*** CÓRDOBA *** 7°, 8° e 9° dia da viagem |
Só pelas minhas primeiras pesquisas sobre Córdoba, já me apaixonei... Dá
pra sentir quando uma cidade vai te conquistar de jeito... nem conheço
ainda, mas já sei que vou amar!!! Lembra uma mistura de Pipa com Sorrento,
com todas aquelas flores nos pátios e as ruelas e escadarias... minha
cara!!!
Por incrível que pareça, Córdoba não está entre as cidades mais visitadas da Andaluzia, talvez por não ser tão vibrante como Sevilha, nem tão exótica como Granada. Eu fiquei meio chocada com essa informação, porque durante as minhas pesquisas posso dizer que Córdoba me surpreendeu e se tornou rapidamente um dos destinos mais aguardados.
Dizem que os moradores de Córdoba são bastante simpáticos e a cidade tem um jeito bucólico que desperta uma vontade de ficar só passeando pelas suas ruazinhas românticas e tão bem preservadas. No centro histórico, as paredes conservam-se pintadas de branco, as ruas são estreitas e os pátios são coloridos, e apesar de pequeno é onde estão concentrados as principais atrações. Aliás, fica o lembrete de que o Centro Histórico é fechado ao transito de automóveis e somente os moradores podem circular de carro por ali.
Vamos lá... a maioria dos roteiros em Córdoba são do tipo bate-volta em um dia... mas você já deve saber que eu vou conhecer tudo e mais um pouco e pra isso o meu roteiro prevê ficar 2 dias na cidade.
Considerada como uma cidade milenar, Córdoba dispõe do segundo maior centro histórico da Europa e a maior área urbana do mundo declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
História de Córdoba
Vou começar falando um pouco sobre a história da cidade que começou a
surgir no ano de 206 aC, quando o povoado que deu origem à Córdoba foi
conquistado pelos romanos. O nome de Córdoba significa “cidade do rio” ou “cidade dos turdetanos”,
povoado pré-românico que habitou esse território.
Neste período, o povoado de Corduba como era chamada pelos romanos,
protagonizou um autêntico desenvolvimento urbanístico. Foram construídos
grandes monumentos, como o fórum, o circo, o teatro, o Templo Romano, uma
grande muralha que rodeava toda a cidade e a Ponte Romana, que unia a
cidade com Roma através da Via Augusta. Alguns desses monumentos podem ser
visitados na atualidade.
Em meados do século VI, Córdoba perde seu papel de capital e sofre
diversas revoltas que marcam um grande declive. No ano 572, os visigodos
se assentam em Córdoba e permanecem quase dois séculos no domínio da
cidade. Durante esse período, os judeus, que haviam gozado de liberdade de
culto com os romanos, foram perseguidos e obrigados a abandonar sua
religião. Este fato provocou o futuro apoio do povo hebreu às tropas
muçulmanas que invadiram a cidade a princípios do século VIII.
No ano 711, tropas dos povos berberes do norte da África cruzaram o
estreito de Gibraltar e começaram a invasão da Península Ibérica e
denominaram esse novo território conquistado como Al-Ándalus,
tornando-se uma província dependente do Califado Omíada. Durante vinte
anos, o exército berbere avançou até ser derrotado em Tours, no
nordeste da França, marcando assim o início do retrocesso muçulmano,
que provocou conflitos internos entre árabes e berberes.
No meio do caos, o jovem Abderraman I, único sobrevivente do massacre
da dinastia omíada na Síria, fugiu de Damasco e fundou o primeiro
emirado omíada de Córdoba em 756. Assim, Córdoba se tornou a capital
de Al-Ándaluz e se fez independente politicamente do califado, embora
tenha mantido seus vínculos religiosos.
Nos 170 anos seguintes, sete emires sucederam Abderraman I e nesse
tempo Córdoba viveu uma importante transformação urbana e cultural. O
bairro judeu, conhecido como judería, se ampliou e as ruas seguiram o
traçado típico da arquitetura muçulmana, dando lugar a um labirinto de
ruas estreitas e patios floridos, seguindo a ideia do “jardim do
paraíso".
O oitavo emir de Córdoba, Abderraman III, rompeu definitivamente os
vínculos religiosos com o califado de Bagdá no ano 929 e se
autoproclamou califa de Córdoba. Sob seu mandato, a cidade viveu uma
época de esplendor sem precedentes e chegou a ser o principal centro
cultural do Ocidente.
Já naquela época a cidade se destacava como um importante posto comercial, tendo se fortalecido a cultura do zoco na cidade, que aliás perdura até
os dias atuais. O zoco é o nome dado em castelhano a todos os tipos de mercados
tradicionais dos países árabes, especialmente aqueles realizados ao ar
livre e que muitas vezes acontecem em um determinado dia da semana ou em
uma certa época do ano.
Mercados ao ar livre conhecidos até hoje como "zocos"
Por volta do ano 1000, a cidade tornou-se uma das mais povoada, culta e
opulenta de toda a Europa, com quase 1 milhão de habitantes. Este
período simbolizou a convivência de judeus, cristãos e muçulmanos durante mais de
um século. Em todo esse tempo, a cidade califal se tornou o ponto de
encontro de célebres cientistas, filósofos, astrônomos e matemáticos. Além
disso, foram feitas importantes obras públicas, como a pavimentação das
ruas, esgotos e iluminação noturna.
Mas, sem dúvida, a obra mais importante da Córdoba califal foi a
construção da Medina Azahara em 936. Abderraman III trasladou o governo
e a corte a essa cidade palatina, de onde gerenciou o funcionamento do
califado, recebeu líderes internacionais e conciliou as relações entre
berberes, cristãos e judeus.
Seu sucessor no trono foi Al-Hakam II, quem por sua vez deixou o trono
ao seu filho Hisham II, de apenas onze anos. A inexperiência do jovem
califa fez com que o fidalgo Almançor ganhasse protagonismo e influência
até concentrar todo o poder civil e militar.
Os constantes ataques de Almançor aos reis cristãos fizeram como que
esses se unissem e protagonizassem um levantamento que colocou fim ao
califado de Córdoba no ano 1031. Os berberes saquearam e incendiaram
Medina Azahara e a comunidade muçulmana de Córdoba se dividiu em
pequenos estados denominados reinos de taifas. As tropas almorávidas
aproveitaram essa situação e arrasaram esses reinos, que mais tarde se
rebelaram dando lugar aos segundos reinos de taifas.
No século XII, o império Almóada chegou à Península Ibérica e unificou
todos esses reinos. Poucos anos depois, os almóadas foram derrotados
pelos cristãos, dando lugar aos terceiros reinos de taifas.
Finalmente, as tropas cristãs de Fernando III entraram em Córdoba e
conquistaram todo o território em 1236. Embora a cidade tenha mantido
sua essência árabe, os muçulmanos foram expulsos, a Medina passou a ser
vila medieval e foram construídas diversas igrejas. E neste momento a
história de Córdoba iniciou seu período cristão.
Conquista de Córdoba por Fernando III
No século XV, os Reis Católicos se instalaram em Córdoba para dirigir da
cidade a reconquista de Granada e a cidade recuperou parte de seu
esplendor. Em 1486, Isabel e Fernando receberam o marinheiro genovês
Cristóvão Colombo no Alcácer dos Reis Cristãos para escutar sua
inovadora rota rumo às Índias.
A cristianização total de Córdoba chegou em 1482, quando os Reis
Católicos expulsaram os judeus e muçulmanos da Península Ibérica. Como
consequência, em 1523, Carlos I autorizou a construção de uma catedral
no interior da Mesquita. Nos anos seguintes, também foram construídas as
Cavalariças Reais, a Porta da Ponte e a Plaza de la Corredera.
Córdoba teve um papel de protagonista em 1808, quando as tropas do
general Castaños venceram o exército francês na Batalha de Bailén, que
representou a primeira derrota de Napoleão e o início do seu declive.
Sétimo Dia - Mezquita-Catedral de Córdoba e o Alcázar de los Reyes Cristianos
Uma das grandes atrações de Córdoba é, sem dúvida, a Mezquita-Catedral de Córdoba, uma das construções mais impressionantes da Espanha e que fica bem pertinho do Alcázar de los Reyes Cristianos, que veremos em seguida.
Abaixo um mapa com a localização da Mezquita-Catedral e do Alcázar, que estão localizados bem próximos.
Mapa de localização da Mezquita-Catedral e do Alcázar
Antes da Mezquita-Catedral ser erguida existia ali uma basílica visigoda devotada a São Vicente, que depois da invasão árabe chegou a ser compartilhada por maometanos e cristãos, e antes dessa igreja havia um templo romano. Construída por ordem do emir de Córdoba, Abd al-Rahman I, no século VIII, foi o primeiro monumento de origem muçulmana arquitetado no Ocidente e passou a ser usado apenas por muçulmanos com finalidade religiosa, social, cultural e política. O edifício teve diversas ampliações, tanto durante o Emirado de Córdoba, quanto durante o Califado de Córdoba. Ela tem uma superfície de 23.400 metros quadrados, 1.300 colunas de várias épocas e 365 arcos de ferradura, o que faz com que seja uma construção bastante imponente e impressionante.
Antigamente era a segunda maior mesquita do mundo em termos de superfície, sendo superada apenas pela Mesquita de Meca. Mas mais tarde foi também superada pela Mesquita Azul de Istambul.
Quando no ano de 1236 ocorreu a reconquista cristã, a mesquita foi transformada em uma catedral, mas manteve os elementos da arquitetura moura. A Mezquita-Catedral de Córdoba é considerada uma das edificações mais exóticas do mundo, pois une em um mesmo edifício características islâmicas como arcos e colunas de mármore com elementos da igreja cristã como capelas, altares e santos.
A Mezquita-Catedral é Monumento Nacional desde 1882 e foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1984. Alguns anos mais tarde, em 2014, elevou a sua qualificação para Bem de Valor Universal Excepcional. Em 17 de dezembro de 1994, a UNESCO estendeu a todo o centro histórico a declaração de Patrimônio da Humanidade que a Mezquita-Catedral de Córdoba já possuía.
A parte mais chamativa da Mezquita-Catedral de Córdoba é o bosque de colunas que forma a sala de oração, também chamada de Sala Hipóstila. Esse santuário é formado por várias naves compostas por colunas e arcos de ferradura bicolores. No total, a sala de orações se divide em cinco partes diferenciadas segundo os materiais usados em cada ampliação da mesquita.
Além das arcadas, o elemento mais destacado da mesquita é o Mihrab, datado do século X. Esse elemento está localizado na Quibla, o muro orientado a Meca, e é o espaço mais íntimo da mesquita, já que é o lugar de onde o imã dirige a oração. O Mihrab da Mezquita-Catedral de Córdoba está decorado com inscrições do Corão e um grande arco de ferradura decorado com temas vegetais.
O atual minarete da Mezquita-Catedral foi construído no século X por Abderraman III para substituir um menor do período anterior. O minarete estava decorado com quatro pares de arcos de ferradura rematados por uma cúpula.
Com a reconquista cristã de Córdoba, o antigo minarete islâmico foi coberto com elementos barrocos dando lugar a um campanário próprio das catedrais cristãs que é também conhecida com o nome de Torre del Alminar. Dentro do campanário atual ainda se conserva a estrutura original do minarete, que pode ser visitada. Atualmente, a Torre do Campanário de Córdoba mede 54 metros e é o edifício mais alto da cidade.
Em 1236, a mesquita de Córdoba se consagrou como catedral cristã, dando lugar a algumas modificações, como a construção de pequenas capelas, abóbadas e a Capela Real para abrigar os restos dos reis cristãos. Finalmente, em 1523, Carlos V mandou construir uma grande catedral cuja planta teria forma de cruz latina no interior da mesquita.
As obras se estenderam durante mais de oitenta anos, foi construída uma grande cúpula renascentista e também os braços do cruzeiro. Os elementos mais destacados da catedral são o altar-mor do século XV, o rebuscado teto e cúpula renascentista, o imenso órgão e o conjunto de cadeiras do coro barroco talhado em madeira.
Mas não deixe de admirar com calma a profusão de detalhes presentes nas 37 capelas, porque mais do que um templo religioso, ela é uma inquestionável expressão de poder, com mais de 14 mil metros quadrados em seu recinto interior, o suficiente para congregar 20 mil pessoas, sem aperto.
A Mezquita-Catedral de Córdoba ocupa um recinto murado com cerca de 25 mil metros quadrados de área e dispõe de 23 portas de acesso. Muitas conservam as características mouriscas, outras ganharam adornos cristãos.
Neste espaço imenso, além da própria catedral cristã e da sala das colunas, outra grande atração é o Patio de los Naranjos, traduzido como Pátio das Laranjeiras.
Recinto Murado
O Pátio das Laranjeiras foi o centro da vida islâmica durante o Emirado e o Califado de Córdoba. Ao longo desse espaço aberto flanqueado por várias galerias e pórticos tinham lugar tarefas de ensino, justiça e administração.
O pátio da mesquita também sofreu alterações e ampliações para adaptar-se ao crescimento da capital de al-Ándalus. Está dividido em três partes, cada uma com uma fonte ou cisterna para as purificações dos muçulmanos antes da oração.
De acesso gratuito, que é uma impressionante área de descanso cercada por laranjeiras que se misturam com palmeiras, oliveiras e ciprestes. Dentro do pátio, encontramos a Puerta de las Palmas, em estilo mudéjar, que se abre para a sala de orações da mesquita. A partir daqui é necessário apresentar o ingresso.
Outra parte muito importante da Mezquita-Catedral que vale a pena conhecer é a Capilla del Sagrario, ou em português a Capela do Tabernáculo, onde são guardadas as hóstias consagradas. A Capilla do Sagrario ocupa toda a esquina sudeste da imensa construção, estando situada no espaço anteriormente ocupado pela Biblioteca Capitular, construída em 1517 por Hernán Ruiz I, para abrigar a esplêndida biblioteca doada pelo Bispo de Córdoba Martín Fernández de Angulo.
Os afrescos da capela do Sagrario constituem possivelmente a mais importante mostra de pintura mural em todo o território andaluz. Eles foram feitos pelo artista italiano César Arbasia e a obra foi concluída em 1586. O altar principal é ladeada por pinturas representativas do rei Davi e do profeta Isaías e, na parte superior da parede é uma versão da Santa Ceia, um trabalho também feito por Cesare Arbasia em 1585 e realizada de acordo com os maneiristas esquemas do século XVI.
Uma curiosidade: sob o altar encontra-se uma cripta que não é possível aceder porque a entrada estava coberta e escondida quando o pavimento de toda a capela foi restaurado. Na cripta estão enterrados, sem nenhum epitáfio ou indicação que o indique, três bispos de Córdoba: Hernando de Vega y Fonseca, falecido em 1591, Jerónimo Ruiz Camargo, bispo de Córdoba entre 1632 e 1633 e Francisco de Alarcón y Covarrubias, bispo de Córdoba entre 1657 e 1675.
Algumas Curiosidades:
- A Mezquita-Catedral está mal orientada: ao contrário do resto dos templos islâmicos do mundo, a quibla da Mezquita de Córdoba não aponta para Meca, e sim ao rio Guadalquivir, no sudeste. Acredita-se que esse curioso dado se deve a um erro de cálculo dos arquitetos do califado, que imitaram a orientação das mesquitas de Damasco sem levar em conta a posição de al-Ándalus no mapa.
- O Pátio das Laranjeiras nem sempre teve laranjeiras: foi apenas no final do século XVIII que essas árvores cítricas foram plantadas no pátio principal da mesquita. Até então, o pátio sempre teve palmeiras e mais tarde foram colocados oliveiras e ciprestes. Atualmente conta com 98 laranjeiras.
- A quem pertence a Mezquita-Catedral? A titularidade do monumento mais importante de Córdoba continua sendo motivo de disputa desde 2006, quando a Igreja o inscreveu para sua gestão.
