a filha mais velha, denominada "pubilla".

      Entramos em um pequeno hall de recepção que divide o andar da família entre o lado social e o lado privativo. A visita começa pelo lado social percorrendo um longo corredor ricamente decorado desde o chão, passando pelas paredes até o teto. Vale destacar que existem dois corredores em ambas as laterais do prédio. Pode-se notar a combinação de diversos materiais: mármore rosa, madeira, pedras e civas, uma técnica decorativa com vidro colorido, muito utilizada nesse projeto.

      Porta Principal do Apartamento da Família Amatller

      Na parte do corredor localizado atrás da Sala de Jantar vemos um lavatório em mármore Tortosa, emoldurado por uma grande moldura de azulejos sevilhanos. Sua posição não poderia ser mais acertada já que fica localizada logo atrás da lareira, usando o calor do fogo para aquecer a água. Inspira-se numa configuração de altar atribuindo forte solenidade ao ato de lavar as mãos antes das refeições.

      E ao lado fica também um pequeno aposento com um mini elevador que se comunicava com a cozinha e área de serviço no piso inferior. Os proprietários não queriam que a área social pudesse apresentar cheiros de comida então os empregados usavam este elevador que enviava a comida e os utensílios da cozinha para a sala de jantar.

      Corredores
      Corredores
      Lavatório
      Elevador de Cozinha

      A Sala de Jantar é sem dúvida um dos locais mais incríveis da casa. A grande janela rouba as atenções, pois além da belíssima decoração e vitrais, proporciona uma iluminação constante fazendo deste um acolhedor ambiente. Os pisos são de mármore e os móveis foram feitos pelos irmãos Salat inspirados nos móveis medievais. O teto foi todo feito com vigas de madeira e a majestosa lareira destaca-se com uma alegoria do comércio entre a Europa e a América, obra do escultor Eusebi Arnau, e que remete à profissão do proprietário como chocolateiro. A decoração da sala faz referência à abundância representada por uvas, lagostas, etc, e também com vários detalhes de amendoeiras em flor por toda a casa, já que em catalão "Amatller" significa amendoeira.

      Ao contrário das casas Gaudí, a parte social ficava nos fundos do prédio e eram ligadas a um jardim que oferecia mais privacidade e tranquilidade.

      Ao lado da Sala de Jantar fica a Sala de Música, algo comum na época para eventos sociais. Originalmente havia inclusive um piano que era o instrumento preferido de Teresa Amatller. A sala conta com instrumentos de vários lugares do mundo, pois a família viajava muito e gostava de colecionar objetos musicais. Durante a restauração da Casa Amatller, foram encontradas nas paredes alguns frisos contendo versos de "La cançó del mariner" e a versão original de "Els segadors", que foram escondidas sob um papel de parede durante o período da Guerra Civil Espanhola.

      Sala de Jantar

      Outro ângulo da Sala de Jantar
      A Lareira ao fundo e a Mesa de Jantar

      Belíssima Janela da Sala de Jantar

      Sala de Música

      Seguindo pelos corredores encontramos o escritório de Antoni Amatller, que está localizado no centro do piso principal, em um ponto estratégico da casa que oferecia a visão de todos os acessos ao andar, permitindo ao dono ter controle absoluto de tudo o que se passava. 

      Existem duas portas de entrada no escritório: uma que dava acesso à porta principal para visitantes que vinham tratar de negócios e outra que era utilizada pelos empregados e inquilinos, que acessavam o escritório através de uma porta que dava para a escada secundária dos moradores, sem passarem pela casa propriamente dita.

      Destaca-se o teto, um dos mais elaborados da casa, onde Puig combinou o esgrafito com a cerâmica policromada e esmaltada, cobrindo e decorando as vigas. E também marcam o ambiente a luminária principal com altura regulável e a abundância de civas nas portas do escritório.

       
      Escritório de Antoni Amatller

      Seguindo pelo mesmo corredor, podemos acessar a área privativa da casa, que como já mencionei davam vista para o Passeig de Gràcia, ao contrário das casas de Gaudí. À direita ficavam os aposentos de Antoni Amatller compostos por 4 espaços: a sala de estar privada, o quarto, o quarto de vestir e o banheiro. E à esquerda ficavam os aposentos de sua filha Teresa, compostos por: sala de estar e de costura, quarto  e sala de vestir com banheiro.