- A coluna da unha: entre duas capelas da catedral está a coluna do cativo ou coluna da unha, famosa pela inscrição de uma cruz feita por um preso cristão durante seu cativeiro.
- Embora ainda não tenha sido descoberta, os arqueólogos acreditam que exista um túnel que vai da Mezquita-Catedral até a cidade de Medina Azahara.
- Há restos da mesquita em Hiroshima: depois da bomba atômica que arrasou Hiroshima na Segunda Guerra Mundial, um monge japonês levou sementes das laranjeiras da Mezquita-Catedral de Córdoba para criar um jardim dedicado às vítimas da catástrofe.
- Marcas dos pedreiros nas colunas da mesquita: em muitas das 1.300 colunas da mesquita de Córdoba é possível contemplar inscrições em árabe junto a símbolos cristãos. Acredita-se que seus autores foram pedreiros cristãos que se converteram ao islã.
Enfim, visitar a Mezquita-Catedral é um passeio duplo onde você poderá distinguir facilmente os traços de uma construção católica e também de uma mesquita islâmica, que se cruzam em uma variação sutil entre o estilo elegante dos árabes lado a lado com a arquitetura gótica e barroca do catolicismo.
Terminada a visitação à Mezquita-Catedral, vamos agora conhecer o Alcázar de los Reyes Cristianos, e pra isso é bom reservar o final da manhã e parte da tarde, para fazer uma visita completa à esta incrível residência real hoje transformada em museu e seus maravilhosos jardins.
O ideal é que depois da visita à Mezquita-Catedral, você aproveite para fazer uma pausa para um lanche reforçado porque o almoço vai ser tardio, bem no meio da tarde, por isso descanse bem os pesitos, beba bastante água para reidratar e recarregue as energias porque vem muita andança por aí...
O Alcázar de los Reys Cristianos é um conjunto arquitetônico que apresenta um visual sóbrio e discreto no exterior e esplêndido no interior, com magníficos jardins e pátios de inspiração mudéjar, localizado em uma das margens do rio Guadalquivir. Embora haja uma aparência islâmica na construção, apenas uma parte das ruínas mouras foi mantida, o resto é puro estilo mudéjar.
Alcazár de los Reyes Cristianos - Visão Aérea
As primeiras referências a este local datam da época romana, quando Córdoba era a capital da Hispânia Ulterior e albergava uma alfândega fluvial no mesmo espaço. Os vestígios mais antigos foram encontrados no Patio de las Mujeres, como uma muralha romana do século I após a refundação realizada pelo Imperador Augusto. Também foram encontrados vestígios dos séculos V e VI de ruínas de um castelo colado à parede que tinha a função de proteger a ponte romana e o porto fluvial.
Durante o Emirado de Córdoba, foi construído o chamado Alcázar da Andaluzia, que foi residência real durante vários séculos. Os jardins foram construídos sob o mandato de Abderramán II, juntamente com a construção de um aqueduto que transportava água do Guadalquivir para a fortaleza. O Alcázar perdeu relevância com o estabelecimento do Califado de Córdoba e a transferência da corte para Medina Azahara, embora após a queda do Califado voltou a ser residência real.
Após a conquista da cidade pelos castelhanos, o soberano Alfonso X deu início às primeiras construções cristãs sobre as muçulmanas, como a Torre dos Leões que veremos mais a seguir.
Porém a maior parte de sua construção ocorreu a partir de 1328 pelas mãos de Alfonso XI de Castela, que projetou um quadrangular espaço de 4.000 metros quadrados e construiu os banhos mudéjar para sua amante sevilhana Leonor de Guzmán.
Alcazár de los Reyes Cristianos - Visão Panorâmica
Passou a ser conhecido como Alcázar de los Reyes Cristianos porque os Reis Fernando e Isabel viveram no castelo durante oito anos enquanto orquestravam a reconquista de Granada, o último reduto árabe na Espanha. E só por curiosidade, foi também no Alcázar que Cristovão Colombo apresentou a ideia de ir à descoberta de um caminho para a Índia.
Depois da reconquista de Espanha estar completa, Fernando e Isabel doaram o edifício à igreja de Córdoba, que assim se transformou no Tribunal dos Santos Ofícios durante a Inquisição, perdendo assim seu caráter palaciano. Esta instituição realizou várias obras de adaptação do edifício ao novo uso, como por exemplo a transformação das termas mudéjar em celas para os reclusos, ou a construção da capela da Inquisição durante o século XVIII. Um dos inquisidores mais cruéis que habitaram o Alcázar foi Diego Rodríguez de Lucero, que teve 107 pessoas queimadas na fogueira em um auto-de-fé em 1504. Esta situação continuou e os cidadãos, exaustos, invadiram o Alcázar e libertaram mais de 400 prisioneiros.
Mas o Alcázar teve vários outras usos ao longo de sua história. Em 1810, durante a guerra peninsular, foi transformado em guarnição de tropas invasoras de Napoleão e em 1821 passou a ser a prisão municipal, o que fez com que o complexo passasse por uma nova remodelação realizada pelo arquiteto municipal Pedro de Lara, na qual foram encerrados os arcos do pátio mudéjar para a colocação de novas celas.
Já em 1931, durante a Segunda República Espanhola foi utilizado como quartel e prisão militar. No entanto, depois da Guerra Civil Espanhola, o regime de Franco optou por transferir a prisão para outro local e deixou o Alcázar somente como uma administração militar.
O complexo é um Bem de Interesse Cultural como Monumento Histórico-Artístico e desde a década de 1950 faz parte do circuito de monumentos a visitar do centro histórico de Córdoba, tendo sido declarado pela UNESCO como Património Mundial.
Nos dias atuais, além de atração turística funciona como um museu e um lugar para eventos públicos e privados como concertos, casamentos e exposições.
Para visitar o Alcázar de los Reyes Cristianos não existem guias e nem muitas placas indicativas, pelo que pude perceber nas minhas pesquisas... Então, fiz um apanhado de várias explicações que vi nos sites e blogs sobre o assunto.
Neste recinto amuralhado existem dois elementos bem diferenciados, Castelo e Jardins, que podem ser acessados por duas entradas, uma que acede ao castelo a partir da Torre de los Leones, e outra pela margem do rio que nos conduz aos jardins.
O complexo do Alcázar de los Reyes Cristianos é constituído por quatro paredes rematadas nos cantos por quatro torres. No edifício existem vários níveis, no nível térreo encontramos dois pátios, o Pátio Mourisco e o Pátio de las Mujeres. Ao mesmo nível encontra-se o acesso à escadaria principal e a passagem de ligação entre o Alcázar e os estábulos reais. No primeiro andar encontra-se o Salão de Mosaicos e o topo da atual escadaria principal. E o último andar equivale ao andar das Torres e Muralhas.
Através do Pátio Mourisco no térreo entra-se nos Jardins, distribuídos por três terraços. São formados por uma grande variedade de vegetação, piscinas, fontes e o Paseo de los Reyes que será mencionado mais adiante.
É importante se familiarizar com a planta do Alcázar e a disposição dos vários pavimentos, pois é um pouco confuso e como não existem muitas indicações dá para ficar perdidinho!! É importante você observar que o início da visitação costuma ser pelas Torres de los Leones e Homenaje, fazendo com que primeiro o turista suba ao andar superior onde ficam as muralhas e depois desça para os outros andares.
A fortaleza tem um formato retangular com extensos muros de pedras e quatro torres que perfilam seus ângulos: Torre de los Leons, Torre del Homenaje, Torre de la Inquisición e Torre de la Paloma.
A visita começa logo depois de passar pelo portão principal, subindo na primeira e mais famosa das torres, a Torre de los Leones, localizada no lado noroeste e que é a mais antiga de todas, de formato quadrado e com dois andares. A origem de seu nome é encontrada nas gárgulas no canto superior esquerdo e é a mais antiga de todo o Alcázar, datando do século XIII.
No térreo fica a entrada principal do recinto em arco, à direita fica a recepção e a venda dee ingressos; à esquerda, um brasão de Felipe II e em frente, uma estátua de Alfonso X “el Sabio”. Os andares superiores são acessados por uma estreita escada em espiral, localizada no corredor, e acredita-se que este espaço tenha sido usado como a cripta da capela, que se localiza no andar acima e é conhecida como Capela de Santo Eustáquio. Esta capela superior parece ter sido usada como capela real, para o serviço religioso dos reis católicos.
No interior, o piso é coberto por esguias abóbadas nervuradas, com arcos pontiagudos e nervuras emolduradas em pedra de Córdoba. Os arcos internos são sustentados por finas colunas, que fazem com que o conjunto sugira uma sensação de verticalidade, que se soma à beleza proporcionada pelos pequenos capitéis que sustentam os arcos. A iluminação nesta sala é obtida através de vários pontos de luz, graças às janelas estreitas.
Existem algumas incisões que aparecem nas paredes do interior da Torre dos Leões, e que indicam que esta torre pode ter sido utilizada como cela durante os séculos em que este castelo foi sede do Tribunal da Santa Inquisição. Memória material daquele momento histórico do condenado ou aguardando sentença. Com essas incisões, os presos tentaram demonstrar sua posição religiosa, aguardando, assim, a misericórdia do Tribunal. De todos os vestígios é necessário destacar aqueles alusivos à Eucaristia e símbolos da fé.
Existem faixas largas ao estilo almóada nos quatro lados externos e um terraço na cobertura com ameias e é justamente a partir daí que se tem as melhores vistas panorâmicas da fortaleza, dos seus jardins e dos seus arredores. É também um excelente ponto para se ter uma vista panorâmica de Córdoba, com o edifício da mesquita nas proximidades em primeiro plano, assim como o rio Guadalquivir e a ponte romana mais ao fundo.
A partir da própria Torre de los Leones pode-se aceder à Torre del Homenaje, pois são ligadas pelo único passadiço atualmente em uso, localizado na parede norte. Este passadiço deve ter tido grande importância em todo o Alcázar, embora seja difícil elucidar, visto que a parede norte, a partir deste local, foi totalmente reconstruída pelos Reis Católicos. Nesta torre octogonal é onde a fortaleza foi jurada a ser defendida e onde as proclamações dos reis e audiências reais e altos dignitários eram feitas.
O corpo da Torre del Homenaje é mais alto do que largo, uma torre dominante, a mais imponente de todas, de planta poligonal. É coroada por um terraço com ameias rematadas por prismas como as do resto do edifício, ao qual se acede por uma escada de pedra. Ao lado, uma torre mais alta, com arcos e cobertura de quatro águas.
No piso superior encontra-se a sala principal ou sala de recepção que é uma sala octogonal, com colunas baixas e não muito delgadas, e uma abóbada alta, cujas nervuras assentam em capitéis lúcidos ornamentados com motivos vegetais em relevo. A tradição coloca nesta sala a primeira recepção dos Monarcas Cristãos a Cristóvão Colombo. O terraço superior da torre é acessado por uma escada reta, iluminada por duas rosáceas. Seus degraus são sustentados por estantes decoradas com finas molduras.
Do telhado, uma pequena torre elevada com varanda coberta provou ser o lugar ideal para a inquisição realizar suas execuções públicas.
As outras duas torres não estão abertas ao público.
A Torre de La Paloma ou também chamada de la Vela está localizada no extremo sudeste e foi demolida em meados do século XIX e reconstruída em meados do século XX. Existem algumas gravuras que indicam que a planta era retangular, no entanto, outros estudos realizados nos restos existentes indicam que a planta era circular. Seu estado atual corresponde a uma reconstrução feita com poucos critérios na segunda metade do século passado.
Fora do Alcázar é preservada a parte inferior de outra torre, que se chamava Del Agua ou de los Terremotos, e que estava rodeada por construções que foram desmontadas posteriormente, sua função poderia ser defensiva e abastecedora de água à fortaleza.
Na área externa do Alcázar, a parte baixa de uma velha torre conhecida como del Agua ou Terremotos sobreviveu até os dias atuais. Acredita-se que ela poderia ter um uso defensivo e também de abastecimento de água. Durante anos, esteve escondida por uma série de construções que quando foram desmontadas acabaram revelando a velha torre.
Torre de la Paloma
A chamada Torre de la Inquisición, também conhecida por Torre dos Jardins, está localizada a sudoeste, apresenta uma planta circular na base e poligonal no exterior e é posterior a todas as outras torres do Alcázar. Foi reconstruída durante o reinado de Henrique IV no século XV, provavelmente sobre as fundações de uma torre anterior, de estrutura completamente diferente.
No interior, tem três pisos com quartos cobertos por cúpulas de tijolos alaranjados. Esta torre serviu de arquivo para o Tribunal da Santa Inquisição durante séculos, guardando documentos valiosos no seu interior, o que acabou lhe dando o nome. Esta torre, como a anterior, também não pode ser visitada.
Como começamos a visita ao Alcázar pelas Torres, vamos continuar visitando o primeiro andar conhecido como Andar de los Salones, por isso temos que voltar pelo caminho e descer as escadas. Passando pelo arco e pela sala que serve para receber os visitantes, poderemos contemplar os restos de um antigo brasão de Felipe II e também uma estátua que representa o Rei Afonso X "o Sábio". É uma obra realizada em 1965 pelo escultor Juan Polo Velasco, em que o monarca aparece com feições sérias e vestido com uma longa capa e a coroa real na cabeça.
Em seguida, estaremos em uma Galeria através da qual chegaremos ao Salón de los Mosaicos. É uma galeria de planta retangular, dividida por quatro arcos, onde o tijolo e o branco das paredes se combinam na perfeição. Ao longo do caminho encontram-se alguns dos elementos notáveis que integram a Coleção de Arte Alcázar, como várias estátuas, um sarcófago romano e um busto de Séneca feito pelo escultor Mateo Inurria.
Um dos objetos que vão chamar a atenção é o Sarcófago Romano, uma extraordinária obra de arte do século III dC, feita sobre um único bloco de mármore e que apresenta três das suas quatro faces esculpidas. É um enterro familiar descoberto no bairro Huerta de San Rafael, em Córdoba.
Além disso, através das suas varandas contemplaremos desde as alturas o mesmo Pátio Mourisco por onde passaremos mais tarde e também podemos ver, embutidos na parede, fragmentos de um antigo pavimento do primitivo castelo.
O Salón de los Mosaicos tem sua entrada pela galeria onde estão o sarcófago romano e o busto de Sêneca. A sala tem uma planta retangular, coberta por abóbada de lunetas e arcos, decorada com motivos geométricos, típicos de Córdoba setecentista. Na sua decoração, destacam-se os mosaicos da época romana, datados dos séculos II e III, encontrados por ocasião das obras de remodelação da Plaza de la Corredera, e que hoje embelezam as paredes da sala e conferem ao quarto o seu nome.
No início, quando de sua construção, foi a Capela da Inquisição, onde funcionavam os autos-da-fé. Após a extinção da Inquisição em 1820 tornou-se prisão. Hoje é denominado Salón de los Mosaicos devido aos mosaicos romanos que pendem em suas paredes e a Câmara Municipal utiliza-o para os seus atos mais solenes e para casamentos civis.
Suas formas atuais são fruto de uma reforma realizada no século XVIII.
Abaixo, duas plantas baixas do andar dos salões e do andar dos pátios, com as marcações dos dois pátios. As quatro torres são ligadas por quatro paredes chamadas norte, leste, sul e oeste. Duas estruturas foram construídas, com uma terceira parte central que percorre o espaço do Alcázar de norte a sul juntando-se às duas anteriores. Este último é o que dá origem à divisão em dois pátios do espaço central do Alcázar, o Pátio dos Mouriscos a oeste e o Pátio de las Mujeres a leste.
O Patio de las Mujeres não está aberto à visitação é só pode ser visto através das varandas do Salón de los Mosaicos.
A história do Patio de las Mujeres mostra várias fases de ocupação. A primeira diz respeito à refundação da cidade na época de Augusto e havia vários edifícios que poderiam ser associados a instalações portuárias ou fluviais. Posteriormente, entre os séculos IV e V, houve o reforço progressivo da muralha e a construção de um castelo a ela anexado, destinado a fortificar o acesso à ponte e ao porto fluvial.
Após a conquista islâmica, o castelo tornou-se um dos núcleos fortificados do Alcázar dos emires e califas de Córdoba. Na segunda metade do século XII, foi ampliado por iniciativa dos governantes almóadas da cidade e reforçado para formar uma grande cidadela para guarnecer as tropas. Este antigo castelo, posteriormente integrado no Alcázar, seria a origem do Alcázar de los Reyes de Castilla após a conquista da cidade em 1236, adquirindo a configuração de castelo autônomo que possui atualmente.
Após a conquista de Granada, os Reis Católicos cederam as instalações do Alcázar ao Tribunal da Inquisição de Córdoba. Boa parte dos vestígios atualmente visíveis pertencem a esta época.
Terminando a visitação do primeiro andar, o roteiro mais óbvio é descer para o andar térreo onde ficam o Patio Mourisco, os Banhos Reais de Dona Leonor, a Coluna Romana, o Patio Chico e a Pieza Central.
Lembrando que o Patio de las Mujeres fica no mesmo nível, mas como está fechado ao público, o único acesso visual é através das varandas do Salón de los Moisacos no primeiro andar.
Vamos lá... exatamente sob o Salón de los Mosaicos ficam localizados os Banhos de Doña Leonor de Guzmán, amante do Rei Alfonso XI que em 1328, ordenou a construção de alguns banhos para sua amada, seguindo os esquemas tradicionais do banho árabe.
Os banhos são acessados pelo nordeste do Patio Mourisco, através de um pequeno pátio. Iluminados por uma luz fraca, eles nos levam de volta ao tempo em que foram criados. Esses banhos têm uma distribuição tradicional árabe, cuja entrada se dá pelo vestiário, que dá acesso aos três aposentos consecutivos: a sala fria, uma sala alongada com clarabóias em forma de estrela de oito pontas; a sala temperada também abobadada e com claraboias; e a sala quente que era a área de vapor e de banhos quentes. A caldeira e o forno ficavam ao lado de uma cisterna sob a Torre del Homenaje.
Para chegar aos Banhos Reais de Dona Leonor é preciso passar por um pequeno pátio, como mencionado acima. É o Patio Chico, uma área também localizada sob o atual Salão dos Mosaicos, que antiga Sala do Tribunal da Santa Inquisição.
O documento mais antigo que conhecemos sobre o Alcázar data de 1662 e se encontra no Arquivo Histórico Nacional, é uma planta de Gaspar de la Peña e detalha exaustivamente todas as dependências que existiam na época da Inquisição. Acredita-se que este pequeno pátio dava acesso a uma área onde eram feitas as investigações e muita vezes dolorosas torturas.
Nas paredes do pátio, quando o Alcázar passou por uma remodelação total, tal como chegou aos nossos dias, estavam embutidos nas suas paredes vestígios arqueológicos da época romana, entre os quais vale destacando um altar frontal que foi reaproveitado para fazer latrinas, provavelmente das Termas do Alcázar Califal. Há vestígios de que tenha servido como fossa em algum momento de sua existência.
A Pieza Central que sobreviveu até hoje em uso é a parte que atravessa a esplanada central e a divide em duas partes que formam o Patio de las Mujeres e o Patio Mourisco, unindo a parede norte com a sul.
Foi construído na época em que o Tribunal da Inquisição tinha a sua sede no Alcázar para aumentar o número de celas já existentes. Posteriormente, foi modificado de acordo com as várias funções que lhe foram atribuídas pelos sucessivos ocupantes do edifício.
Na imagem que aqui mostramos, podemos verificar como a galeria de arcos que forma esta Peça Central segue o mesmo percurso que os restos de uma velha parede que, no seu centro, se eleva do solo e cuja finalidade ou uso não se sabe até hoje.
O chamado Patio Mudéjar ou Mourisco é o único espaço que permanece no Alcázar com a mesma estrutura desde a sua construção.
O pátio fechado está delimitado ao norte pela fachada da longa galeria abobadada onde está exposto o sarcófago romano e, acima dela o passadiço entre as duas torres mais antigas do edifício, a dos Leones e a Homenaje. A Pieza Central delimita o espaço separando-o do Patio de las Mujeres. E é fechado ao sul por outra galeria e uma parede Poente, na qual existe uma entrada para os Jardins do Alcázar.
De planta retangular, o pátio está dividido em quatro praças por dois caminhos que o atravessam, formando um cruzamento, com a vegetação típica dos jardins andaluzes aparecendo em cada um: alelis, murtas, jasmim, limoeiro e laranjeiras. No centro, existe um chafariz com tampa e em cada extremidade do caminho mais longo existem duas piscinas.
Existem vários vestígios arqueológicos de ocupações anteriores como uma parede com desenhos geométricos em estilo árabe, ou escudos de Castela e Leão ou ainda vestígios de edifícios romanos primitivos, como uma coluna surgida durante as obras de restauro dos anos 50.
Ao fundo do Patio Mourisco fica a entrada para os Jardins do Alcázar e também está localizada a Columna Romana, junto da parede Poente, e que separa o Patio Mourisco e o Jardín Medio, bem perto da Torre da la Inquisicion.
É um grande poço canelado verticalmente que está mantido in situ na sua base, localizado cerca de quatro metros abaixo do nível do atual Patio Mourisco. Fazia parte de um grande edifício de pórtico, cujas colunas foram documentadas nas escavações realizadas do Patio de las Mujeres.
Abaixo, um vídeo bem legal com uma animação em 3D de todo o complexo do Alcázar, mostrando as torres e principalmente a disposição dos pátios Mujeres e Mourisco, com a Pieza Central ao meio.
Video de uma reconstrução em 3D do complexo do Alcázar
Através do Pátio Mourisco encontra-se a entrada para os famosos Jardins do Alcázar, que muitos turistas alegam ser o ponto alto da visita ao Alcázar. É considerado um dos lugares mais bonitos da cidade e os jardins que embelezam seu interior constituem um verdadeiro cartão postal. Por isso reserve algumas hora para passear por seus caminhos repletos de uma grande variedade de vegetação, como palmeiras, ciprestes, limoeiros e também por uma variedade de piscinas e fontes.
Os Jardins do Alcázar ocupam parte do terreno onde se situavam as primitivas Huertas del Alcázar, que eram áreas de cultivo que, após várias modificações ao longo da história, deram origem aos extraordinários 30.000 m² dos jardins atuais.
As Huertas limitavam-se à noroeste pelo bairro Arroyo del Moro, a sul pelas muralhas do Alcázar, ao norte pelos Estábulos Reais e pelo Rio Guadalquivir.
Os atuais Jardins do Alcázar configuraram-se em meados do século XX. Estão estruturados em três terraços em diferentes níveis, com fontes, lagoas e grandes piscinas, rodeados das mais variadas plantas nativas. Mas este jardim sofreu variações em seus limites ao longo da história, sua aparência atual não é a original.
Os primeiros dados deste espaço datam da época romana. Há evidências de duas visitas de Julio César a Córdoba e foi em uma delas que o próprio Julio César plantou diferentes espécies florais e árvores exóticas, entre elas, a bananeira oriental classificada como Linnaeus. Embora o local exato onde esta árvore foi encontrada seja desconhecido, nos jardins existe uma árvore desta espécie ao lado do epigrama de Marcial e é muito comum nos jardins e passeios da atual Córdoba.
Alguns experts datam a realização do jardim durante o reinado de Abderramán II, aproximadamente no ano 822, na época do Emirato de Córdoba, já que foi neste período que foi construído o grande aqueduto e desviado para o Alcázar, cujas águas que vinham do Rio Guadalquivir supriam as necessidades do palácio e dos jardins. Quando Abderramán III transferiu a corte para Medina-Azahara, os jardins deterioraram-se, mas quando a cidade palatina foi destruída no século XI, o Alcázar de Córdoba foi novamente estabelecido como residência do soberano, restabelecendo o cultivo e o embelezamento dos jardins e o pomar.
O cuidado dos jardins só foi recuperado durante a Reconquista, no século XIII, ressurgindo em todo o seu esplendor. A Rainha Isabel tinha uma verdadeira paixão por estes jardins e tratou de embelezar os jardins e replantar a horta.
Os jardins vivenciaram um novo período de renascimento até que a Rainha Isabel caiu doente e mandou parar o Moinho da Albolafia porque o barulho não a deixava descansar. Como consequência, o pomar e os jardins deixaram de ser regados, uma vez que não bastava a água do braço fornecido pelas nascentes e ribeiros do Albaida e enfrentaram um novo período de declínio.
Em um dos pontos do jardim há uma estátua que representa a reunião entre os reis católicos, Isabel de Castela e Fernando II de Aragón com Cristóvão Colombo sobre a sua expedição para as Américas. Esse encontro, aliás, aconteceu no Alcázar. Foi em 1492, antes da primeira viagem de Colombo às Américas.
Durante a prefeitura de Antonio Cruz Conde entre 1951-1962, o Alcázar foi cedido à prefeitura, que confiou a restauração do prédio ao arquiteto Víctor Escribano.
Antonio Muñoz e Ramírez de Verger, junto com o prefeito, senhor Antonio Cruz Conde, desenharam os jardins que vemos hoje no final da década de 1950. As lagoas localizadas junto à parede oeste foram construídas no século passado e hoje continuam recebendo suas águas da serra de Córdoba, por meio de uma condução do período árabe. Foram integrados aos jardins, após a demolição do palácio residencial de Tomás Conde, prefeito de Córdoba de 1875 a 1877.
Abaixo, um mapa da localização dos vários jardins e demais instalações dos Jardins do Alcázar.
O primeiro espaço que encontramos assim que saímos do Patio Mourisco é o Jardín Medio, localizado junto às piscinas altas. É anterior ao resto do jardim, estando já configurado em meados do século XIX sobre o espaço ocupado pelo antigo Jardim dos Inquisidores, o que explica a sua singularidade no que diz respeito aos outros setores dos Jardins do Alcázar.
As suas formas são diferentes dos outros jardins, o que é lógico por ser o mais antigo de todos, e a sua vegetação é mais alta e densa, gerando caminhos mais estreitos. Este setor do jardim é sombreado boa parte do dia, graças à proximidade do edifício, à copa das laranjeiras e à sua situação mais restrita em relação ao nível das piscinas altas, conferindo-lhe assim um carácter intimista que o torna diferente do resto do jardim.
Praticamente ao lado do Jardín Medio, fica localizado o Jardín Alto, um espaço paisagístico, de traçado indeterminado, que se situa junto à entrada, entre a Torre dos Leões e a fachada nascente da Cavalaria Real, configurando-se em sua forma atual já em meados do século XX.
Os jardins são constituídos por sebes, que conferem um cheiro característico a estes jardins, e um grande eucalipto centenário que preside o espaço, localizado junto à Torre dos Leões, e junto à cobertura da paisagem subterrânea que comunica o edifício do Alcázar com os estábulos reais.
Embora seja o mais pequeno dos três jardins que compõem o conjunto, a divisão do seu espaço interior proporcionado pelas várias sebes nele implantadas, os arcos vegetais que o constituem e a existência de algumas fontes no seu interior fazem com que pareça maior do que as que realmente é.
O terceiro jardim do Alcázar é o Jardín Bajo ou Inferior, o mais importante e fotografado de todo o complexo do Alcázar. Esta é a parte dos jardins que apresenta a maior superfície, quase 80% e a sua disposição pode ser considerada praticamente ortogonal devido à sua disposição em ângulos retos. Adquiriu suas configurações em meados do século XX em uma parte da antiga Huerta del Alcázar.
De especial interesse são os espaços configurados entre as duas linhas de lagoas, as linhas de laranjeiras junto às piscinas e a linha de ciprestes modelados, que dão a este jardim uma releitura do clássico modelo hispano-árabe.
Podemos ver algumas das mais belas imagens destes jardins onde estão instaladas as maiores piscinas com especial destaque para as águas que brincam nas fontes e os parterres de flores que as rodeiam, juntamente com fileiras de laranjeiras e ciprestes dispostos de tal modo que tornam este um espaço idílico que nos convida a passear. Em todos os lugares existe uma reinterpretação dos jardins no estilo hispano-árabe e também vários vestígios arqueológicos, bem como uma fonte de pedra cuja água corre por uma vala, para algumas piscinas e postes usados para regar o jardim.
Cronológica e resumidamente, podemos conhecer a história dos monarcas que contribuíram para a construção do Alcázar como Alfonso XI, Enrique II, Enrique III, Enrique IV e, como o conjunto monumental mais representativo desta área, os Reis Católicos, Isabel e Fernando, que aparecem na escultura juntamente com Cristóvão Colombo, e que já vimos no texto mais acima.
As estátuas são obra do escultor Pablo Yusti Conejo e foram feitas na década de 60 do século passado.
O local onde hoje se encontra o Alcázar também tem um passado romano, uma vez que nele se instalou o edifício da alfândega ou Forum Censorium, onde também residia o governador. Assim, no ano 65 a.C., vivia em Córdoba um dos personagens romanos que no futuro se tornaria uma lenda, nada mais nada menos que Cayo Julio César, na época no posto de questor com funções principalmente financeiras e presidindo assembléias de mercadores romanos que se estabeleceram em Córdoba.
Além disso, uma de suas tarefas não oficiais era plantar árvores e flores, exemplo disso é uma bananeira que ele plantou nos jardins do Alcázar, em um local ao fundo do Jardín Bajo e onde terminam as piscinas principais. Neste espaço chamado de Plátano de Cesar hoje existe um exemplar desta árvore e um belo mosaico de animais marinhos atravessados por espelhos de água.
Nas paredes ao redor foram gravados trechos de um poema escrito pelo poeta Marcial em homenagem a esse momento (vou deixar original em espanhol porque a tradução fica horrível).
“En tierras tartesas hay una casa celeberrima alla donde la Cordoba vienta se mira en el placido
En medio y abarcando toda la morada se alza el plátano de Cesar de espessa cabellera
Que la diestra feliz del huesped invicto planto comenzando su tronco a crecer desde su mano
Oh arbol del gran Cesar, oh amado de los Dioses... No temas el hierro ni el fuego sacrilego."
Terminando a visita, falta somente dar uma passada para ver a última parte do complexo do Alcázar que são os Estábulos Reais, anexados ao limite norte dos atuais Jardins, perto das piscinas e do Jardín Alto. Este edifício foi mandado construir em 1568 por Felipe II, no terreno do antigo pomar do palácio do Califado para criar uma nova raça de cavalos, a “raça pura espanhola”.
Em 1757, após um grande incêndio, o bloco principal foi reconstruído. Ao longo da história, diferentes pavilhões foram adicionados à construção original, destacando um bloco menor no lado sul que data do início do século XVIII e a pista de equitação do início do século XX. Até 1995, serviu como um depósito de garanhões para o Ministério da Defesa espanhol.
A pista de equitação ao lado foi construída no início do século XX e possui estrutura metálica e paredes de pedra com alvenaria, formadas por janelas altas e baixas. Esta pista de equitação faz parte do berço do cavalo andaluz, onde atualmente se realizam sessões de espetáculos equestres.
E por fim, vale a menção a um espaço vazio que fica próximo ao Jardín Medio que é conhecido com Primeras Corridas de Toros, local onde foram feitas as primeiras touradas em Cordoba. Segundo um documento antigo, em 1492, neste pátio do Alcázar, foi realizada uma tourada em homenagem ao Príncipe Dom Juan, filho do Católico Monarcas.