      A sala de estar é um amplo e iluminado salão com três janelões que dão vista para o Passeig de Gràcia, e era usado para recepcionar convidados e visitantes. E também servia como local de exposição da coleção particular de vidros arqueológicos que o industrial coletou ao longo de sua vida e suas viagens ao redor do mundo. Essa coleção possui mais de 750 objetos de diferentes estilos, épocas e lugares do mundo. É iluminado por uma grande lâmpada central e presidido por um busto de Antoni Amatller do escultor Eusebi Arnau.

      O próximo cômodo é o quarto de Antoni Amatller todo decorado em vermelho e que parece retirado de um castelo. Acima da porta do quarto podemos ver uma  alegoria do colecionismo que fez parte de toda sua vida, representado por uma garça com um saco de dinheiro e um par de corujas que simbolizam, respectivamente, o controlo rigoroso da economia e a vigilância constante. A cama é digna de um rei, as cadeiras parecem tronos, e o armário parece ter vindo direto da Idade Média. 

      O quarto de vestir e o banheiro conservam somente o piso e o teto em seu modo original, porém toda a mobília original não existe mais ou se encontra guardada porque quando Teresa ficou mais velha ela transformou este aposento em quarto para os empregados para que pudessem ficar mais próximos a ela caso precisasse.


      Sala de Estar Privativa e as coleções de vidros

      Sala de Estar Privativa
      Porta de Entrada do Quarto
      Quarto de Antoni Amatller

      Pequeno Escritório

      A Exposição das Coleções
      Banheiro

      Já os aposentos de Teresa eram acessados a partir do lado esquerdo da sala de estar privada e também pelo outro corredor. Totalmente diferente do quarto de seu pai, é um aposento decorado como uma sinfonia em tons de amarelo, onde aparecem flores de amêndoa presentes de uma maneira ou de outra na decoração. 

      O quarto de Teresa foi um dos mais difíceis de restaurar quando da abertura da Casa Amatller ao público, pois com o passar dos anos e o surgimento de novas tendências, ela mudou muitos dos móveis originais que haviam sido desenhados especialmente para a casa. Trata-se de um cômodo que transita em duas épocas distintas, com estilos que datam do princípio do século XX e dos anos 1950. Como ela nunca se casou morou toda sua vida nesta casa, de onde só saiu durante a Guerra Civil Espanhola. 

      Sendo um quarto para uma garota jovem, a decoração escolhida não foi medieval, e sim modernista, com inspiração em flores e são feitas várias referências à inocência e feminilidade. Como por exemplo, decorando a porta de acesso ao quarto existe uma escultura de uma mulher representando a feminilidade, acompanhada por um gatinho com bolas, em referência à sala de trabalho contígua, e um cão que promulga os valores da fidelidade. Os móveis do quarto e da sala de estar/costura são obra do marceneiro Gaspar Homar.


      Quarto de Teresa

      Por todo o aposento há uma sinfonia em tons de amarelo e flores de amêndoa presentes de uma maneira ou de outra na decoração. Trata-se de um cômodo que transita em duas épocas distintas, princípio do século XX e anos 1950. Como ela nunca se casou, morou toda sua vida nesta casa, de onde só saiu durante a Guerra Civil Espanhola. 

      A primeira sala é uma combinação de sala de estar e sala de costura, com móveis em estilo medieval, uma linda mesa para trabalhos de costura e um pequeno armário em marchetaria.

      Seu quarto é todo revestido com papel de parede floral e mobiliado com uma cama charmosa e histórica, e um belo espelho camuflado na parede como se fosse um armário e tem uma linda janela com vista para a rua Paseig de Gràcia. Há uma coluna de mármore na janela, meramente decorativa, demonstrando o poder aquisitivo à sociedade.

      Há também um quarto de vestir que já não é o original da época de construção da Casa Amatller, mas curiosamente foi todo restaurado em estilo Art Deco, anos depois. Durante o tempo que morou na casa, Teresa deixou tudo como estava sem tocar em praticamente em nada.

      Sala de Estar
      Mesa de trabalhos de costura
      Armário em Marchetaria

      Coluna e varanda bay window

      Moldura da Porto

      Lado exterior varanda
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      Closet Art Deco
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      E já chegando ao final da visita, resta contemplar que, no 4º andar, fica localizado o antigo estúdio fotográfico de Antoni Amatller, que foi um experiente fotógrafo viajante e que solicitou ao arquiteto Puig i Cadafalch para criar este pequeno espaço na remodelação do edifício.