É sabido que na Espanha, a arte das touradas está profundamente enraizada. Há crônicas que registram o fato de que já no ano de 1124, por ocasião do casamento de Afonso VII de Leão, entre as tantas festas que foram realizadas, celebrou-se também uma tourada. No entanto, as touradas como a conhecemos hoje datam do final do século XVII e início do século XVIII.
A construção da primeira praça permanente começou em 1844 e foi chamada de Plaza de Los Tejares. Esta praça manteve sua hegemonia por pouco mais de um século, até que a atual Plaza de Los Califas foi inaugurada em 1965. É uma praça de primeira classe com capacidade para cerca de 16.000 pessoas. É no mês de maio o período em que ocorre o maior número de touradas, devido à celebração da Feira de Nossa Senhora da Saúde.
Pátio onde foi realizada a Primera Corrida de Toros
Curiosidades:
- Em 2019 recebeu 595.517 visitantes, sendo o segundo monumento mais visitado de Córdoba depois da Mesquita.
- Alguns dados de localização, horários e valores das entradas:
- Endereço: Calle de las Caballerizas Reales, s/n
- Tel +34 957420151
- Ônibus: Linhas 3 e 16
- Entrada:
- Adultos: 5€
- Crianças até 13 anos e idosos acima de 65 anos: Gratuito
- Visita Guiada: 15€
- Funcionamento:
- Inverno (de 16 de setembro a 15 de junho):
- Fechado segunda-feira
- Terça a sexta, das 8h30 às 20h45
- Sábados, das 8h30 às 16h30
- Domingos e feriados: 8h30 às 14h30
- Verão (de 16 de junho a 15 de setembro):
- Fechado segunda-feira
- Terça a sábado, 08h30 às 15h00
- Domingos e feriados: 08h30 às 14h00
- O Alcázar fica fechado nos dias: 1 e 6 de janeiro e 25 de dezembro.
- Nota importante: Devido ao COVID19, os horários podem sofrer alterações.
- À noite, desde 2011, acontecem as Noites Mágicas no Alcázar, um espetáculo de luz, água e som que explica a história do monumento através de uma encenação marcante. Vale a pena voltar à noite para ver o espetáculo. No inverno, de 01 de novembro a 31 de março, o espetáculo começa às 21h00. No verão, de 01 de abril a 31 de outubro, há dois espetáculos, às 22h00 e 23h00. Aos sábados de maio a agosto haverá um terceiro espetáculo.
O Espetáculo Noites Mágicas no Alcázar está temporariamente suspenso em virtude da pandemia, mas normalmente o ingresso é de € 6,50 com entrada gratuita para menores de 14 anos.
Terminada a visita ao Alcázar e seus jardins, o ideal é fazer uma pausa para almoçar e descansar, algumas sugestões de restaurantes no final da página.
Se der tempo no final da tarde, passeie pelas ruas e vielas da Juderia, que fica nas proximidades da Mezquita e do Alcázar, mas só um passeio mesmo, bem leve, porque vamos conhecê-la melhor no próximo roteiro.
E aproveite à noite, para voltar ao Alcázar de los Reys Cristianos e assistir ao espetáculo das Noites Mágicas.
Oitavo Dia - Puertas, Torres e Muralhas
Córdoba é uma cidade com várias pontes, portas e torres da época romana e também da colonização árabe. Seria impossível visitar todas elas nos poucos dias para conhecer a cidade e, por isso, fiz um roteiro somente com as mais importantes e significativas.
Para o roteiro ficar mais linear, vou começar o percurso pela Puente Romana, que só pode ser feito à pé, indo até a Torre de la Calahorra e o Moinho de San Antonio. Depois o roteiro segue de scooter ou taxi, já que são atrações bastante espalhadas no Centro Histórico.
Uma outra grande atração de Córdoba é a Puente Romana, situada sobre o rio Guadalquivir, e que conecta a área do Campo de la
Verdad com o Bairro da Sé.
No século I a.C. os romanos construíram a primeira ponte de pedra
que atravessou o Rio Guadalquivir e conectou as duas margens da
cidade. Acredita-se que a via Augusta, que conectava Roma com Cádiz,
passava pela Puente Romana de Córdoba, também chamada de Puente
Viejo. Desde sua construção, a Ponte Romana de Córdoba foi a
única ponte da cidade durante vinte séculos.
Seu comprimento é de 331 metros e se sustenta sobre 16 arcos,
quatro quebrados e o resto de volta perfeita. Nota: arcos quebrados constituem um elemento estruturante da arquitetura
gótica e veio substituir o arco de volta perfeita utilizado na
arquitetura românica. Geometricamente, é mais complicado de
projetar, no entanto, distribui melhor as forças, tornando-se mais
fácil de suportar qualquer peso. Devido às remodelações que a ponte sofreu ao longo da história de
Córdoba, restam apenas dois arcos originais.
Ao longo da sua história, sofreu inúmeras reconstruções,
principalmente uma na época do Califado, uma após a Reconquista, e
outra no início do século XX. Sua última restauração foi realizada entre 2006 e 2008 e foram
reformas de natureza mais estética do que estrutural. Na verdade,
apenas os arcos 14 e 15, contando a partir da Puerta del Puente são originais. A restauração gerou polêmica devido ao caráter
ambicioso do projeto que pretendia dar à ponte um aspecto mais
semelhante possível ao original.
Em 2004, a ponte foi fechada para a circulação de veículos e passou
a ser utilizada somente para pedestres e pelos milhares de turistas
que visitam a cidade cada dia.
Em um de seus extremos situa-se a Torre de Calahorra, construída no
século XIV pelo Rei Alfonso XI sobre uma antiga fortaleza árabe,
para a proteção da ponte. No interior da torre está sediado o Museo
de las Tres Culturas, um interessante espaço cultural sobre a
história da cidade. Além do mais, é possível subir à sua parte
superior, que proporciona uma das mais belas vistas da ponte e de
toda a cidade.
Pesquisando imagens sobre o Museo de las Tres Culturas tive a certeza
do quanto é importante todo esse trabalho de montagem de blogs
com roteiros de viagens... Descobri uma coisa que se não fossem as
pesquisas não iria saber nunca!!! No museu existem várias maquetes
sensacionais que ilustram a história da cidade, como a do "zoco" na
foto abaixo... e um dos meus hobbies é justamente o de maquetes e
miniaturas... pra mim vai ser parada obrigatória!!!
Do outro lado, vemos a Puerta del Puente que é um dos únicos três
portões históricos preservados da cidade. Construído no século XVI
em estilo renascentista, o portão está localizado em um enclave onde
também existiam outras portas romanas, ligando a cidade à ponte
romana e a Via Augusta.
Entre os governos dos imperadores romanos Tibério e Cláudio, em
meados do século I, foi erguida neste local uma porta de acesso à
cidade com três aberturas, cuja importância residia na proximidade
do rio Guadalquivir e da Puente Romana, onde a Via Augusta passava.
Nos tempos islâmicos sua relevância se intensificou devido à
proteção que proporcionou à Mesquita e ao Alcázar da
Andaluzia.
No século XVI, as autoridades decidiram dotar a cidade de um portão
melhor devido ao estado precário em que se encontrava e para
comemorar a celebração das Cortes de Felipe II em 1570. As razões
invocadas foram principalmente por se tratar de uma das portas da
cidade que mais recebia movimento de pessoas e mantimentos,
necessitando urgentemente de ampliação e embelezamento.
No início do século XXI, foi realizada a primeira limpeza da
Puerta del Puente e também foram efetuadas provas arqueológicas no
seu subsolo. Em setembro de 2005, iniciaram-se os trabalhos de
restauro, dirigidos pelo arquiteto Juan Cuenca que culminou com a
re-inauguração da Puerta del Puente como Centro de Exposições e
Miradouro. Em 2011 foram concluídas outras obras que nivelaram o
terreno com a ponte, eliminando o fosso e permitindo o acesso por
baixo da Porta.
A única estátua que decora a Puente Romana é o Triunfo de São
Rafael, feita em 1651 como agradecimento ao arcanjo depois de
uma epidemia de peste assolou a cidade. Segundo os cordobenses,
foi graças à intervenção milagrosa do Arcanjo São Rafael que a
peste acabou. O escultor encarregado do trabalho foi Bernabé del
Río.
O Triunfo de São Rafael aparece sempre rodeado de velas
vermelhas que simbolizam a veneração do povo cordobês por essa
figura que dizem que abençoa todos os viajantes que chegam ou
deixam a cidade.
Vale ressaltar que existem vários "triunfos" à São Rafael
espalhados pelas cidade de Córdoba, como são chamadas essas
esculturas que constituem uma representação fervorosa da devoção
popular.
Desde 1931, a Puente Romana juntamente com a Puerta da Puente e a Torre Calahorra, foram declarados Bem de Interesse Cultural
na categoria de monumento. Além disso, pertencem ao centro histórico
de Córdoba, declarado Patrimônio da Humanidade.
Uma curiosidade é que a Puente Romana já foi cenário de várias
produções cinematográficas, como o filme “Carmen“, de 2004, e
também para a quinta temporada da popular série “Game of Thrones“.
Existem outras pontes em Córdoba de menor interesse turístico, mas
que se você tiver um tempo extra poderá conhecer. Uma delas, a Puente San
Rafael nós vamos passar bem perto em nosso roteiro. Ela foi inaugurada em 29 de abril de 1953 pelo ditador Franco e
que foi a segunda ponte que Córdoba teve, depois da ponte romana. Há
também a Puente de Andalucía também localizada no rio Guadalquivir e única com
uma parte pênsil próximo à margem do rio. E a Puente Miraflores também conhecida como "Ponte Enferrujada" liga a
Calle San Fernando e Ronda de Isasa com a península de
Miraflores.
No entorno da Puente Romana se destacam alguns moinhos da época
medieval, como o Molino de San Antonio ou o Molino de la Albolafia,
que aparece no escudo da cidade.
Espalhados na cidade são um total de onze moinhos localizados ao
longo do leito do rio Guadalquivir e que em 2009 foram declarados
Patrimônio Histórico da Andaluzia. Estes moinhos são vestígios de
emblemáticas construções medievais que, com vários graus de
degradação, alguns deles foram restaurados e utilizados para fins
culturais e turísticos, como o moinho Alegría que alberga o Museu
da Paleobotânica do Real Jardim Botânico de Córdoba .
Além dos já citados, os outros moinhos são: Carbonell, Casillas,
Enmedio, Lope García, Martos, Pápalo, San Lorenzo e San Rafael.
Depois de conhecermos logo cedo a Puente e Puerta Romana, a Torre de la Calahorra e os Moinhos de San Antonio e Albolafia, vamos continuar o roteiro fazendo um percurso mais longo, provavelmente de scooter ou taxi.
A maior parte da muralha, das torres e portas já não existem mais nos dias de hoje. E como só temos um dia para este roteiro, escolhi as mais importantes para serem visitadas, juntamente com algumas outras atrações que se encontram no mesmo caminho, como a Sinagoga de Córdoba, os palácios de la Merced e Viana, o Templo Romano e a Plaza de la Corredera. E vamos finalizar de volta ao Centro Histórico para passear pelo Barrio de la Juderia e a Calle de las Flores.
Envolvendo o grande centro histórico está a Muralha de Córdoba, que
são as antigas muralhas defensivas da cidade. Como você pode ver no
mapa abaixo, podem ser distinguidos cinco recintos amuralhados: a
Villa ou Medina, o Axerquía, o Castillo de la Judería, o Alcázar
Viejo e o Huerta del Alcázar, estes três últimos no atual bairro de
San Basilio. E dá para ver também onde ficavam localizadas as portas
da Muralha.
Com tantas expansões e modificações ao longo dos séculos, ficou bem
confuso entender onde é o que... mas abaixo eu vou tentar explicar
como foi a evolução dos muros da cidade ao longo da sua história e
com as fotos dá pra ilustrar como estão as ruínas hoje.
Pelo nosso roteiro, a primeira porta que vamos visitar é a Puerta de Sevilla, uma porta de acesso do século XIV localizada na seção oeste das muralhas, muito próxima à Puente San Rafael, no final da Avenida Conde de Vallecano. Apesar disso, acredita-se que sua localização original nos tempos islâmicos seria mais perto do Alcázar de los Reyes Cristianos e era conhecida como Puerta de los Drogueros.
A verdade é que a porta citada pelas fontes árabes pouco tem a ver com a que conhecemos atualmente, pois deve ter se situado na rua Caballerizas Reales na outra ponta do Bairro de San Basilio. O portão que hoje conhecemos foi reconstruído em meados do século passado, após ter sido previamente demolido em 1865.
A sua construção foi motivada pela criação do bairro de São Basílio, ou Alcázar Viejo como também é conhecido, cuja extensão da muralha e da cidade a poente tornou necessária uma nova porta de entrada. Este nome vem da ligação desta estrada à cidade de Sevilha e acredita-se que também conduzisse ao Zoco Grande de Córdoba destruído durante a Fitna de al-Ándalus.
A porta não é grande e consiste em um único vão de lintel. Os destaques do complexo são dois pequenos arcos gêmeos, fixados perpendicularmente à parede que corre junto à porta e uma pequena torre, cujas teorias sugerem que poderia ter sido um aqueduto. Ao lado da porta, há também um túmulo romano. Coroando o conjunto está o escudo da cidade.
Em frente à porta encontramos também um monumento ao filósofo e historiador Ibn Hazm segurando em um pergaminho sua obra mais famosa, O Colar da Pomba. Este monumento foi executado em 1963 pelo escultor Mateo Ruiz Olmos.
Logo depois da Puerta de Sevilha, fica localizada a Torre de Belén, outra das torres defensivas das muralhas, também localizada no bairro de San Basilio. Em 1999 foi submetido a uma profunda restauração que devolveu parte do seu aspecto original.
Tem uma planta quadrada com cerca de 7,4 metros de cada lado, sendo o seu acesso por duas entradas distintas. Uma porta externa ao norte, em forma de arco pontiagudo de ferradura e outra porta interna ao leste. No século XV foi convertido para abrigar a ermida de Nuestra Señora de Belén.
Continuando o trajeto, vamos passar pela Calle Cairuán onde estão localizadas uma parte da Muralha de la Medina e suas torres.
O núcleo principal da muralha de Medina, que vamos conhecer algumas partes em nosso percurso, rodeia parte do Centro Histórico da cidade e foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Esta parte da muralha possui 360 metros e é aqui que encontramos as três portas que resistiram até os dias de hoje: a Puerta de Almodóvar e a Puerta de Sevilla que veremos mais adiante e a Puerta del Puente, que já foi mencionada juntamente com a Puente Romana.
Na segunda foto abaixo, a edificação à direita é o Hospital Cruz Roja de Córdoba (Hospital da Cruz Vermelha de Córdoba), fundado em 1933. E pode-se ver um lago com três piscinas que se conectam, onde antigamente era um pequeno riacho que corria ao longo da muralha e que foi reformado em uma modificação recente.
Na mesma muralha, fica a Puerta de La Luna, atualmente é um acesso livre para o Bairro de La Judería. Ao atravessar o arco da porta, você acessa o pátio de um restaurante e em um canto do pátio, um estreito arco leva a um caminho tortuoso até o interior do Bairro Judeu.
Muralha Romana de la Calle Cairuán
Para melhor compreender a história e evolução das muralhas de Córdoba, é necessário voltar aos primórdios da fundação de Córdoba. As primeiras muralhas da cidade foram construídas no século II, durante a época romana, cobrindo um perímetro de aproximadamente 2.650 metros e uma área de cerca de 47,6 hectares. Este recinto murado tinha quatro portas orientadas para cada um dos quatro pontos cardeais. Posteriormente, durante o governo do Imperador Tibério, o muro do sul foi eliminado para expandir a área murada, expandindo a cidade em direção ao rio e abrindo novos portões de acesso à cidade.
Na época dos muçulmanos, as antigas muralhas romanas estavam em um
estado deplorável. Durante a Fitna de al-Ándalus que foi o período
de instabilidade e guerra civil entre 1009 e 1031 e que levou ao
colapso do Califado de Córdoba, o antigo recinto amuralhado foi
reconstruído. Posteriormente, como consequência da reaproximação
cristã, foi construída na parte oriental da cidade uma nova
muralha, anexada à existente, para proteger as casas situadas fora
das muralhas.
Desta forma, o recinto amuralhado foi dividido em duas partes: por
um lado, o antigo recinto amuralhado, denominado Medina, e por
outro lado, o novo anexo murado, chamado de Axerquia. As
crônicas existentes relatam que o perímetro da muralha durante a
fase final do Califado de Córdoba, no início do século XI, era de
22 km, e que chegou a ter 13 portas das quais hoje restam apenas
três.
Após a conquista cristã da cidade, as antigas muralhas foram
mantidas e restauradas. Na última metade do século XIV, três novos
recintos murados foram acrescentados: o Castillo de la Judería, a
Huerta del Alcázar e o Alcázar Viejo.
Também se construíram novas portas e torres, que passaram a integrar
o recinto de La Axerquía, caso da Torre de la Puerta del Rincón,
edificada no século XIV, e da Torre de la Malmuerta construída no
século XV sobre os restos de uma torre muçulmana.
Depois de visitarmos as muralhas de Medina na Calle Cairuán, continuamos o nosso roteiro fazendo uma pequena parada na Sinagoga de Córdoba. É importante avisar que estamos em pleno Barrio Juderia, e que aqui existem muitas outras atrações a serem visitadas. Mas como nosso roteiro está fazendo uma volta ao longo das muralhas para ver as portas e torres mais importantes, vamos fazer somente uma pausa para conhecer a Sinagoga que está no caminho. As outras atrações da Juderia serão visitadas ao final desta tarde e durante o terceiro dia.
É uma das quatro sinagogas históricas que ainda restam na Espanha, sendo a única da Andaluzia. Sua construção é anterior à expulsão dos judeus pela Santa Inquisição. Foi construída em 1315 em estilo mudéjar pelo arquiteto Isaq Moheb e embora sua arquitetura seja muito marcada pela influência da arte islâmica, suas paredes estão cheias de inscrições em hebreu.
Após a expulsão dos judeus de Espanha em 1492, o edifício teve diversas funções: hospital, eremitério e escola, até ser declarado Monumento Nacional em 1885. Desde então passou por diversas fases de restauração até a reabertura em 1985, quando da celebração do 850.º aniversario do nascimento de Maimónides.
Está localizada na Calle Judios e a entrada é bem discreta, pode até passar desapercebida. Consta de um pátio com acesso desde a rua e que dá passagem a um vestíbulo seguido da sala de oração. No lado oriental do vestíbulo uma escada comunica com a galeria das mulheres. A sala de oração é de planta quase quadrada e é a maior de toda a sinagoga. No lado oriental abre-se o tabernáculo, espaço reservado à Torah. O lado oposto ao tabernáculo contém um pequeno nicho com arco quebrado, onde esteve o retábulo de Santa Quiteria.
A decoração, em gesso com motivos mudéjares, perdeu-se com o tempo, até dois metros de altura, deixando à vista o tijolo original. Não são muitos os restos de inscrições que perduraram até aos nossos dias. No Muro Sul encontramos um fragmento do Livro dos Provérbios, e nas portas observam-se fragmentos do Salmo 122. No Muro Norte encontramos versos muito completos do versículo 4 do Cântico dos Cânticos.
Depois de visitar a Sinagoga de Córdoba, vamos seguir o caminho para conhecer a famosa Puerta de Almodóvar, que dava acesso ao
interior das antigas muralhas e que está situada junto ao bairro
da Judería. Dos três portões atualmente preservados dentro do
recinto medieval este é o mais antigo e menos modificado do
conjunto.
Sua origem é árabe, mas seu aspecto atual data do século XIV, e é
constituída por duas torres prismáticas unidas em ponte por um
arco pontiagudo. Do lado de fora da muralha corre um riacho que
liga este acesso ao Arco da Lua, este passeio foi construído na
década de 1960, criando novos espaços turísticos na cidade, e
ficou conhecido como Calle Cairuán. Como ponto culminante da
construção deste passeio junto às paredes, também foram
construídas estátuas de dois grandes cordobeses: o filósofo romano
Sêneca e o pensador e médico muçulmano Averróis.
Em frente à Puerta de Almodóvar, você vai ver os Jardines de la Victoria, que jardins públicos localizados entre duas grandes avenidas: Paseo de la Victoria e Avenida República.
Os Jardines de la Victoria têm a sua origem em 1776 quando o corregedor Francisco Carvajal y Mendoza concebeu o projeto de criação de amplos jardins nos arredores do centro histórico, em linha com os alinhamentos e projectos urbanísticos que se vinham realizando em muitos outras cidades espanholas. Recebeu seu nome em homenagem ao antigo Convento de Nossa Senhora da Vitória.
Dentro dos jardins, destacam-se duas instalações recentemente remodeladas: o antigo Estande do Círculo da Amizade, hoje Mercado da Vitória, e o Quiosque da Música, bem como um pequeno chafariz modernista do início do século XX. Hoje a Pergola foi convertida em uma sala de exposições, bem como um café-bar.
O Mercado Victoria é o primeiro mercado gastronômico e de lazer aberto da Andaluzia e oferece uma mistura de produtos frescos e preparados em suas mais de 20 barracas. A oferta gastronómica do Mercado Victoria acolhe cozinha cordobesa, espanhola e internacional, com receitas tradicionais e inovadoras, bem como carnes ibéricas, carnes salgadas, queijos, mariscos e vinhos. Vale a pena dar uma parada se estiver batendo aquela fome de turista neanderthal. 😂
Seguindo nosso roteiro, a próxima atração é o Palacio de la Merced, antigo convento de Merced Calzada, e que hoje é a sede do Conselho Provincial de Córdoba. O antigo convento de Nuestra Señora la Merced foi declarado Sítio de Interesse Cultural na categoria Monumento desde 2008.
Localizado perto da Plaza de Colón, é um edifício muito singular, um exemplo representativo do barroco de Córdoba. O edifício atual é uma obra do século XVIII, ignorando até à data os autores que intervieram na estruturação do conjunto. Por outro lado, pode-se afirmar que houve duas fases na sua construção. A primeira corresponde ao início do século XVIII, altura em que foi construída toda a ala norte, ou seja, o claustro secundário e os quartos contíguos. Destes, apenas o pátio e a escadaria foram preservados.
Numa segunda fase, procede-se à construção da igreja, do claustro principal, da escadaria e das salas que a circundam. A fachada exterior do convento também se transforma, conferindo ao conjunto a maior conjunção e unidade. Esta é assim constituída por um grande rectângulo belamente montado em que a horizontalidade da fachada principal é quebrada pela verticalidade da igreja.
As obras foram realizadas entre 1716 e 1760, sob o patrocínio de Frei Pedro de Anguita, Frei Pedro González e Frei Lorenzo García Ramírez. Ao longo do ano, o Palácio recebe interessantes exposições nacionais e internacionais organizadas pelo Conselho Provincial de Córdoba em seus pátios e salas .
E seguindo o nosso roteiro, bem pertinho fica localizada a Torre de la
Malmuerta, que é uma das quatro torres que sobreviveram até os dias de hoje, junto com a Torre de Belén, a Torre Puerta del Rincón e a Torre de la Calahorra.
A Torre de la Malmuerta é uma torre que foi construída no início
do século XV e demorou quatro anos para ser construída e foi
construída sobre os restos de uma torre muçulmana. Sua missão
consistia em defender as portas do Rincón e do Colodro e quando
perdeu a função defensiva, foi usada como prisão para nobres.
Mais tarde, no século XVIII, o erudito Córdoba Gonzalo Antonio
Serrano fez importantes observações astronômicas a partir dela.
Por algum tempo, no final do século XX, foi a sede da Federação
de Xadrez. É sólida até a altura do arco, mas daí é oca,
abrigando cômodos de onde parte uma escada que leva à
plataforma.
No entanto, o mais interessante deste edifício não é tanto a
sua arquitetura, mas as lendas que rodeiam a origem da sua
construção. Uma apaixonante história de infidelidade e
vingança estrelada, segundo a lenda, por uma das famílias mais
ilustres da cidade, que conta a trágica morte de Dona Beatriz
de Hinestrosa e de seu amante pelas nas mãos de seu marido, o
comandante Don Fernando Alonso de Córdoba. A vingança de
Fernando Alfonso também atingiu outras pessoas, entre outras,
vários de seus servos e parentes. Segundo consta, Don Fernando
arrependido pediu perdão ao Rei Juan II de Castela, que lhe
ordenou que construísse uma torre em Córdoba como expiação por
seu crime e desde então a torre passou a se chamar
Mal-Muerta.
Outra lenda, independente da anterior, afirmava que se um
cavaleiro, passando sob o arco da torre a galope, pudesse ler
toda a inscrição, naquele preciso momento a torre desabaria e um
fabuloso tesouro emergiria de sua entranhas que seriam
propriedade do leitor sortudo.
Não muito distante fica a Torre Puerta del Rincón, que se localiza bem na divisão das Muralhas de Axerquia e das Muralhas de Medina. Foi construída no século XIV e embora
a origem exata da torre atual seja desconhecida, parece que pode
ter sido cristã. Com base nas intervenções arqueológicas
realizadas, é possível que tenha sido construída sobre torres
anteriores, uma vez que sua estrutura octogonal permanece
praticamente inalterada desde a fundação de antigo povoado de
Corduba, do século II aC. até quase o século XIX, quando o
perímetro murado foi praticamente todo desmontado.
A próxima atração do nosso percurso é o Palacio de Viana, um dos edifícios mais interessantes da cidade dos califas e um dos monumentos mais visitados. Com mais de 6.500 metros quadrados, a maioria dedicados a pátios, jardins e espaços abertos, essa luxuosa residência é um reflexo da história de Córdoba e da ostentação de sua nobreza.
A história do Palacio de Viana remete ao século XIV, quando era conhecido como o Palacio de las Rejas de Don Gome, em homenagem ao seu primeiro proprietário. Acredita-se que a fachada principal foi criada por Juan de Ochoa no século XVI e que nos anos posteriores foram feitas diversas ampliações no palácio, dando lugar à planta irregular que apresenta hoje em dia. Além disso, graças aos restos arqueológicos encontrados em escavações recentes, acredita-se que o palácio foi uma construção romana.
Ao longo de seus cinco séculos de história, o palácio passou pelas mãos de 18 famílias nobres. Entre seus proprietários mais destacados estão os Marqueses de Villaseca e os Marqueses de Viana, que viveram ali até que, em 1980, Sofía Amelia, viúva do terceiro marquês de Viana, vendeu a propriedade ao banco Cajasur, proprietário atual do Palacio de Viana. Um ano depois, em 1981, o Palácio de Viana pôde ser visitado pela primeira vez depois de ter sido convertido em museu.
É um edifício que não deixou de ser ampliado, modificado e embelezado por mais de cinco séculos em que pertenceu às famílias nobres mais poderosas da cidade. Mas, se não bastasse o edifício e a sua decoração interior, o Palácio de Viana tem a maior concentração de pátios da cidade. Até 12 decorados com flores, fontes, piscinas, poços, janelas… uma exibição de cores que atinge sua maior intensidade durante a festa dos pátios de Córdoba em maio.
O Palacio de Viana possui dois andares que se conectam graças a uma suntuosa escada principal. No térreo estão os salões dedicados à recepção de convidados e às cocheiras, enquanto no andar superior estão os dormitórios e escritórios da família Viana e diversas galerias dedicadas a diferentes estilos de arte.
A primeira sala privada é o Salón de los Sentidos, uma sala de chá com móveis do século XIX e pinturas murais representando os cinco sentidos, inspiradas em Goya. A porcelana de Sèvres da lareira, o candeeiro de vidro francês Bacarrat e o biombo, com tema mitológico e origem mexicana, são marcantes.
Desta pequena sala passamos para a sala mais utilizada pelos últimos habitantes do palácio chamada de la Sala Roja, ou em português Sala Vermelha, com as suas paredes estofadas a seda. A decoração foi obra da terceira Marquesa de Viana, Sofía Amelia de Lancaster, com o biombo chinês ao centro, um dos seus presentes de casamento e o sofá vermelho onde dormia a sesta. Outras peças memoráveis são a lâmpada de vidro da Boêmia e o retrato da rainha Vitória Eugênia feito por Joaquín Sorolla em 1918.
Da Sala Roja dá-se o acesso aos quartos da Marquesa, seu quarto e casa de banho, que se destacam pela simplicidade da decoração e pelos objetos de uso pessoal. Este apartamento privado tem uma das melhores vistas da casa, de frente para o Patio de las Rejas. Os marquêses mantiveram a tradição iniciada pela nobreza no século XVIII de utilizar quartos separados, pelo que o quarto do marquês situava-se noutra zona da casa. Seu cenário lembra a cabine de um navio, com litografias de temas navais e uma lente de farol como mesa de telefone, já que seu dono era marinheiro.
Entre as coleções de grande valor que o Palacio de Viana abriga, cabe destacar a coleção de tapetes de parede flamencos, porcelanas e móveis do século XVII. Na ala oriental do primeiro andar está a biblioteca, um autêntico tesouro com mais de 6.000 volumes históricos de grande valor.
Além disso, os marqueses de Viana também guardaram uma grande quantidade de armas de fogo da época, uma coleção de azulejos e várias obras de Goya, expostas em uma sala do primeiro andar. Um autêntico museu!
Salón de los Sentidos | ||
A Biblioteca | Salon de Goya | |
Dormitório Francês | A Cozinha |
Mas a maior atração do Palacio de Viana são seus doze pátios, que formam a coleção de pátios mais importantes da cidade. Esses espaços ao ar livre reúnem a essência da arquitetura romana e árabe tão característica de Córdoba. Abaixo, um mapa com a localização de todos eles para você não se perder:
Mapa de localização dos pátios do Palacio de Viana
Os dozes pátios estão unidos por galerias e abrigam uma grande variedade de plantas aromáticas, árvores cítricas e fontes. A água também é um dos elementos principais, pois se funde com a vegetação criando um pátio em harmonia com a natureza. Visitar os pátios do Palacio de Viana é uma oportunidade perfeita para conhecer a importância da vegetação e da água nas casas medievais de Córdoba.
O Patio de Recibo ou Pátio da Recepção é a entrada do palácio do final do século XVI. Tem uma planta trapezoidal, rodeada por galerias em arcada sustentadas por 16 colunas toscanas e construídas em dois pisos. É interessante saber que as janelas são pintadas no clássico “azul Viana”. O acesso, por um dos cantos, carece de colunas, permitindo assim uma melhor visão da praça e dando acesso às carruagens da família. Desta forma, encontramos as cavalariças anexas, comuns nas casas senhoriais. Afinal, é um pátio para receber visitantes, o prelúdio do palácio.
Já o Patio de los Gatos deve ser o mais antigo, peculiar e desconhecido da cidade. Tem uma história própria, paralela ao crescimento e transformação do palácio. Este pátio faz parte das casas da Puentezuela de Tres Caños, adquiridas pelos proprietários no século XVI, e mantidas como habitação de aluguel até meados do século XVIII como dependências da administração e posteriormente como pátio de serviço. Foi nesta época que foram finalmente comunicados ao palácio e mais tarde, quando os Vianas adquiriram a propriedade em 1873, as cozinhas foram instaladas na sala contígua, razão pela qual também passou a ser conhecido como Pátio de las Cocinas. A denominação de pátio dos Gatos deve-se ao facto de estes felinos virem aos cheiros da comida. Pode-se ver neste pátio um poço, algumas tábuas de lavar, uma salina de mármore rodeada de gerânios e ciganos pendurados nas paredes. É um pátio de origem medieval e com um marcado carácter popular preservado com o passar da história.