      No último andar da Casa Amatller o arquiteto projetou o local onde perfeito para o estúdio fotográfico, uma vez que a periculosidade dos componentes da fotografia obrigava a que estas salas fossem mantidas o mais separadas possível dos outros andares e das casas vizinhas, criando assim uma planta independente e bastante segura para acomodar um dos grandes hobbies de Antoni Amatller.

      Estúdio Fotográfico de Antoni Amatller

      O passeio pela Casa Amatller termina no andar térreo. Era lá que ficava a cozinha. A comida subia até o apartamento principal por um elevador e os empregados usavam a escada de serviço, aquela que dava ao lado do escritório do senhor Amatller, assim ele podia controlar a eficiência do serviço. O elevador ainda está lá. 

      Hoje, a antiga cozinha e as áreas de serviço foram transformadas em no café Faborit e curiosamente mesas e turistas coexistem com os móveis originais da cozinha do Amatller. Além de servir um dos melhores chocolates quentes de Barcelona, a loja também vende algumas coisas de marca própria ou de parceiros. Então, é possível comprar vários chocolates da marca Amatller para trazer de presente para a família e até cafés em grãos e louças com a marca Amatller. Atende para café da manhã, almoço, lanche ou jantar, oferecendo diversas opções de lanches rápidos, bolos, saladas e muito mais.

      Café Faborit

      Entrada pela Casa Amatller
      Chocolate quente!!!
      Fogão Original

      Todo o conjunto da Casa Amatller foi declarado monumento histórico-artístico em 9 de janeiro de 1976.

      A Casa-Museu Amattler oferece várias modalidades de visita guiada, em inglês, catalão e castelhano. E todas elas incluem como presente uma caixa de folhas de Chocolate Amatller. 

      Abaixo, os dados de localização e horários de funcionamento:
      • Endereço: Passeig de Gràcia, 41 
      • Horários:
        • Aberto todos os dias, das 10 às 18h
        • Fechado nos dias 25 e 26 de dezembro e dia 06 de janeiro 
        • Algumas visitas tem horários especiais (consulte o site oficial)
      • Ingressos
        • Visita com áudio guia ao andar principal:
          • Preço: € 15 a 17
          • Crianças até 7 anos: Gratuito
        • Visita Guiada explicada por guia especializado em Arte:
          • Preço: € 17 a 20
          • Crianças até 7 anos: Gratuito
        • Visita ao Estúdio de Fotografia de Antoni Amatller:
          • Preço: € 22 a 25
        • Visita Teatral com Teresa Amatller:
          • Datas Especiais: Verificar no Site
          • Horário: 17h (espanhol) 18h (catalão)
          • Preço: € 25 a 27 (Inclui visita e copo de chocolate)
        • Site: https://amatller.org/
          • Entradas: https://tickets.oneboxtds.com/casamuseuamatller/events/23022

          Casa Amatller: detalhes que encantam

          Ao final da visita existem duas opções: continuar o resto do percurso pelo Passeig de Gràcia ou ir visitar a última das famosas casas modernistas de Barcelona, também localizada ali ao lado na Manzana de La Discordia, a Casa Lléo Morera. Eu particularmente vou seguir o percurso já estabelecido, mas vou deixar registrado abaixo algumas informações sobre ela.

          A Casa Lléo Morera antes da intervenção de Domènech i Montaner, era conhecida como Casa Rocamora, propriedade de Joan Mumbrú Bordas e Lluïsa Sagristà Figueres, e era um edifício de térreo mais 3 andares, além do porão.

          Em 1894, o edifício foi vendido a Antoni Morera Busó, filho de uma rica família dedicada ao comércio de cana-de-açúcar, que se estabeleceu durante muitos anos em Porto Rico. Ao retornar a Barcelona, Morera ​​investiu parte da sua fortuna na compra do edifício no Passeig de Gràcia.

          Casa Lléo Morera na Manzana de la Discordia

          Antoni Morera morreu viúvo e sem filhos em 1901, deixando toda a sua herança à sua sobrinha, Francesca Morera Ortiz, que encomendou a reforma realizada por Montaner, dando liberdade absoluta ao arquiteto para transformar radicalmente tanto a fachada como o interior da casa com aquele novo estilo que começava a virar moda em Eixample, o modernismo.

          A morte repentina de Francesca Morera, em 10 de dezembro de 1904, fez com que a obra fosse continuada por seu filho, Dr. Albert Lleó i Morera, que continuou com o projeto inicial de sua mãe confiando todo a execução ao arquiteto. Como em vários outros edifícios de Barcelona,  ele reservou um andar principal para ser a residência da família: ele, sua esposa Olinta Puiguriguer e seus dois filhos, Albert e Francesca, e destinou o restante dos apartamentos para alugar.