O Patio de los Naranjos, ou em português Pátio das Laranjeiras, foi a entrada original do palácio durante o século XV até à construção do pátio do Recibo e alberga um grande número de laranjeiras, daí o seu nome, bem como uma piscina ornamental.
Nas plantas do século XIX, o pátio aparece dividido em dois, de um lado, a piscina ou Pátio de la Fuente, também conhecido como Pátio de Beber ou Pátio de la Parra. E do outro lado, as laranjeiras ou o antigo Patio de los Comedores, para os quartos que davam para o recinto. Retomou a sua estrutura original durante o século XX. Um dos elementos característicos do Patio de los Naranjos é a presença de duas fontes. A primeira é uma piscina de azulejos de cerâmica adornada com lírios e outras plantas de primavera e a segunda, de planta octogonal, costuma ser coberta por vasos com orelhas de vaca e nenúfares.
O Patio de las Rejas, ou Pátio das Barras, é o único dos pátios que dá para o exterior e recebe este nome devido às barras de ferro feitas por Bartolomé de los Reyes em 1624. Elas permitem que o pátio seja visto de fora como um sinal de alto status social e também foi usado pela família durante anos como uma varanda privilegiada para contemplar eventos públicos, por exemplo, a passagem da Virgen de las Angustias na Quinta-feira Santa
Era um dos pátios preferidos pelos seus proprietários desde a sua criação, devido à sua natureza aberta e até hoje, funciona como um prenúncio das atrações do palácio. Destacam-se as árvores de citrinos em treliças e os vasos de centáureas em redor da fonte.
O Patio de la Madama, ou em português Pátio da Senhora, foi construído no século XVIII, durante as reformas realizadas no palácio por seus décimo primeiro proprietários: Ana Rafaela e seu marido, Fernando Cabrera Gómez de Cárdenas. Seu nome se refere à estátua da fonte central, que representava uma náiade que na mitologia grega era uma ninfa de água doce. As estátuas de divindades na jardinagem foram amplamente utilizadas pelos romanos: uma tradição que foi retomada no Renascimento e que voltou à moda no século XVIII.
A fonte é emoldurada por um círculo de ciprestes recortados em forma de coroa real, que cria um recanto íntimo e isolado. O toque de cor é dado pelas paredes ajardinadas com trepadeiras, como buganvílias e jasmim, que contrastam com o verde perene do anel central. A função do Patio de la Madama era recreativa e estética. Era um espaço privado projetado para ser visto da casa.
O Patio de las Columnas, ou Pátio das Colunas em português, foi o último a ser incorporado ao complexo. Foi construído na década de 1980, e foi destinado a visitação pública para dotar o Palácio de Viana de um espaço para eventos e atos públicos, como teatro, concertos ou apresentações literárias. E se tornou um dos principais palcos da programação cultural da Fundação Cajasur e da cidade de Córdoba. Seu tamanho o torna o maior do complexo, superado apenas pelo jardim. Destaca-se pela planta retangular e pelos chafarizes centrais, de onde partem duas piscinas que dividem o pátio em duas partes iguais.
O seu nome deriva das quatro colunas do fundo, que sustentam uma arcada plana sobre a qual se debruça a torre da igreja de San Agustín, e das colunas da galeria arcada do lado que a separa do jardim. Para o piso, optou-se por combinar tijolo de barro com enchinado cordobesa, seguindo o exemplo de outros pátios do palácio. É um tipo de pavimento herdado dos muçulmanos, feito com seixos de duas cores.
El Jardín é a maior área exterior do palácio, aproximadamente 1.200 metros quadrados, adquirida em 1814 pelo 7º Marquês de Villaseca, Diego Rafael Cabrera Fernández de Mesa, o décimo segundo proprietário do palácio, que queria ampliar a casa e ter um jardim à moda de outros nobres da época. Para tal, em 1814 chegou a acordo com os condes de Torres Cabrera, proprietários de várias casas contíguas, e as trocou por uma casa de quinta: operação que permitiu duplicar a extensão do Palacio de Viana.
Com esta extensão, o tamanho do palácio foi duplicado, e embora se desconheça a época exata de construção do jardim, é evidente a inspiração francesa no desenho, seguindo padrões amplamente utilizados durante o século XIX. O jardim de Viana está estruturado num labirinto de corredores e 16 parterres de buxo com mais de dois séculos de história. Ao centro destacam-se a fonte de pedra, adornada com vasos de flores. O jardim também possui elementos de um pátio andaluz e o cultivo de frutas cítricas. Duas de suas paredes são ajardinadas com diferentes variedades de treliças, como limão, lima, tangerina, laranja e toranja, que são as mais antigas do palácio. E há também um carvalho que é a planta mais antiga de todo o palácio, que se estima ter mais de quatrocentos anos e atinge vinte e cinco metros de altura.
O Patio de la Alberca, ou em português Pátio da Piscina, pertenceu à casa dos condes de Torres Cabrera, que foi anexada ao Palácio de Viana no século XIX. assim como os pátios del Pozo e de los Jardineros. Naquela época, esses três pátios faziam parte das unidades de serviço, nas quais eram administrados os negócios das fazendas e propriedades rurais. Hoje, esse local de trabalho típico é o centro nevrálgico da equipe de paisagismo.
Duas construções se destacam neste espaço: a piscina e a estufa. A primeira foi transferida para este pátio do vizinho Patio del Pozo na década de 1980, quando o monumento foi aberto ao público. A segunda, é uma estufa que foi incorporada ao palácio em 1960 a pedido da terceira Marquesa de Viana, Sofía Amelia de Lancaster y Bleck, para cultivar plantas cinerárias híbridas, que precisam de estar quentes no inverno.
No Patio del Pozo ou Pátio do Poço, os elementos giram em torno de um poço simples que extrai água de um córrego subterrâneo. De formato hexagonal, caiado de branco e encimado por uma borda de tijolos, contrasta com o acabamento em ferro forjado preto e com o pavimento enchinado.
Na boca do poço há quatro baldes de roda d'água, que foram encontrados dentro dele. Isso remonta ao final do século XIX e início do século XX quando este pátio era chamado de Patio de la Noria devido à presença deste elemento, um engenho usado para tirar água de poços, rios ou cisternas e que hoje não existe mais. Neste pátio encontra-se também uma belíssima coleção de buganvílias e também diversos objetos arqueológicos e decorativos que foram incorporadas pelos terceiros Marquês de Viana, para enobrecer este espaço, que originalmente era uma área de trabalho.
O Patio de los Jardineros, ou Pátio dos Jardineiros em português, foi agregado ao palácio no século XIX, anteriormente propriedade também da família Torres Cabrera, manteve-se como local de trabalho dos jardineiros, onde guardavam os seus pertences para esta tarefa. O principal foco de atenção neste pátio é a parede coberta de celestita ou jasmim azul: um verdadeiro jardim vertical, esplêndido no verão. Enquanto isso, a parede oposta convida à descoberta de pequenos detalhes que embelezam o conjunto. Vasos de gerânios, aspargos, fitas, capim elefante e centaurea estão distribuídos discretamente pelo espaço para não ofuscar a principal atração daquele espaço, que é a parede de jasmins.
No Patio de los Jardineros, também se destacam os azulejos e antiguidades. O segundo Marquês de Viana, no início do século XX, e a terceira Marquesa de Viana, que viveu no palácio até à década de 1980, incorporaram objetos arqueológicos e decorativos trazidos da fazenda de Moratalla e do homônimo Palácio de Viana de Madri para dar um ar mais majestoso a um estaleiro de trabalho.
O Patio de la Cancela, ou em português Pátio do Portão, recebeu este nome por causa do grande portão de ferro que fecha o único muro aberto para o exterior, que serviu e continua a servir para contemplar o pátio da rua e garantir a segurança. Era o pátio de acesso à antiga casa dos condes de Torres Cabrera, mas quando foi anexado ao Palácio de Viana no século XIX perdeu esta função. As suas origens e alterações deram origem a um pátio diferente, com paredes revestidas de tijolo aparente com varandas em ferro forjado e esquadrias em madeira azul Viana: um conjunto marcante, reforçado pelo piso de porcelana bicolor e a parede revestida a rosa. Um pilar de pedra que era um antigo cocho de cavalos recorda agora a história deste espaço, que albergava a entrada das carruagens, as cavalariças e o celeiro.
Em meados do século XX, os últimos habitantes do palácio procederam a uma profunda remodelação dos pátios que haviam pertencido à casa Torres Cabrera, e que incluem os pátios da Piscina, do Poço, dos Jardineiros e da Capela, assim como o Pátio do Portão. Esses espaços foram adornados com objetos arqueológicos, azulejos, peças decorativas e fontes: uma tendência na moda entre a burguesia do século XIX. Atualmente, o Patio de la Cancela é a entrada do centro de acolhimento de visitantes do Palácio de Viana, recuperando assim a sua função original.
O Patio de la Capilla, ou Pátio da Capela em português, era o pátio principal das casas dos condes de Torres Cabrera, contíguas a Viana e que foram anexadas ao palácio no século XIX. Construído no século XVII possui duas galerias com arcadas, simples e harmoniosas, nas quais foram colocados vários objetos arqueológicos para decorá-la, seguindo a moda do século XIX e início do século XX. O nome deste pátio deve-se à existência de uma capela contígua, que foi deslocada pela III Marquesa de Viana, para onde é hoje a recepção do palácio.
Suas paredes altas deixam entrar pouca luz. Isso faz com que as árvores cítricas que o adornam cresçam alto, buscando o sol e entrelaçando um dossel vegetal com seus galhos que o tornam o pátio mais fresco do Palácio de Viana. No entanto, e por esta razão, não existe uma grande variedade floral, uma vez que a floração é difícil.
O Patio del Archivo, ou em português Pátio do Arquivo, foi construído durante a remodelação barroca realizada durante o século XVIII pela décima primeira proprietária do palácio, a VI Marquesa de Villaseca, que também foi responsável pela reforma do Patio de la Madama. O seu nome deve-se ao arquivo histórico palaciano localizado no mezanino, que abriga mais de 300.000 documentos entre os séculos XII e XX, e que só foi comprado pelo Cajasur em 2000, sendo aberto a pesquisadores.
É o pátio mais interior de Viana e é um exemplo do mais sóbrio barroco de Córdoba. O discreto paisagismo foi pensado para não quebrar a harmonia criada pelas paredes brancas e o conjunto de portas e janelas azuis. Por esta razão, e ao contrário de outros pátios, não há trepadeiras que cubram as paredes. O chafariz central de azulejos dá um toque de cor ao pátio, mas sem estridência ou alteração da função para a qual foi construída: dar luz e tranquilidade ao palácio.
Existe uma programação para visitas guiadas ao Palácio de Viana que é dividida em três áreas: a área de recepção, onde a família mostrou seu poder aos visitantes; o residencial, onde moravam a família e seus convidados, e o das coleções, um verdadeiro museu.
Não é permitido circular livremente pelo palácio e, vendo as obras de arte que guarda, não nos surpreendemos. O que também não é permitido é tirar fotos, embora você possa solicitar uma autorização com antecedência para tirar algumas em grupos.
Maiores informações:
- Endereço: Plaza de Don Gome, 2
- Telefone: +34 957 49 67 41
- Preços:
- Geral (Pátios e Interior do Palácio de Viana): 10€
- Apenas pátios: € 6.
- Entrada livre: menores de 10 anos e pessoas com deficiências.
- Horário:
- De terça a sábado das 10h às 19h
- Domingos e feriados das 10h às 15h00
- Em julho e agosto, nosso horário é de terça a domingo, das 9h às 15h
- Fechado às segundas-feiras. Confira as vagas nos feriados.
Além do Palacio de Viana e do Palacio de la Merced, existem outros palácios belíssimos em Córdoba, como o Palacio de Orive, o Palacio dos Aguayos, o Palacio da Lua, o Palacio do Duque de Medina Sidonia, o Palacio do Marquês de El Carpio, o Palacio do Marquês de Benamejí, entre outros. Dependendo de quanto tempo for ficar na cidade, vale a pena ir visitá-los.
Saindo do Palacio de Viana, nosso caminho vai nos levar ao Templo Romano, já quase fechando o círculo de nosso percurso de volta ao centro. Construído no século I d.C., o Templo Romano de Córdoba é um pedaço da história da cidade e reflete sua importância na etapa romana.
Templo Romano
Durante as obras de ampliação da Prefeitura de Córdoba feitas em 1950, foram descobertos os restos arqueológicos romanos mais bem conservados da cidade. Tratava-se do Templo Romano de Córdoba, um edifício de grandes dimensões formado por seis colunas principais e duas laterais. O templo se encontrava levantado sobre um pódio e em frente às colunas estava o altar. Acredita-se que, junto com o circo, fez parte do fórum provincial. O acesso ao Templo Romano não está permitido, mas suas imponentes colunas são visíveis para todo mundo e ajudam a imaginar o esplendor da época romana.
Não só há capiteis, fustes e outros elementos originais do templo, construído principalmente com mármore. Outros restos encontrados nas escavações estão expostos no Museu Arqueológico de Córdoba. Está previsto que as obras de restauração do acesso interior ao templo terminem em 2019, com o objetivo de criar uma passarela que permita aos visitantes aceder ao templo e um centro de interpretação.
Bem pertinho fica a Plaza de la Corredera que é um dos lugares mais emblemáticos da cidade, pois é a única praça principal quadrangular da Andaluzia e está localizada no bairro histórico de Axerquía.
Acredita-se que até o século XV, a Plaza de la Corredera era uma grande esplanada fora das muralhas da Medina ou cidade alta de Córdoba. Era um lugar simbólico e nela acontecia um mercado que era chamado de "comércio" para a venda de carne e peixe. Em 1478 foi construído o maior açougue de Córdoba e posteriormente em 1526 o imperador Carlos V estabeleceu um mercado semanal na esplanada.
Entre 1683, o prefeito Francisco Ronquillo Briceño, mandou construir um retângulo semi-regular de 113 metros de comprimento e 55 metros de largura e embora a obra deveria ter sido concluída em um ano e meio, algumas áreas não foram concluídas até 1687. As obras consistiram na construção dos corredores das fachadas, bem como das arcadas do rés-do-chão e das varandas nos três restantes patamares. Pretendeu-se embelezar um ambiente arquitetónico irregular, alinhando as suas fachadas e, como dizemos, melhorando a segurança dos espetáculos públicos. As obras, não isentas de grandes dificuldades, ficaram limitadas às suas fachadas por falta de fundos e foram pagas por meio de contribuições econômicas dos próprios vizinhos, festas ou empréstimos. Os donos das casas que davam para a praça, 46% eclesiásticas e 44% nobres, estavam adquirindo os metros de fachada que desejavam para as varandas correspondentes.
Apesar de a praça ter uma morfologia simétrica, foram mantidos dois edifícios anteriores que contrastam com essa uniformidade, o Mercado de Sánchez Peña e as Casas de Doña Ana Jacinto, ambos construídos um século antes da praça.
O edifício conhecido como Mercado de Sánchez Peña foi construído como prisão e casa do prefeito por Juan de Ochoa de Córdoba entre 1583 e 1586 e só foi desativado quando em 1835 quando a prisão foi transferida para o Alcázar de los Reyes Cristianos. Na mesma data, José Sánchez Peña adquiriu o edifício da prisão e instalou uma fábrica de chapéus, que abrigou a primeira máquina a vapor da cidade. Em 5 de abril de 1893, começou a ser construído um prédio no meio da praça, para abrigar o mercado de alimentos da Plaza de la Corredera, sendo inaugurado em 2 de agosto de 1896 e concedido ao filho de Sánchez Peña, José Sánchez Muñoz, para a exploração por cinquenta anos.
As Casas de Ana María Jacinto como são conhecidas, anteriormente eram denominadas "Muralha Branca", por se tratar de uma parede originalmente simples, para a qual se abriram janelas e portas no início do século XVII. Localiza-se no vértice sudoeste da praça e é constituído por três alturas nas quais existem sucessivas filas de pequenas varandas separadas por colunas de fustes lisos e capitéis toscanos.
O seu nome deriva das touradas que se realizavam com certa frequência neste espaço, como durante a visita de Carlos IV em 1796, apesar dele detestar esse tipo de evento e de ser até proibido por lei. Era comum que grandes personalidades, como o rei Felipe IV ou o próprio Cosme de' Medici, presenciassem as grandes touradas realizadas na praça quando em visita à cidade. Há registros que a última tourada foi realizada em 1846, antes da construção da Praça de Touros de Tejares.
No entanto, eram realizados outros tipos de eventos, como atos comemorativos, autos de fé e execuções da Inquisição Espanhola. As celebrações e atos festivos tiveram seu apogeu durante o século XVIII na Plaza de la Corredera, como por exemplo, quando da proclamação do monarca Felipe V em 1700 ou a celebração da paz com a Grã-Bretanha em 1749, entre outros eventos. Mas também, foi era praça que que aconteciam os enforcamentos dos condenados à morte. A última execução realizada na Corredera ocorreu em 1838.
As fachadas, arcos e varandas da Plaza de la Corredera
No início do século XX, a criação da Calle Claudio Marcelo e da Plaza de las Tendillas em 1923 desviou o epicentro comercial para este novo eixo, levando ao declínio de La Corredera.
A concessão administrativa do espaço ocupado pelo mercado da Família Peña expirou em 1956 e dois anos depois o prefeito de Córdoba, Antonio Cruz Conde, aprovou definitivamente a demolição do mercado para construir um no subsolo da praça. Durante a demolição, foram encontrados doze mosaicos romanos e decidiu-se pela remoção dos artefatos históricos e sua restauração e exposição na Sala dos Mosaicos no Alcázar de los Reyes Cristianos.
No final de 1981, a Plaza de la Corredera foi declarada Monumento Histórico-Artístico, fato que levou à criação de um plano especial de proteção e melhoria. Em 1986 iniciaram-se as obras de reabilitação da praça e que só terminaram em 9 de Dezembro de 2001. No dia 21 de maio de 2021, as Casas de Ana María Jacinto estrearam uma nova iluminação na fachada que os visitantes podem modificar em seis cenários de iluminação através de uma aplicação móvel.
Hoje em dia a praça é cercada por apartamentos com varandas, além de cafés e restaurantes.
Saindo da Plaza de la Corredera no sentido de volta à Juderia, vamos passar pelo Barrio de Axerquia antes de chegar nas famosas Callejas del Pañuelo e de las Flores, paradas obrigatórias para quem visita Córdoba.
A primeira que vamos visitar é a Calleja del Pañuelo, cujo nome oficial é Calle de Pedro Jiménez e é uma das ruas mais turísticas da cidade. É considerada a rua mais estreita da capital e uma das mais estreitas do continente europeu. Faz parte do centro histórico de Córdoba que foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1994. Fica muito perto da Mesquita-Catedral e da Calleja de las Flores.
Este conhecido beco de Córdoba recebe o nome dos antigos lenços que os cavalheiros usavam nas lapelas de seus ternos. Pedro Jiménez, nome oficial desta rua, refere-se a um soldado que fazia parte dos conhecidos Tercios de Flanders. Ao que parece, foi ele quem trouxe a casta “Pedro Ximénez”, sendo uma das variedades de uvas mais conhecidas da Andaluzia. Tanto que mesmo nesta rua estreita podemos encontrar de vez em quando a vinha em sua homenagem.
A rua leva a uma praça sem saída, feita na típica pedra arredondada, onde há um chafariz feito em bairro assado com um nicho, que costumava ser decorado com azulejos e com vista para um poço de origem árabe. Pode se ver na pequena rua restos de uma antiga coluna, algumas laranjeiras que dão sombra e casas que pertenceram ao Cabildo.
A pracinha sem saída
E chegando ao final do roteiro, já no Bairro de la Judería, vamos encontrar a famosa Calleja de las Flores. Essa é uma ruazinha sem saída que acaba em uma pequena praça e dela é possível ter uma boa vista para a Torre Campanário de la Mezquita. É toda de casas branquinhas, enfeitadas de flores nas sacadas e nas paredes, e é considerada um dos cartões postais da cidade .
As casas que povoavam a Calleja de las Flores foram gradualmente dando lugar a lojas de souvenirs e outros negócios que se alimentam do turismo, o que de certa forma distorceu sua imagem original. Ainda assim, mantém um charme todo seu e é uma visita imprescindível.
No final do beco há uma pequena praça na qual se destaca a famosa casa nº 2, perfeitamente adornada com dezenas de vasos de flores, cuja fachada não se alterou ao londo dos séculos. A praça é decorada com uma charmosa fonte que, aparentemente, foi feita por Rafael Bernier, ex-morador da praça. Com um formato octogonal, possui uma mureta ideal para quem procura um lugar tranquilo para sentar e descansar. Ao centro, sobre um pequeno pedestal, ergue-se uma coluna com um antigo capitel coríntio, que segundo consta data da época do imperador Adriano.
O beco e a praça existem desde tempos imemoriais, mas seu estado atual se deve a uma reforma realizada em meados do século passado, onde o pavimento existente foi substituído por uma típica calçada cordobesa feita de pedras arredondadas, e também foram dispostos arcos semicirculares que enriqueceram a perspectiva.
Acredito que o melhor horário para visitar a Calleja de las Flores é nas primeiras horas da manhã, no mês de maio, quando as flores enchem a cidade de vida, quando ainda não há a cacofonia e o barulho dos turistas. Enfim, quando eu for, vou tentar visitar a rua nesse horário, nem que seja só por alguns momentos de tranquilidade e sossêgo.
Nono Dia - Juderia, Pátios de Córdoba e Medina Azahara
Vamos começar o dia bem cedo, passeando pelas ruas da Juderia pra visitar o que não conseguimos ver no dia anterior e para podermos ter tempo suficiente para visitar os pátios de Cordoba, cujo horário de visitação começa as 10h.
O bairro judeu é um dos pontos mais interessantes e pitorescos da cidade, e passear sem pressa por suas ruazinhas labirínticas é um passeio imperdível, com fachadas caiadas de branco e varandas floridas. A Judería é o distrito mais antigo de Córdoba e até os dias de hoje é possível ver traços das 3 culturas que coexistiram ali, o que torna a Judería um local único e um dos passeios mais encantadores.
Este bairro é um Patrimônio Mundial da UNESCO, localizado bem no centro da cidade, e se estende desde a Porta de Almodóvar até a Mezquita-Catedral. É um dos melhores lugares para comer e comprar artesanatos e artigos produzidos por artesãos locais. Há muito o que ver em um passeio pela região, que abriga vários dos locais mais turísticos da cidade. Alguns destes locais nós já visitamos nos outros roteiros, como a Sinagoga de Córdoba, a Calleja del Pañuelo e a Calleja de las Flores.
A história da Judería começa com os primeiros assentamentos judeus datados da época dos romanos. Durante o governo de Augusto, começaram a traçar uma muralha para proteger a cidade de ataques externos e a judería começou a ganhar forma.
Depois da conquista de Córdoba pelos muçulmanos em 711, a judería se tornou o núcleo administrativo da cidade e a comunidade hebreia passou a assentar-se na zona norte da medina. Foi apenas no século X que, pouco a pouco, os judeus voltaram a esse distrito.
Na época medieval, judeus, cristãos e muçulmanos coexistiram na juderia, que se tornou o núcleo mais importante de Córdoba. Aqui não só acontecia a vida na cidade, como também nasceram importante filósofos da época, como Averróis e Maimônides.
Mas além das famosas atrações que já visitamos antes, o bairro garante mais algumas ótimas surpresas, como a Capilla Mudéjar de San Bartolomé, la Plaza de Maimônides, El Zoco Municipal, a Casa de Sefarad, a Casa Andalusí, os Baños Árabes, entre outros...
Para ficar mais fácil de percorrer essas atrações fiz um pequeno roteiro como mostra o mapa abaixo.
Mapa da Juderia
Vamos começar visitando a Capilla Mudéjar de San Bartolomé, localizada na Calle Averróis no atual edifício da Faculdade de Letras, e apesar de ser relativamente desconhecida é um dos monumentos mais notáveis da cidade. Com o desenvolvimento do distrito de Alcázar Viejo em 1391 e a posterior expulsão dos judeus de La Judería, a paróquia de San Bartolomé foi estabelecida enquanto uma igreja de mesmo nome foi construída entre 1399 e 1410. O pequeno edifício continuou a exercer as funções de paróquia até o início do século XVII, possivelmente aguardando a conclusão de uma igreja maior.
O complexo, que sofreu vários acréscimos ao longo da sua longa história, teve restaurações completas em 1953 e 2006, e constitui um belíssimo exemplo da estética gótico-mudéjar. Ocupa uma área de proporções quase quadradas, dividida em dois setores, um correspondente à própria capela e outro ao pátio. As paredes internas são ricamente decoradas com gesso e azulejos yeseria, enquanto o piso também é decorado com azulejos alternados. As decorações de parede combinam representações de plantas, padrões geométricos e heráldica.
Bem pertinho da Capilla Muldéjar de San Bartolomé fica a Plaza de Maimônides, localizada na confluência de três ruas: Calles Judíos, Tomás Conde e Cardenal Salazar.
Deve seu nome ao filósofo árabe Maimônides que nasceu e viveu em Córdoba no século XII, embora também se chamasse Plaza de las Bulas, em homenagem à casa de mesmo nome, que se tornou museu em 1954.
Foi um importante lugar de encontro dos moradores na época medieval e hoje abriga o Museu Taurino de Córdoba e também se destaca a fachada do bucólico Hotel Amistad.
O El Zoco Municipal de los Artesanos é um pátio aberto que conserva a tradição aos longos dos anos e conta com oficinas de artesãos locais que trabalham a cerâmica e o couro, o melhor lugar para comprar produtos típicos. É um dos pátios de Córdoba abertos ao público mais visitados na cidade. Seu nome deriva da palavra árabe suq, que significa mercado e originou a palavra castelhana zoco. E talvez para continuar a manter o aspecto ancestral do mercado, decidiu-se criar um local nas imediações da mesquita, para promover o artesanato tradicional cordobes.
Assim, o local escolhido foi atrás do Museu Taurino, em frente à pequena Plaza de Tiberíades. Em 1954, o prefeito Antonio Cruz Conde inaugurou El Zoco Municipal, construído nos jardins da original Casa de las Bulas. Trata-se de uma casa senhorial de reminiscência mudéjar do século XVI, em que se destacam um pátio, contíguo à fachada, uma loggia ou galeria coberta, aberta para o exterior e uma galeria de dois pisos. O complexo foi declarado Imóvel de Interesse Cultural no Plano Geral de Bens Culturais.
Seguindo em frente, bem pertinho do El Zoco Municipal, fica a Casa de Sefarad, um edifício do século XIV que busca a divulgação do legado judeu na Espanha. Sefarad é o termo usado para se referir aos descendentes de judeus originários de Portugal e Espanha. Foi inaugurada em 2006 e está localizada em uma antiga casa judia do século XIV, e se tornou um museu, de propriedade privada, sobre cultura, história e tradição sefarditas. Em suas diferentes salas se representam os principais aspectos da vida pública e privada hebraica, através de maquetes e objetos originais.
A Casa de Sefarad oferece uma viagem através do tempo para entender como era a vida doméstica, as festas, a música judia e o papel das mulheres judias em al-Ándalus. Além de mostrar detalhes da cultura sefardita, a casa oferece concertos de música hebraica e exposições culturais. Tem uma exposição permanente e uma biblioteca especializada e há visitas guiadas acompanhadas de oficinas de música sefardita, bem como diversas atividades culturais como concertos, recitais literários e apresentações de revistas.
O museu está estruturado em nove salas, mas as mais impressionantes são: a Sala da Vida Doméstica, que contém objetos relacionados à vida doméstica: artesanato, culinária, casamentos e circuncisão; a Sala de Música, dedicada à música e à linguagem sefardita; a Sala de las Mujeres de Al-Andalus que contém uma coleção pictórica de José Luis Muñoz de Córdoba dedicada às mulheres judias, muçulmanas e cristãs de al-Andalus; ou a Sala da Judiaria de Córdoba dedicada à história da judiaria e seus habitantes mais conhecidos.
Há também outras salas que fazem parte do percurso do museu como a Sala dos Ciclos Festivos que contém objetos usados nas festividades sefarditas; a Sala da Sinagoga que contém diferentes elementos litúrgicos da religião e cultura judaica; a Sala de Línguas que trata da língua desenvolvida pelos judeus sefarditas, judaico-espanhol ou ladino; a Sala Maimônides dedicada à vida e obra deste filósofo, médico e rabino nascido em Córdoba e por fim a Sala da Inquisição que apresenta um excelente acervo documental e de obras originais dos séculos XV a XIX.
Sala das Mujeres de Al-Andalus | Detalhes | |
Maiores informações:
- Endereço: Calle Judíos, s/n
- Telefone: +34 957 42 14 04
- Horário:De segunda a sábado, das 10:00 às 19:00 horas.Domingos e feriados, das 11:00 às 18:00 horas.
- Preços:
- Adultos: €4 (R$21,20)
- Entrada reduzida: €3 (R$16)
Um pouco mais a frente fica a Casa Andalusí, o cenário perfeito para entender como eram as residências em al-Ándalus e entender o estilo de vida mourisco. A casa se divide em vários ambientes que combinam decoração e detalhes árabes com toques andaluzes, criando um espaço cheio de simbolismo.
Nessa cada mudéjar, reflexo da Córdoba do século XII, é permitido visitar a sala principal, a cozinha, os dormitórios e o pátio, a parte mais chamativa da Casa Andalusí. Se destacam a exuberante vegetação do pátio e as flores dos corredores.
Além disso, na entrada da casa é possível contemplar uma coleção de moedas antigas que datam da época andalusí. E em uma das dependências da Casa Andalusí fica o Museu de Papel, que através de vários utensílios, uma maquete recria o processo de elaboração desse material durante a etapa andalusí.
Maiores informações:
- Endereço: Calle Judíos, 12
- Horário: Todos os dias, das 10:00 às 20:00 horas.
- Preço: Adultos: €4 (R$21,40)
Pra finalizar o passeio pela Juderia, você pode chegar até a Plaza Ángel de Torres localizada no coração do bairro. É acessada pela estreita Calle Fernández Ruano. Mais conhecida como Plaza del Indiano por causa da cobertura da Casa del Indiano, agora convertida em apartamentos. No centro da praça há uma fonte retangular de mármore branco, cuja bica está localizada no centro. A praça leva o nome de Ángel de Torres Gómez, um antigo prefeito de Córdoba.
Os chamados Pátios de Córdoba são encontrados principalmente no bairro de San Basilio e também nos bairros de Santa Marina, San Lorenzo, La Magdalena e no bairro judeu da cidade. Os Pátios de Córdoba vivem seu máximo esplendor na primeira quinzena de maio de cada ano com o Festival dos Pátios Cordobenses quando os proprietários de todos os pátios participantes do concurso abrem seus pátios e o público pode visitá-los.
O que muitos não sabem é que é possível visitar os Pátios de Córdoba durante todo o ano, inclusive fora das datas do Festival que é quando melhor se podem ver, porque não estão tão saturados de público. Assim, se você decidir vir em qualquer outra época, encontrará várias opções para visitá-los, como as mencionadas abaixo. Como a maioria dos pátios com entrada gratuita ou dos pátios participantes do Festival estão abertos das 10 às 14 horas, esse horário devemos estar nas proximidades, logo depois de passear pela Juderia.