          É por isso que o edifício é conhecido, ainda hoje, pelo nome de casa Lleó i Morera que é sobrenome usado pelo filho, e não pelo sobrenome da mãe, Morera Ortiz, que, infelizmente, não pôde ver as obras concluídas nem pôde morar no andar principal como ela gostaria.

          Casa Lléo Morera

          A reforma do edifício e a nova decoração de todos os interiores foram concluídas no final de 1905, e em fevereiro de 1906, Albert Lleó i Morera solicitou autorização à Câmara Municipal de Barcelona para alugar os apartamentos. Esta renovação e, sobretudo, a decoração explosiva da fachada com relevos escultóricos, cerâmica e ferro forjado, valeram ao arquiteto Domènech i Montaner o Prêmio de Melhor Edifício de 1906, atribuído pela Câmara Municipal de Barcelona, um reconhecimento que também lhe deu muito prestígio.

          Para superar a incrível concorrência das casas vizinhas, o arquiteto reuniu um grande número de artistas e artesãos, com a finalidade de criar uma obra de suprema qualidade e beleza. Eusebio Arnau foi o escultor responsável pelas esculturas da fachada, que representavam figuras femininas abraçadas a uma embarcação, mas que hoje já não existem mais pois foram demolidas após uma reforma do prédio em 1943. Também esculpiu os relevos escultóricos do salão do piso principal, onde está representada a canção popular de La Dida del Niño-rei.

          Lluís Bru e Mario Maragliano, foram os artistas responsáveis pelas cerâmicas e mosaicos das escadas e do piso principal, Antoni Rigalt Blanch ficou responsável pelos vitrais, destacando o vitral monumental que ocupa os fundos da casa com a representação da árvore da vida. Além destes, vários outros artistas fizeram parte da equipe, como Antoni Serra Fiter (pintor e ceramista), Gaspar Homar (decorador e marceneiro), Josep Pey (responsável pela marchetaria dos móveis), 
          Alfons Juyol (escultor) e Joan Carreras (escultor e entalhador).

          A decoração do interior da casa

          Várias partes da estrutura da casa foram afetadas em vários eventos diferentes no decorrer de sua história, como por exemplo durante a Guerra Civil Espanhola, quando o pavilhão que coroa o edifício foi utilizado como um ninho de metralhadoras e ficou cravejado das balas que recebeu, e partes da fachada ficaram totalmente danificadas. Toda a casa e seu interior passaram por uma intensa restauração décadas depois.

          Em 1943, todo o andar térreo foi praticamente destruído, quando foi alugado para abrigar uma loja de luxo e que promoveu a perda definitiva das vitrines modernistas de Arnau com  as esculturas das senhoras nas floreiras, destruídas com uma picareta na mesma calçada. As cabeças foram recuperadas pelo zelador da propriedade, que posteriormente as vendeu a Salvador Dalí.

          As esculturas de Arnau que foram destruídas na reforma do térreo

          A casa Lleó Morera permaneceu nas mãos da família até 1943, quando o edifício foi vendido à Sociedade Mercantil de Bilbao e, posteriormente em 1983 foi comprado pela Mutualidad General de Previsión Social de la Abogacía de Madrid, que alguns anos mais tarde o vendeu ao  Grupo Planeta.

          O fato do edifício ter permanecido como propriedade da família durante três gerações favoreceu a manutenção das características mais distintivas do interior do edifício, como os delicados elementos ornamentais inspirados nas linhas sinuosas e na natureza, desenvolvidos nos mais diversos materiais graças à intervenção de professores e artesãos.

          Entre 1986 e 1988 o arquiteto Óscar Tusquets foi o responsável pelo restauro do resto do edifício, tendo restaurado os danos causados aos pináculos e o templo da cornija, e também feito o restauro e recuperação de elementos arquitetônicos da fachada. Em 2006, o Grupo Núñez y Navarro adquiriu a Casa Lleó Morera e iniciou um novo projeto de reabilitação e recuperação arquitetônica.

          Na internet as informações não estão muito claras, aparentemente a Casa Lleó Morera abriu as portas à visitação pública entre 2014 e 2016, fechando posteriormente as portas. Mas parece que atualmente está aberta novamente, realmente não tenho certeza, os dados abaixo podem ser de 2014.

          Abaixo os dados de localização e horários de funcionamento:
          • Endereço: Passeig de Gràcia, 35
          • Horários:
            • De segunda a sábado, sem horário especificado
          • Ingressos
            • Adultos 15€
            • Crianças menores de 25 e maiores de 65 anos 13,50€
            • Gratuito para menores de 12 anos e preços especiais para grupos
            • Site: https://www.nyn.es/es/rehabilitacion/casa-lleo-i-morera

            Detalhe do Pavilhão
            Os Trabalhos de Decoração
            As escadas

            Agora vamos continuar o passeio pelo Passeig de Gràcia, mas antes faz-se absolutamente necessário uma paradinha no Museu do Perfume, que... adivinha? Também fica localizado na Manzana de la Discordia e eu não posso perder uma visitinha básica nesta maravilha!!

            O Museu do Perfume de Barcelona foi inaugurado em meados de 1963 com o objetivo de mostrar ao público a evolução dos frascos e recipientes de perfume ao longo da história e da geografia. Suas vitrines exibem desde culturas egípcias, gregas, etruscas, romanas, árabes e outras culturas antigas, até recipientes de essências, perfumistas e frascos de perfumes de todas as épocas, até as mais modernas criações dos perfumistas atuais. O acervo do museu é composto por cinco mil peças, entre garrafas antigas e modernas, além de miniaturas, catálogos, rótulos e material publicitário antigo.

            O perfume, em todos os tempos, foi e é um produto apreciado e valioso, por isso os frascos e outros recipientes que os contêm sempre se destacaram por serem originais nas suas formas, ou valiosos nos seus materiais. o mesmo tempo. As garrafas antigas são um reflexo fiel da arte e da cultura de cada um dos povos que as utilizaram e nos tempos modernos é possível acompanhar através das suas formas e desenhos todos os movimentos artísticos que surgiram num determinado momento da história.

            O Museu está dividido em duas partes bem definidas. A primeira parte é apresentada em ordem cronológica, mostrando copos, frascos, pomadas, essências e outros recipientes desde as culturas antigas até os tempos modernos e uma segunda parte onde são mostrados os frascos da perfumaria industrializada grupadas por marcas comerciais, sem levar em consideração o ano de aparecimento no mercado, cobrindo um período que vai da segunda metade do século XVIII até os dias de hoje.

            Fachada da Loja Regia

            O Museu do Perfume fica nos fundos da Perfumeria Regia e pode passar despercebido. Possui um acervo de mais de cinco mil peças, entre frascos antigos e modernos, além de miniaturas, catálogos, rótulos e material publicitário antigo. As coleções estão divididas da seguinte forma: a Coleção de História Antiga, que fornece detalhes do procedimento da fabricação de perfumes e seu ssignificado cultural desde as antigas civilizações do Egito, Grécia, Roma, Pérsia, etc.

            Em seguida vem a Coleção Pré-Comercial, que inclui todos os perfumes pré-comerciais, classificados em 5 materiais diferentes de acordo com seus frascos.: Porcelana, Vidro e Cristal, Metal, Mineral e Orgânico. E por fim a Coleção Comercial, composta por todos os tipos de perfumaria industrializada, desde a segunda metade do século XVIII: o que inclui as marcas famosas da atualidade, como Nina Ricci, Paco Rabanne, Christian Dior, Chanel, Elizabeth Arden, Lancôme, etc.


            Museu do Perfume

            Uma visita ao Museu do Perfume é uma aula de história da arte e um prazer para os olhos. 
             
            Abaixo os dados de localização e horários de funcionamento:
            • Endereço: Passeig de Gràcia, 39
            • Horários:
              • De segunda a sexta das 10:30 às 14h
              • Fechado aos sábados, domingos e feriados 
            • Ingressos
              • Geral: 5€
              • Reduzida: 3€
              • Site: https://museudelperfum.com/contacto/

              Detalhes das Coleções de Perfumes

              Bom, o passeio de hoje termina por aqui... e com ele a visita a todas as casas emblemáticas de Barcelona. A pedida vai ser aproveitar o resto do dia para um jantar tranquilo e bastante descanso... porque amanhã vai ser caminhada pra lá e pra cá!!! Para a página sobre Barcelona não ficar parecendo um pergaminho, resolvi dividir em duas: essa primeira com um pouco sobre a história da cidade e o primeiro dia com as visitações ao Park Güell e às famosas casas modernistas de Barcelona.

              Na próxima página vamos ver as outras fantásticas atrações da cidade divididas em outros três dias... e como se diz em catalão: "fins aviat"... em português "até já"




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