Como já citamos no roteiro do sétimo dia, o próprio Palacio de Viana abre durante todo o ano para o turista poder visitar os doze magníficos pátios e o fantástico jardim. As diferentes espécies florais decoram e perfumam cada recanto do bombástico museu.
Existem também alguns pátios com acesso gratuito localizados na Calle San Basilio, nº 44 y nº 20 e também na mesma Calle San Basilio nº 17.
- De segunda a sábado:
- 10:30 às 14:00 ( nº 44 y nº 20)
- 11:00 às 14:00 (Martes y Miércoles cerrado Nº17)
- Domingos e feriados:
- 10:30 às 14:00 (nº 44 y 20)
- 11:00 às 14:00 (nº 17)
E existem também um grande número de operadores turísticos que oferecem visitas-guiadas mesmo fora dos horários e das datas do Festival dos Pátios. Existe igualmente uma excelente seleção de percursos por onde escolher dependendo do que queira gastar, do tempo que tem disponível, e do tamanho do seu grupo. A maioria das visitas turísticas duram cerca de duas horas e acontecem entre os meses de março e junho. Os preços variam ligeiramente entre os 10€ e 20€ para adultos, e abaixo dos 10€ para crianças. Para saber mais pesquise nos links abaixo:
- https://www.cordobapie.es/tour/visita-guiada-por-patios-de-cordoba/
- https://www.cordobaviva.com/ES/actividad/especial-patios-de-cordoba/697/2184 (passeio inicia às 10h)
- http://www.cordobaintour.com/#
- https://owaytours.com/cordoba/visita-guiada-patios-cordoba
- https://www.tudosobrecordoba.com/atividades/visita-guiada-patios-cordoba
Mas o melhor dos Pátios de Córdoba é quando eles vivem seu máximo esplendor na primeira quinzena de maio de cada ano, com o Festival dos Pátios de Córdoba, conhecido em espanhol como “La Fiesta de los Patios Cordobeses” quando os proprietários de todos os pátios participantes do concurso abrem seus pátios e o público pode visitá-los.
O Festival dos Pátios de Córdoba acontece todos os anos e faz parte de uma longa tradição da cidade. Desde o primeiro evento em 1918 que celebrava os pátios, passou-se a assistir a um interesse crescente entre os habitantes de Córdoba em cultivar e cuidar dos seus próprios jardins privados diariamente. Estes pátios secretos são propriedade privada, escondidos atrás de portões, portas e muros que os separam do resto da cidade. Mas nem por isso deixam de mostrar sua exuberância, quando durante esse período no ano, os portões destas casas são abertas para o público possa ver os pátios e desfrutar das suas flores, plantas e arquitetura.
As horas de funcionamento do festival costumam ser as mesmas todos os anos. Durante a semana das festas, os pátios podem ser visitados todos os dias entre as 11h e às 14h, e entre as 18h e as 22h. Todos os pátios são de entrada livre, mas pedem-se donativos que ficam ao critério de cada visitante, para apoiar o trabalho árduo dos proprietários de tanta riqueza verde e florida.
Quem vem especificamente nesta época do ano pode começar a percorrer os caminhos dos pátios, iniciando com uma visita ao Palacio de Viana como já explicamos no roteiro de sétimo dia.
Os bairros de San Basilio e da Juderia são ideais para se iniciar este roteiro turístico dedicado à exploração dos pátios. A quantidade de pátios em concurso muda todos os anos e por isso também as rotas turísticas vão variando. Pode-se encontrar um mapa interativo com todos os percursos recomendados no website da Puerta de los Patios (http://puertadelospatios.com/es) ou fazendo o download do aplicativo para o seu celular diretamente da app store. Este website é atualizado todos os anos com as novas rotas e todos os pátios de visita livre, por isso é uma ferramenta indispensável a ter sempre em consideração durante um dia de visita aos pátios de Córdoba.
Os pátios são um paraíso floral, em que cada espaço está ocupado por vasos de plantas que podem ser castanhos, azuis ou verdes e de onde irrompem flores de todas as cores, formas e feitios. As folhagens espetacularmente verdes acentuam as explosões coloridas das flores em vermelhos brilhantes, violetas escuras, azuis saturados e vibrantes tons de rosa, sem contudo esmaecer alguns suaves tons pastéis e dégradés.
Os pátios também se enchem de ornamentos ecléticos e mil decorações como pequenos motivos de água, ferramentas antigas de jardinagem, arte visual e estatuetas de San Raphael, o santo patrono dos pátios.
A História dos Pátios de Córdoba data dos tempos romanos. A cidade está localizada numa parte do país onde as temperaturas são extremas, e é por isso que os pátios necessitavam de cuidados permanentes o ano inteiro. Esta não era tarefa fácil, considerando que em Córdoba as temperaturas nos dias de verão costumam ultrapassar os 40ºC, sendo que as noites geladas não são de todo incomuns.
Para compensar os desafios deste clima duro, os romanos, e mais tarde os muçulmanos, construíram casas com algumas particularidades, incorporando pátios no centro de um complexo habitacional. Estes jardins eram frescos, davam sombra a espaços interiores onde as famílias se juntavam para fugir do calor do verão e aproveitarem as gotas de orvalho que pudessem cair. Entretanto, foram os muçulmanos que revolucionaram todo o processo de criar pátios e espaços interiores relaxantes, introduzindo os elementos de água e da plantação de flores nos pátios, com o propósito de aumentar o sentimento de frescura e tranquilidade, o que funcioou bastante bem, já que as temperaturas dentro de alguns dos pátios se situam entre os 10ºC e os 15ºC, o que é uma grande diferença quando consideramos as temperaturas nas ruas durante os meses de verão.
Outra herança que os povos muçulmanos trouxeram com a criação destes relaxantes e refrescantes pátios foi que se atribui a estes espaços um certo elemento social pois os pátios não eram apenas um lugar de beleza e tranquilidade, mas também um espaço onde as pessoas podiam se reunir e socializar.
O Festival dos Pátios é também uma competição bastante disputada, conhecido como o “Concurso Municipal de los Patios de Córdoba”, e os prémios atribuídos aos vencedores são bastante apetitosos.
O Festival dos Pátios foi organizado pela primeira vez pelo município de Córdoba em 1918, e a sua primeira competição viria a acontecer em 1921. O lado competitivo do festival foi implementado como um incentivo para preservar a tradição, sendo que ao longo dos anos foi atribuído apoio financeiro aos participantes para garantir que esta prática de cuidar dos pátios da cidade se mantinha. O Festival foi suspenso por três anos durante a Guerra Civil Espanhola, mas desde então que tem vindo a crescer ano após ano.
São atribuídas duas distinções aos pátios mais belos nos seus ornamentos florais e também pelos cuidados na sua construção. Uma das distinções pretende celebrar a “arquitetura antiga”, enquanto a outra é destinada à “arquitetura moderna”.
Durante o festival, a maioria dos pátios enche-se dos sons das performances de flamenco tradicional, e há também uma enorme variedade de vinhos e de tapas que se oferecem aos visitantes. Córdoba atrai em maio alguns dos maiores nomes do Flamenco, com concertos privados e festas em quase todos os cantos da cidade.
O Festival dos Pátios de Córdoba foi acrescentado à lista da UNESCO dos Bens Culturais Intangíveis em 2012, o qual precedeu o Festival das Fallas de Valência em 2016. Essa lista da Unesco foi estabelecida em 2008 e pretende salvaguardar as “expressões vivas e as tradições contemporâneas de vários grupos e comunidades no mundo que resultaram da herança dos seus antepassados e que serão transmitidos aos descendentes”. A Espanha tem um total de 45 locais que são Herança Mundial para a UNESCO, assim como 16 práticas culturais que figuram na lista dos Bens Culturais Intangíveis desta entidade.
E já que estamos falando de eventos e do mês de maio é preciso dizer que este é um grande mês em Córdoba. Além do festival dos Patios de Córdoba existem três eventos magníficos que acontecem neste mês, como as celebrações do Cruces de Mayo, que em português seria o Festival das Cruzes, que trazem os residentes de Córdoba para uma competição onde se disputam as melhores cruzes decoradas com flores. Há também uma procissão com carros alegóricos cobertos de flores conhecida como La Batalla de las Flores. E por fim a Feria de Córdoba, durante a qual os visitantes e os habitantes locais dançam pela noite fora ao som de musica tradicional flamenca e desfrutam de uma atmosfera festiva.
Não há melhor maneira para receber a Primavera do que com flores, aromas, luzes e muita vida!
Depois do nosso passeio pelos Pátios de Córdoba, é hora de dizer adeus a essa linda e florida cidade que mesmo sem conhecer ainda, já sou completamente apaixonada.
É hora de seguir viagem com destino a Sevilha, mas antes uma pequena parada para conhecer a Medina Azahara que fica a 20minutos de Córdoba, no caminho para Sevilha.
Como a página sobre Córdoba está enorme, resolvi fazer uma página só para a medina. Para saber tudo sobre a Medina Azahara é só clicar aqui!!!
- Cerâmica: as vasilhas, tigelas e jarras são alguns dos produtos típicos de Córdoba e refletem perfeitamente as raízes muçulmanas da cidade. São feitos de argila de grande qualidade e decorados com motivos árabes de cores vivas.
- Produtos de couro: Na Judería, você encontrará diversas oficinas familiares especializadas em produtos de couro de cabra e couro adobado e adornado com pintura ou relevo, as duas técnicas mais usadas em Córdoba. Os motivos que decoram o couro lembram a arte muçulmana.
- Ourivesaria: A filigrana cordobesa é um dos trabalhos mais tradicionais da cidade. Trata-se da soldagem de fios de ouro e prata em figuras de metal para formar uma figura. Na judería, você também encontrará lojas especializadas em objetos de ouro e prata.
- Gastronomia: Se você quer ter uma boa lembrança gastronômica, nada como os produtos típicos de Córdoba: jamón de bolota de Los Pedroches, embutidos ibéricos e azeite de oliva.
Foto das cerâmicas de Córdoba
Observação: Existem algumas ruas e zonas bem comerciais onde você pode encontrar os artefatos tradicionais de Córdoba. O bairro judeu é uma das melhores zonas para fazer compras em Córdoba. Nas labirínticas ruas desse distrito, você encontrará lojas de souvenires, lojas especializadas em bijuteria de todo tipo e pequenos comércios artesanais. Já a Calle Conde de Gondomar, que foi uma das primeiras vias urbanas que se tornou exclusiva para pedestres abriga diversas lojas de roupa e se tornou a rua comercial mais importante de Córdoba. A Calle José Cruz Conde nasce na Plaza de las Tendillas é uma boa opção para fazer compras em Córdoba sem se afastar do centro da cidade. Abriga diversas lojas de roupas, complementos e bijuteria.
Na região do centro histórico ficam alguns bares e restaurantes com boa indicações na internet, então fiz um mapa com as localizações dos que foram citados abaixo, para a gente ter uma opção bem legal, dependendo do local onde a gente estiver na hora que bater aquela fome!!! No mapa deixei só os restaurantes que ficam na região central de Córdoba e também as casas de shows de flamenco.
Mapa de alguns restaurantes bem famosos de Cordoba
O prato típico de Córdoba é o Salmorejo, uma espécie de sopa fria de tomate com pão, azeite de oliva, alho e acompanhado de ovo cozido e presunto. É um prato típico de verão, mas pode ser encontrado o ano todo nos restaurantes cordobeses. Inclusive, existe desde 2008, uma Confraria Gastronómica Salmorejo Cordobésque que nasceu para promover este prato típico e em 24 de abril comemora-se o Dia do Salmorejo Cordobés. Um dos melhores restaurantes para provar o Salmorejo é a Taberna Restaurante La Fragua (endereço abaixo).
Outro prato típico de Córdoba é o Flamenquín, um filé de lombo de porco enrolado sobre presunto e frito com ovo e farinha que você pode provar em três restaurantes super bem recomendados pelos internautas, na Taberna La Montillana, no Café Bar Hermanos Bonillo ou na La Bodeguilla de Cañero.
Um prato que eu fiquei doida para experimentar são as Berinjela com Mel, fatias de berinjela fritas com azeite de oliva e cobertas com mel de cana. Eu simplesmente amo berinjelas!!! Pelas minhas pesquisas descobri que a melhor é servida na La Cazuela de la Esparteria, onde você também pode experimentar o Rabo de Touro, que é um prato refogado feito do rabo de touro acompanhado por molho denso e batata cozida.
A culinária cordobesa é bem rica e você pode provar ainda as Anchovas em Vinagre, marinadas em vinagre com alho e salsinha; ou a Japuta Marinada, que é o peixe chaputa marinado, cortado em pedaços e servido com alho, cominho e vinagre; ou o Jamón Ibérico, que é um prato servido com jamón, lombo e salchichón. Não deixe de provar o Bolo Cordobês, que é uma torta folhada recheada de cidra, cabelo de anjo e, às vezes, jamón serrano. É a sobremesa tradicional das festas de San Rafael.
Para os birinights, arrisque um Fiti-Fiti, que é uma mistura de vinho doce e vinho branco cujo nome vem do termo inglês “fifty-fifty”, o Rebujito que é feita com a mistura de vinho manzanilla com refrigerantes como Sprite ou água com gás. E é claro, não deixe de saborear os Vinhos de Córdoba, já que a tradição vinícola faz dessa cidade andaluza uma terra rica em vinhos de todos os tipos. Os vinhos de Córdoba mais famosos são Pedro Ximénez, Fino Cordobés, Casa Villa-Zeballos ou Montilla-Morilles.
Endereços:
- Taberna Restaurante La Fragua: Calleja del Arco, 2 - Telefone: +34 957 48 45 72
- La Cazuela de la Esparteria: Calle Rodriguez Marin, 16 - Telefone: +34 957 48 89 52
- Taberna La Montillana: Calle San Álvaro, 5 - Telefone: +34 957 47 95 18
- Café Bar Hermanos Bonillo: Calle Sagunto, 27 - Telefone: +34 957 25 08 18
- La Bodeguilla de Cañero: Calle Funcionario Lázaro Navajas, 41 - Telefone: +34 957 43 63 22
- Taberna Casa Pedro Ximénez: Calle Deanes, 10 - Telefone: +34 687 74 57 49
- El Rincon de Carmen: Calle Romero, 4 - Telefone: +34 957 29 10 55
- Restaurante La Taberna de Almodóvar: Calle de Benito Perez Galdos, 1 - Telefone: +34 957 94 03 33
- Restaurante Sociedad Plateros Maria Auxiliadora: Calle de Maria Auxiliadora, 25
(a 8 minutos del Ayuntamiento de Córdoba) - Telefone: +34 617 03 63 68
- Taberna La Alqueria: Calle de Enrique Romero de Torres, 3 - Telefone: +34 957 48 08 77
- Amaltea: Ronda Isasa, 10 - Telefone: +34 657 75 75 98
- El Patio Andaluz: Calle Velazquez Bosco, 4 - Telefone: +34 957 47 32 74
- Mercado Victoria: Parque de la Victoria, s/n
Córdoba é uma cidade com vários eventos durante o ano inteiro e em minhas pesquisas encontrei uma planilha em PDF no site Turismo em Córdoba que contém todos os eventos atualizada anualmente. Inclusive com os horários de abertura das atrações turísticas e os dados de localização e valores dos ingressos.
À noite, se você ainda tiver forças, pode ir ver um show de flamenco. Há dois excelentes espetáculos code dança flamenca no centro de Córdoba, assim fica mais fácil o acesso:
- Tablao Flamenco El Cardenal
Endereço: C. Buen Pastor, 2
Telefone: +34 691 21 79 22
- Taberna Patio de la Judería (Restaurante com Show de Flamenco)
Endereço: C. Conde y Luque, 6
Telefone: +34 957 48 78 61
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